Sumbula acusado de cumplicidade no roubo de 180 milhões do Chitotolo

Os diamantes, tal como o petróleo, pese serem riquezas nacionais, pertencentes a todos angolanos, estão nas mãos dos filhos do presidente Eduardo dos Santos, dos seus próximos e dos generais, mais preocupados em engordar as contas particulares do que na melhoria da vida dos trabalhadores e cidadãos no geral.

Os trabalhadores mineiros da Sociedade Mineira do Chitotolo, localizada na província da Lunda Norte, acusam o presidente do Conselho de Administração da Endiama, António Carlos Sumbula, de cumplicidade na discriminação dos quadros angolanos e, também, delapidação financeira e patrimonial do grupo.

Delapidação essa por parte dos sócios minoritários, principalmente, a Lumanhe, pertença de generais (Armando da Cruz Neto – na reserva), Carlos Alberto Hendrick Vaal Neto da Silva, inspector-geral do Estado Maior General das FAA, Adriano Makevela Mackenzi, Chefe da Direcção Principal de Tropas e Ensino das FAA, Marques Correia, Jacques Raul, João de Matos, Luís Pereira Faceira, António Emílio Faceira (todos na reserva) e Hélder Manuel Vieira Dias Kopelipa, chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, detentora de 15%, na sociedade (a ITM tem 40% e a Endiama, sócia maioritária, 45%).

“São mais 180 milhões de dólares desviados dos cofres da sociedade, por parte dos gerentes luso-moçambicanos, Artur Jorge Alberto Gonçalves (ITM), Alexandre Albuquerque e o luso-angolano, Victor Ventura Nunes (Lumanhe), com o apoio do engenheiro Sumbula, PCA da Endiama, com anuência do seu representante, Mambo Wola, que recebe as comissões dos outros gatunos, para o chefe, fazendo vista grossa na subfacturação e compra de equipamentos usados como se fossem novos, lesando a sociedade e os trabalhadores”, acusa o mineiro Kalembwa Tuna.

E para melhor sustentar esta acusação verbal, os trabalhadores endossaram uma carta (ver imagem) ao Presidente do Conselho de Administração da Endiama, com cópia ao governador provincial da Lunda Norte, denunciando estas arbitrariedades, que “estão a criar desconforto sócio-laboral na empresa motivado propositadamente pelos representantes da ITM, Artur Jorge Alberto Gonçalves (luso-moçambicano e angolano), gerente das operações mineiras e seu representante interino, nas vestes de director de operações mineiras, na mina do Chitotolo, Alexandre Albuquerque (luso-moçambicano), extremamente incompetente no exercício das suas funções, denotando princípios básicos na gestão de uma mina de exploração diamantífera. Faz parte deste movimento, Victor M. Ventura Nunes (luso-angolano, que representa a empresa dos generais, Lumanhe, exercendo as funções de gerente de logística e segurança. Sendo este, o suporte de toda esta máquina de discriminação, que quando vao à mina do Chitotolo, afirma em todas as ocasiões e peremptoriamente que tem costas largas e que nem na Endiama lhe podem tocar porque é amigo de todos os generais que mandam no país (Angola)”, lê-se na carta-denúncia.
carta-sumbula

Os trabalhadores acusam a actual administração da sociedade de violar o Decreto n.º2/04 de 2 de Janeiro, relativa ao Conselho de Gerência, que deve ser eleito e com competências delegadas pela Assembleia Geral de sócios. “Infelizmente para satisfazer melhor a pretensão dos generais e do outro sócio, a empresa maioritária, Endiama demitiu-se das suas responsabilidades e o engenheiro Sumbula, viabiliza, desta forma, toda espécie de desfalque e roubalheira, pois com a sua assinatura ele engaja o Estado para pagar, bens não fornecidos e dinheiro para enriquecer corruptos, cujo objectivo é delapidar as riquezas do país, levar a empresa à falência e empobrecer os trabalhadores, para um dia lhes colocarem no olho da rua, com a nova Lei Geral do Trabalho, que beneficia os patrões gatunos”, denunciou Matias Zungungulay.

Isso tudo só é possível, diz a carta, por não se fazer sentir desde a criação “da nossa Chitotolo, nunca sentimos a presença do representante da Endiama a exercer as suas competências, porque estes em nome dos generais, sendo verdade ou não, impõe e determina os destinos da Chitotolo, com todos os vícios de gestão danosa”.

