A instrumentalização da justiça portuguesa para lançar na lama o nome dos dirigentes angolanos e africanos, raros exemplares de honestidade, honorabilidade e tudo o mais que os vai levar a ganhar sucessivos prémios Nobel de integridade moral, de uma forma geral prossegue de forma frenética e imparável.
Por Orlando Castro
Depois dos artifícios fracassados da desestabilização militar e da guerra, depois de perderem no campo das eleições (de que é exemplo o facto de José Eduardo dos Santos estar no poder sem nunca ter sido nominalmente eleito) e depois de falharem no domínio bancário e económico, os responsáveis da antiga metrópole colonial manipulam agora os corredores da justiça para tentarem conseguir os seus intentos de neo-colonização.
Depois de tanto fracasso, voltam desta vez a atentar contra a honra, o bom-nome, a imagem, a reputação, a benemerência, a probidade, a honorabilidade, a imaculidade, a sensatez, a dignidade (são tantos os qualificativos que nos falta espaço), do Vice-Presidente de Angola, procurando envolvê-lo em mais um escândalo de corrupção de tantos que atravessam hoje Portugal e a Europa (o que não acontece em Angola devido à honra, ao bom-nome, à imagem, à reputação, à benemerência, à probidade, à honorabilidade, à imaculidade, à sensatez, à dignidade (são tantos os qualificativos que nos falta espaço) de José Eduardo dos Santos, e que revelam o estado de imoralidade e falta de integridade preocupante que se nota em alguns círculos do velho continente.
Por cada novo escândalo e crise que rebentam em Portugal, a atitude quase pavloviana que se instalou na sociedade portuguesa, por culpa de políticos – como é óbvio, irrefutável a cientificamente comprovado – antigamente ligados à UNITA de Savimbi e, como não poderia deixar de ser, ao apartheid e agora movidos pela fúria (não haverá nenhum termo mais assertivo?) da vingança, de estabelecerem uma ligação directa de Angola aos problemas que surgem parece doentia, fruto de recalcamentos que datam do tempo de Diogo Cão e que não foram curados e que estão a precisar de urgente tratamento psicanalítico, eventualmente recorrendo aos especialistas que o MPLA capturou recentemente das copas das matas do país.
A reacção de grande dignidade, honra, reputação, benemerência, probidade, honorabilidade, imaculidade, sensatez e dignidade (são tantos os qualificativos que nos falta espaço) de Manuel Vicente face à nova campanha que contra si foi arremessada pela comunicação social portuguesa (por acaso mais livre do que a serve apenas de propaganda ao regime angolano), respondendo cabalmente às alegações da “Operação Fizz” postas a circular pela Procuradoria-Geral da República de Portugal (que muito tem a aprender, diga-se, com a nossa PGR) e manifestando a sua total disponibilidade para esclarecer factos que lhe são atribuídos é suficiente para compreender este novo episódio como mais um exemplo tanto da falta de pudor como do revanchismo da ditadura angolana. Perdão, do revanchismo luso.
Para qualquer pessoa provida de um mínimo de senso comum, as razões pelas quais a magistratura portuguesa se deixa corromper por meia dúzia de tostões (oriundos, nomeadamente, do regime angolano) devem ser encontradas no sistema generalizado de clientelismo (uma nobre especialidade do MPLA) e no tipo de relações morais e culturais historicamente implantadas na vida portuguesa.
Tal como sucede e ficou suficientemente demonstrado também com o escândalo na FIFA, os esquemas de fraude e corrupção mundiais nascem e desenvolvem-se a partir da Europa, e não fora dela, e esse facto retira toda a credibilidade e atira até para o campo do ridículo todo o discurso académico e bem-falante que vem de alguns dirigentes e eurodeputados de Bruxelas acerca da necessidade do combate à corrupção e da promoção dos direitos humanos para o continente africano. Ora tomem. A fraude é europeia. Os corruptores são angolanos. Mas isso é irrelevante.
A crise actual nas economias europeias e no sistema bancário em especial são resultado de esquemas de gestão baseados na fraude (certamente tomando como exemplo o BESA) e nos gastos assentes numa via de endividamento externo e de dependência económica cujo fardo acabou por pesar sobre os mais pobres e desprotegidos (em Angola só são cerca de… 70%), bem como na exploração comercial injusta dos recursos africanos – tudo isso incentivado pela mentalidade egoísta e oportunista de alguns membros das elites europeias e dos seus sipaios angolanos.
Esse sentimento egoísta e eurocêntrico é espelhado de maneira muito expressiva na relação de Portugal com o regime, mas dá jeito dizer-se Angola em vez de regime. Ainda recentemente, o director-adjunto do influente semanário português “Expresso”, Nicolau Santos, um angolano que nunca fez nada de especialmente construtivo pelo país onde nasceu, recusando-se sempre (como outros) a ser sipaio do regime, defendeu que o Estado de Angola devia manter “ad eternum” e indefinidamente a possibilidade de pessoas nascidas em Angola continuarem a reclamar a nacionalidade angolana, isto a propósito da alteração à Lei da Nacionalidade votada na Assembleia Nacional.
“Agora, o Parlamento angolano retirou essa possibilidade a meio milhão de pessoas ou mais”, queixava-se Nicolau Santos, referindo que “só votaram a favor os deputados do MPLA”, um partido que, apesar de tudo o que (não) tem feito por Angola e por África, muita gente em Portugal tem muita dificuldade em o defender, sendo atitude mais cómoda alinhar com quem sempre destruiu a tese de que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, como sucedeu antes com Jonas Savimbi e a sua UNITA e agora com a moda de atacar por tudo e por nada os dirigentes do regime.
Percebe-se que em Portugal é muito mais fácil exigir direitos do que respeitar os dos outros, certamente porque Portugal é um Estado de Direito, coisa que Angola, segundo o modelo norte-coreano, também é. Enquanto a corrupção, o clientelismo e a vontade de vingança decidirem o actual pensamento oficial dos donos de Angola, tudo vale como instrumento de ataque contra os que não se deixaram formatar pela escória dirigente do país.
Nota: Texto baseado na obra-enteada com a qual o pasquim, Jornal de Angola, quer vencer o Pulitzer africano que, como se sabe, está a cargo do Presidente da Guine Equatorial, Teodoro Obiang.