Está consumado! Como de antemão sabíamos, as eleições foram mais uma simulação onde se gastou imenso dinheiro. O país está na bancarrota, e o povo, como sempre, é quem mais sente o peso da crise criminosamente originada pelo longínquo governo.
Por Sedrick de Carvalho
Como dissemos no artigo “A coisificação do povo angolano”, aqui publicado em 7 de Abril, a população foi mesmo arrastada aos comícios por partidos políticos num processo de arrastamento que serve apenas interesses eleitoralistas. Um autêntico negócio eleitoral.
A transumância humana terminou e quem sairá beneficiado deste processo todo, para além do quase eterno governo, serão as cúpulas dos partidos políticos na oposição.
Os partidos políticos na oposição realizaram uma conferência de imprensa conjunta onde declararam em comunicado que as eleições foram fraudulentas e que, em consequência, iriam recorrer ao Tribunal Constitucional exigindo a impugnação do processo. Como era óbvio, todos os recursos foram julgados improcedentes.
Como não há mal que não possa ficar pior, segundo a lei de Edward Murphy, dois dos quatro reclamantes não viram apenas os seus argumentos jogados ao lixo, como foram apontados como falsificadores e ladrões de documentos.
Comecemos por esse acto. Em psicanálise há uma teoria denominada “Transferência”. Criada por Sigmund Freud, o considerado pai da referida área da psicologia, essa teoria explica que transferência é quando o sujeito envolve o analista em seu processo de análise, e pode dividir-se em transferência positiva e negativa.
Vejamos. Quando um ladrão chama a outra pessoa que aparentemente não roubou, estamos perante uma transferência negativa. Ou seja, o ladrão projecta para outra pessoa a sua característica.
A teoria freudiana aponta esse comportamento como uma acção inconsciente. Porém, ela pode ocorrer conscientemente quando quem recorre ao método tem clara intenção de manipular os factos.
No caso do Tribunal Constitucional, sobejamente conhecido como uma célula do MPLA, ao ter dito que tanto o Partido de Renovação Social (PRS) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) falsificaram actas sínteses e roubaram documentos, estamos perante uma transferência propositada cujo acusador original é quem controla o referido tribunal – o MPLA. E não é difícil perceber que são gatunos a acusarem os outros de gatunos, sendo que os juízes que emitem a sentença não têm competência legal para o fazer por estarem com os mandatos expirados.
Avancemos. A decisão de impugnação geral era esperada, como aconteceu. Desta forma, era suposto que os partidos políticos na oposição tivessem planos subsequentes. Nem 24 horas passaram desde o anúncio de que os resultados declarados pela CNE são definitivos e já uma organização política apressou-se em garantir que vai tomar posse. Trata-se da coligação CASA.
– E os planos subsequentes? – pergunta um eleitor.
– Não temos. Vamos tomar posse mesmo – alguém da coligação talvez responda.
Estranhamente, essa coligação nem foi ameaçada de processo criminal. Agora passemos para os que correm riscos de serem levados ao tribunal.
Ameaçar partidos na oposição de responderem a processos-crimes é um golpe que reforça a expressão “quem manda aqui somos nós”. É a ditadura a mostrar que é mesmo ditadura. Esses processos são autênticas armadilhas e os visados foram escolhidos cuidadosamente.
Como vimos, a CASA-CE rapidamente correu para os lugares fraudulentamente atribuídos. Talvez o MPLA já soubesse que assim agiria. O PRS, partido que tem a sua base de apoio nas regiões diamantíferas, zonas em que, doravante, os conflitos entre populares e forças governamentais vai intensificar, e a UNITA, organização com um longo historial militar e com maior capacidade de mobilização, têm agora as cabeças dos chefes a prémio e a única hipótese de escapar é com imunidades. Daí as armadilhas. A chantagem. Se tomarem posse, o MPLA não levanta as imunidades e deixa-os comodamente nos lugares parlamentares e a usufruir de outros benefícios.
Talvez na linha do presidente da coligação, os outros partidos também dirão que “a miséria vai aumentar, o sofrimento também e a corrupção não vai acabar. Serão cinco anos de aflição”, e mesmo assim vão tomar posse num parlamento de fachada e igualmente dirão que “vamos trabalhar para contornar a situação nos próximos tempos”.
Atenção! A miséria e corrupção vão aumentar, realmente, mas não serão os chefes destes partidos e que agora vão usufruir do dinheiro público quem sofrerá, pelo que usar esse discurso demagógico é vergonhoso e ofensivo quando nem conseguiram negar as viaturas luxuosas que valem vidas angolanas. E podem dizer se mais valeu gastarem tanto dinheiro em campanha fraudulenta, com bandeiras e camisolas quando a população morre por fome? Estupidez! Pura e dura estupidez.
Como em 2012, tudo corre como previsto. E esta continuidade reforça as palavras do ditador camaronês Paul Biya quando disse que os partidos na oposição são também da situação. Entre a credibilidade política e os interesses financeiros, claramente sabemos de que lado estão os que tomam posse num parlamento sem legitimidade democrática.
Tanta falta de coerência e verticalidade.