E tendo ciência dos lucros da empresa, endossam a Carlos Sumbula uma bateria de perguntas:

“1 – Senhor PCA, será que a nossa Chitotolo, tem tido lucros e que no final de exercício das suas actividades apresenta valores positivos?

2 – O senhor PCA tem noção dos reais custos operacionais da Sociedade Mineira do Chitotolo?

3 – Conhece de facto o esquema de facturação de transporte de combustíveis para a mina de Chitotolo?

4 – O valor justo das encomendas e o fornecimento de bens alimentares, lubrificantes, peças e material sobressalente da Caterpillar das lavarias, etc.?

5 – Conhece os custos altíssimos da manutenção das lavarias de pré-tratamento que são autênticas sucatas na mina?”

Às questões acima colocadas, o mineiro Kalumbwa Tuna, não tem dúvidas sobre as razões do descaso do sócio maioritário: Endiama, empresa pública: “O engenheiro Sumbula não sabe, por não querer, isso por ser parte da quadrilha que rouba a Chitotolo e os trabalhadores. Há muito se sabe da incompetência desta direcção e do desvio financeiro que ela vem causando a empresa, ao longo dos 19 anos de existência”, assegurou.

E, na carta, os reclamantes continuam o questionamento ao PCA se a sua gestão danosa à frente da Endiama, não favorece o desnorte na indústria mineira, dominada pelos filhos do presidente da República e generais, cuja empresa, no caso, a Lumanhe, é acusada de roubo de cascalho, na área do Lussaca, bloco 2, no mês de Maio de 2016 e nos dias 22 e 23 de Junho, através de camiões não identificados, que entraram nas instalações, “na proximidade da central de escolha, retirando o rejeitado do canal de finos, com todos os riscos possíveis ao aproximar-se da tremonha! Será que não é uma trama que os senhores Artur Jorge Gonçalves e Victor M.V. Nunes lhe querem orquestrar?”

É diante de todo este desvario financeiro, ao longo de 19 anos, na gestão económica da Sociedade Mineira e Chitotolo, segundo os trabalhadores, que até à data a empresa não tenha sede própria em Luanda, estando em vivenda arrendada, de um dos generais. Por outro lado, não tem um sistema de gestão de carreira dos mais de 800 trabalhadores e, os locais, principalmente, do N’zagi e Maludi, não têm um bairro habitacional, nem clínica médica, a exemplo dos da sociedade do Catoca, tal como recomenda a Lei Geral do Trabalho, que os generais mandam às urtigas.

Por esta razão, na denúncia solicitam: “A devida intervenção das entidades afins, pra tomarem medidas cautelares e necessárias para estancar definitivamente estas e outras situações não abonatórias a um estado de Direito que se chama Angola, antes que elas tomem proporções com consequências que poderão ser trágicas, porque o real propósito destes gestores, consiste em paralisar a mina do Chitotolo, criando tumultos e desordem”.

E depois deste contundente alerta, os mineiros dizem: “O que nos revolta é que quando os expatriados chegam a Angola e consequentemente à mina, não trazem mais-valias acrescentadas, e muitos deles não conseguem diferenciar o elementar da actividade mineira, isto é, o estéril, o minério e a rocha base, logo não demonstram experiência e competência comprovada, para exercer funções, nas áreas de geologia, exploração, metalurgia, segurança industrial, engenharia no topo, etc.”, acrescentando, ainda que “o Presidente da República, tem repetidas vezes manifestado a prioridade que os angolanos devem ter no que se refere ao emprego e a oportunidade de aprendizagem. Mais uma vez alertamos para o grande perigo de exclusão que estamos a conviver e a viver, com consequências sócio-económicas e políticas que poderão ser graves para a região e para o país, situação provocada pelos gerentes da ITM e da Lumanhe, na Sociedade Mineira do Chitotolo” .

Diante deste grito e denúncia dos trabalhadores da Sociedade Mineira do Chitotolo contra a má gestão e desvio financeiro de cerca de 180 milhões de dólares da empresa, por parte da direcção geral, urge aos sócios da Lumanhe e ao PCA da Endiama pronunciarem-se, sob pena do silêncio poder ser entendido, como a confirmação das suspeições, aqui levantadas.

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