Na óptica de um não angolano mas de um assumido oriundo de África, berço da humanidade, não tive como ficar indiferente ao que William Tonet, director do Folha 8, escreveu sob o título “Somos todos cobardes, somos covardes”. É facto que assim somos. Todos os povos são cobardes, até um dia.
Por Mário Motta
Os angolanos não são excepção. A coragem, a revolta, só surge quando o peso da canga é demasiado e não permite que temamos o desconhecido, o futuro, o que está para vir. Até que não se atinja esse limite questionamo-nos se após a revolta não ficaremos em pior situação do que a daquela actualidade. É por aí que a falta de coragem se alimenta e mantém nos poderes regimes déspotas.
No caso de Angola, é mais que evidente que existem no regime eminências mais ou menos pardas que roubam descaradamente os angolanos e os votam à condição de cidadãos de segunda, terceira e quarta classe. Não há outro modo de entender e justificar a pobreza que abunda no país. Antagónico a este quadro de pobreza, em muitos casos extrema, vimos uns quantos das elites a esbanjar, a adquirir riqueza que jamais poderão explicar transparentemente. Nem o fazem. Nem o tentam fazer. Limitam-se simplesmente a dar tempo e espaço ao seu vício, à ganância… E crescem, e crescem. Crescem, enquanto imensos angolanos definham. E não é exactamente isso que acontece por todo o mundo? Nuns países mais que noutros?
Em países onde se realizam eleições (sempre condicionadas a determinados parâmetros) os povos ainda conseguem ter alguma força na palavra, naquilo que expressam nas urnas de voto eleitoral. Conseguindo uma folga e novas esperanças. Mas não por muito tempo. Mais cedo que tarde regressa a desilusão e as carências aumentam. É o que acontece no chamado mundo ocidental, o chamado mundo livre. Qual quê? É livre para os que exploram. É livre para as elites instaladas e que se vierem a instalar.
Como diz William Tonet no já referido artigo: “Os da oposição, de Angola, neste momento, não se distinguem daqueles que têm enveredado por uma política de DITADURA, pese a “constituição jessiana”, textualizar o termo democracia, que, na prática, não passa disso mesmo, um sofisma, ou como diria o político português, Almeida Santos, um pedaço de papel, referindo-se aos Acordos de Alvor. Um vazio. Um nada, quanto a sua aplicabilidade, na vida do cidadão.”
As oposições têm por costume fazerem de conta que o são. O que não os impede de falarem, falarem, mas nada fazerem na prática. Limitam-se a esperar que o destino marque a hora em que ascendam aos poderes, em que os que detêm os poderes dos regimes caiam em desgraça. Em Angola, nas eleições (apesar de fraudulentas) não é visível que o MPLA tenha ainda caído em completa desgraça. Isso acontece por responsabilidades da oposição ou das oposições, em grande parte. Por aquiescerem, por se acomodarem, por cobardia. Isso também acontece devido aos que detêm os poderes do regime implantado fazerem o que é legal e ilegal para conterem o avanço das oposições. É aquilo que está a acontecer em Angola, e em muitos outros países do mundo. Incluindo na África. Talvez sobretudo em África.
Já escrevi e digo amiúde que o mal de Angola não é só o MPLA, nem o regime de José Eduardo dos Santos. É da oposição ou das oposições por não ganharem a confiança bastante dos angolanos. Não o fazem só por cobardia, fazem-no por temerem dias piores, ainda uma pior Angola. Quem lhes garante que depois de uma revolta, depois da queda (mesmo pacífica) do regime do MPLA, que não aconteça ainda pior que na actualidade? Que não aconteça o que está a acontecer nos países da chamada Primavera Árabe? São exactamente esses medos que despoletam a cobardia e o que mais está adjacente.
É evidente que o actual MPLA não é flor que se cheire. Mas qual é a alternativa para uma verdadeira democracia, justiça social, verdadeira democracia, progresso? Infelizmente creio que não se vislumbra. Que o MPLA precisa de se depurar dos corruptos, dos antidemocracia, dos anti-justiça, sem dúvida. E as oposições angolanas, não? Os angolanos, como todos os povos nas mesmas circunstâncias, precisam de uma garantia: que quem substitua o MPLA nos poderes não venha a fazer acontecer pior que ele. Como canta Sérgio Godinho: “Para melhor está bem, está bem. Para pior já basta assim”.
Todos os povos são cobardes, até um dia. Que avancem os honestos, os puros, os do povo pelo povo, em defesa da democracia efectiva, os que dêem provas disso e que saibam defender a soberania de Angola e dos angolanos.
Todos os povos são cobardes até um dia, esse dia surgirá. É certo.
Fruto da situação que circunscreve o País e não só, dentro ainda, daquilo são as crises cíclicas do sistema capitalista (teoria marxista), mais nada me vem à mente ao não ser o pensamento do Ilustre Advogado Mahatma Gandhi, quando descreve que “não é possível libertar um povo, sem antes, livrar-se da escravidão de si mesmo. Sem esta, qualquer outra será insignificante, efêmera e ilusória, quando não um retrocesso. Cada pessoa tem sua caminhada própria” (entretanto esta é a minha).E mais, o colapso do sistema se torna iminente, onde não pode haver nenhuma paz interior sem verdadeiro conhecimento em que se o angolano apenas percebesse que é desumano obedecer leis que são injustas, a tirania de nenhum homem o escravizaria.