A arte de bem bajular

Novembro de 2008. A banca angolana de jornais ia passar a contar com um novo título, O País, que prometia ser “imparcial e rigoroso” no tratamento das notícias, A garantia foi dada no lançamento, em Luanda, pelo respectivo director, Luís Fernando.

Por Orlando Castro

“I mparcial e rigoroso”? Não estava mal. Aliás, perguntámos na altura, quem melhor do que o Luís Fernando, um jornalista que leva ao fanatismo o seu amor (ou seria outra coisa?) pelo MPLA, para dirigir um semanário “imparcial e rigoroso”? Sim, quem?

Numa cerimónia curta, realizada em Talatona, e em que esteve presente (como não poderia deixar de ser) o vice-ministro da Comunicação Social, Miguel Wadjimbi, Luís Fernando prometeu “imparcialidade e rigor no tratamento da notícia”.

Aliás, a “imparcialidade e rigor” são a coluna vertebral do manual do MPLA, o único admissível num país (eu sei que há outros) que continua a confundir as esquinas da vida com a vida nas esquinas.

Luís Fernando, que já fora director do diário estatal, órgão oficial do MPLA, Jornal de Angola, destacou ainda o empenho da redacção, que integra jornalistas portugueses e angolanos, alguns destes recrutados noutros títulos da imprensa angolana.

Empenho é, aliás, coisa que não falta a todos aqueles que em Angola, como noutros países, precisam de se descalçar para contarem até 12. Empenho, subserviência e clientelismo que, mais uma vez, vai prostituir o Jornalismo e amamentar todos aqueles parasitas que, em vez de darem voz a quem a não tem (isso é que é Jornalismo), vão ampliar os latidos dos donos, dos chefes e similares. Isto foi escrito em Novembro de 2008.

“O semanário O País vai ser um jornal de referência na imprensa angolana”, garantiu Luís Fernando. Como então escrevemos, “cá estamos, sentados, para ver se, mais uma vez, referência não vai rimar com subserviência… e muitos dólares.”

Rimou e de que maneira.

Mais recentemente, em 4 de Junho de 2017, o nosso colega Domingos Kambunji, escreveu aqui no Folha 8:

“O Luís Fernando, mascarado de jornalista, acusou um partido da oposição de ter dado um tiro no pé, por ter convocado uma manifestação contra as falcatruas na organização da próxima eleição. Percebemos perfeitamente porque ele demonstrou, num longo artigo, estranhar essa forma de actuar.

Ele está muito habituado a ver o seu MPLA atirar a matar. Infelizmente são muitíssimos os exemplos que provam essa maneira do MPLA se manifestar, o que o Luís Fernando continua a apoiar.

O governo fica muito agradecido com os desabafos deste tipo de bonecos de trapos. A ditadura até lhes atribui prémios cabeça de Maboque para homenagear este tipo de seres de cabeça com casca dura, onde há muita dificuldade de penetração das correntes de pensamento mais inteligentes da nossa civilização.

No ano de 2017, o Prémio Pulitzer foi atribuído a um jornalista do Washington Post, David Fahrenthold, daqueles a sério, não como o Luís Fernando. O laureado foi homenageado pela sua elevada inteligência na investigação da corrupção na governação. Desmascarou a tentativa de Donald Trump abifar kumbu, como faz e fez em Angola o Zédu.

Este jornalista do Washinghton Post, se vivesse em Angola seria condenado por pertencer a uma organização de malfeitores ou por traição à Educação Patriótica do MPLA. Ou, quem sabe, acabaria por chocar acidentalmente contra uma bala do General Wala.

O Luís Fernando sabe que, em Angola, a felicidade conquista-se com movimentações intelectuais horizontais, a rastejar, criticando a verticalidade e a honestidade.

Formado em jornalismo em Cuba, que mais se poderá esperar do Luís Fernando senão obedecer às ordens superiores para rastejar e bajular?

O jornalista do Washington Post, que referimos anteriormente, revela uma elevada capacidade para investigar e pensar. O Luís Fernando só é capaz de ruminar e, protegido pelos generais do governo angolano, produzir um elevado volume de gás metano.

O Luís Fernando, por cá, tem o futuro garantido até o governo do MPLA ficar irreversivelmente apodrecido. Pouco adiantam as “bocassas” muito frequentes, repetitivas e pouco originais, do Malandro, o Loló, porque o futuro não terá dó deste e de outros Luíses Fernandos.

A comunicação social avança com jornalistas inteligentes, competentes. O Luís Fernando abana, abana mas não convence com a sua formatação em Havana.

Os boçais pensam que o Luís Fernando tem elevadas capacidades intelectuais. Deles é, mas não será por muito tempo, o reino dos… servos de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos.”.

Neste contexto, registe-se que o prolixo bajulador apresenta no próximo dia 22, em Luanda, duas coisas em formato de livro: “Angola: Memórias da transição política. De José Eduardo dos Santos a João Lourenço” (Volumes I e II). Está já assegurada a tradução dos livros, para além da pré-compra de muitos milhares de exemplares, na Coreia do Norte (aqui com o título: “Amo o querido líder”) e na Guiné Equatorial (“Gostava de ser como Eduardo dos Santos”).

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