A chegada de um novo ano, para alguns, é o momento aproveitado para um balanço, quase sempre melancólico e introspectivo sobre aquele que acaba de terminar. Um balanço onde muitos tentam perceber os erros que cometeram, ou que ajudaram a cometer, para os não voltar a repetir naquele que acaba de se iniciar.
Não é o caso, obviamente, do regime de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos que, como se sabe, não comete erros e não ajuda a cometer erros. Daí a justa designação de ele ser o “escolhido de Deus”.
Para outros, como nós, o desfolhar de um novo calendário é o momento aproveitado para perspectivar o que fazer no futuro imediato e, simultaneamente, para proceder a um quase secreto elencar de desejos, uma espécie de elaboração de agenda para melhor poder fazer frente aos desafios que se avizinham, pondo sempre em primeiro a luta para que Angola seja um dias destes uma democracia e um Estado de Direito. Não será fácil, mas é possível.
É evidente que há aqueles, mais “torturados” pelas amarguras da vida que, mesmo perspectivando o futuro, não conseguem esquecer o passado – mesmo que recente – e fazem dele um fardo tão pesado que muitas vezes os impede de caminhar para a frente, de forma erecta com o positivismo que se exige a quem tem confiança que o seu santo protector, patrão e patrono seja eterno.
Para 2017, ano de grandes desafios que exigem de todos nós tudo o que de melhor possamos dar, os desejos são muitos e muitos deles, sabemos bem, não serão satisfeitos, por uma ou por outra razão. Ou seja, porque a razão da força do regime impede o triunfo da força da razão do Povo.
Um desses desejos, talvez o que mais impacto poderá ter no futuro imediato de Angola, é o de que o percurso que há 41 anos falta cumprir (Estado de Direito democrático) tenha este ano os primeiros indícios.
Um outro desejo tem a ver com a necessidade das diferentes instituições agirem de acordo com a lei (algo que nunca aconteceu), respeitando-a plenamente para que a palavra “cidadania” tenha o devido valor civilizacional. Não se pode continuar a assistir ao descaso das escolas públicas de Luanda continuarem a abusar do cidadão que, desconhecendo a lei ou não tendo outras alternativas viáveis, se vê constrangido a pagar aquilo que lhe deveria ser oferecido gratuitamente.
A justiça angolana ainda não deu (pelo contrário) suficientes provas de maturidade, de competência e de independência política, o que nos leva a acreditar, sem qualquer hesitação, de que continuará a desempenhar o seu papel de modo domesticado e canino, mesmo sabendo que isso contraria os princípios da verdade e da legalidade.
Também gostaríamos que, em 2017, o discurso político do regime/MPLA fosse mais inclusivo, sobretudo porque é uma organização (na prática é mais uma seita) que domina o país há 41 anos. Não vai acontecer, é certo. O seu principal argumentário baseia-se na imposição da única lei que conhecem: quero, posso e mando.
Gostaríamos, também, que o ano de 2017 desse frutos (mesmo que ainda embrionários) no sentido de se apostar na diversificação da economia nacional, uma vez que essa é uma condição incontornável para combater a crise que nos entrou pelo país dentro. É, aliás, uma estratégia defendida há décadas por quem usa a cabeça para… pensar.
Ainda para 2017 seria bom que, de uma vez por todas, a miserável imprensa do regime entendesse que Angola não é mas quer ser um país democrático e um Estado de Direito e que, como tal, não tem todo o direito de usar o dinheiro público para satisfazer a vontade canibalesca e ditatorial de um presidente nunca nominalmente eleito e que está no poder há 37 anos.
Neste aspecto, o império mediático do MPLA tem-se mostrado particularmente atento, não perdendo uma oportunidade de chamar os seus habituais sipaios, mercenários e similares eunucos para falar de uma Angola que não existe e de uma democracia que morreu antes de nascer.
É tempo daqueles que trabalham para sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, e que são pagos com o dinheiro roubado aos angolanos, perceberem que, por muito que tentem e se esforcem, Angola deixará um dia de ser um reino esclavagista.
É evidente que o Povo angolano não têm nada a ver com aquilo que é o sonho, a vontade e a prática neocolonialista que o MPLA leva a cabo, há 41 anos, sobre Angola.
O ano de 2016 já acabou, dando lugar a um 2017 que se abre cheio de esperança para um país que, apesar de ter um passado de luta, parece não estar preparado para vencer os desafios do futuro, começando pelo fim da monarquia que se mantém no poder graças à corrupção, ao nepotismo e à repressão.