Segundo o MPLA, 1.344 antigos militantes da UNITA, residentes na comuna de Galangue, no município do Cuvango, a 356 quilómetros da cidade do Lubango, província da Huíla, abandonaram ontem o Galo Negro para se filiar no partido de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos.
Por Orlando Castro
É assim ao longo dos anos. Tudo leva a crer que a UNITA terá hoje pouco mais do que uma dúzia de militantes. Já, por exemplo, em 10 de Dezembro de… 2011 o MPA dizia em altas parangonas que (veja-se a habitual precisão numérica) 3.512 novas militantes tinham ingressado nesse dia, no Huambo, nas fileiras do MPLA, no âmbito de uma campanha especial de crescimento realizada pela sua organização feminina OMA.
Não custa a acreditar que nesses tempos no Huambo, como hoje no Lubango, os angolanos tenham de se inscrever no MPLA para ter um saco de fuba. E se é assim, fazem bem em filiar-se. Devem, aliás, inscrever também os filhos nascidos e os que pensa vir a ter. O MPLA agradece.
A cerimónia de Dezembro de 2011, que marcou este ingresso em massa de novas militantes foi orientada pelo então primeiro secretário provincial do MPLA, Fernando Faustino Muteka, e inseriu-se nas comemorações dos 55 anos de existência do partido.
Os novos militantes prometeram, prometem sempre, honrar e cumprir os compromissos em volta do partido e contribuir para a promoção da democracia (o que, como eles sabem, só se consegue votando no MPLA), bem como conservar a paz e a integridade territorial do país.
Fernando Faustino Muteka sublinhou na altura que aquele importante ingresso era resultado de um árduo e amplo trabalho desenvolvido pelo comité provincial da OMA, a nível das suas estruturas de base, com a realização activa de campanhas de mobilização e sensibilização.
Mobilização e sensibilização em que os dirigentes do MPLA levam numa mão a comida e a ficha do partido, e na outra o chicote.
“Podemos constatar que as pessoas estão à nossa inteira disposição, daí devemos trabalhar cada vez mais com objectivo de recrutarmos mais militantes para o nosso partido de carácter especial para o povo angolano”, disse Muteka.
E tinha razão. “As pessoas estão à inteira disposição” do regime e sabem que, se assim não for, só lhes resta fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilares.
Muitos angolanos recordam-se de, no dia 24 de Fevereiro de 2002, terem ouvido alguém dizer: “sekulu wafa, kalye wendi k’ondalatu! v’ukanoli o café k’imbo lyamale!” (morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados).
E assim foi. Tirando os conhecidos exemplos da elite partidária, os soldados e simpatizantes da UNITA, bem como a maioria do Povo angolano, têm estado deste então a apanhar café, ou algo que o valha.
No rescaldo da guerra imediatamente a seguir à Independência, entre 1976 a 1978, o MPLA reeditou a guerra do Kwata-Kwata, obrigando pela força das armas os contratados ovimbundos e ou bailundos (que outros poderiam ser?) a ir para as roças, sobretudo do norte de Angola.
O então líder da UNITA, Jonas Savimbi, agastado com a fraqueza e quase exaustão das forças que conseguiram sobreviver à retira das cidades, em direcção às matas do leste (Jamba), onde reorganizou a luta de resistência, aproveitou esse facto, bem como a presença de estrangeiros, para mobilizar os angolanos.
«Ise okufa, etombo livala» (prefiro antes a morte, do que a escravatura), dizia Savimbi aos seus homens, militares ou não.
E agora? Agora (e depois de ter sido assassinado por alguns dos seus próprios militares) os seus discípulos mais ilustres preferem a escravatura de barriga cheia do que a liberdade com ela vazia.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu nem vê na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala e Samuel Chiwale.
É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro. Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
É que, ao contrário do Mais Velho, na UNITA há muitos que preferem ser escravos com lagosta na mesa do que livres embora procurando mandioca nas lavras.
E é esse povo que, de barriga vazia, sem assistência médica, sem casas, sem escolas, reclama por justiça e que a vê cada vez mais longe. E é esse povo que, como dizia o arcebispo do Huambo, D. José de Queirós Alves, não tem força mas tem razão. E é esse povo que para sobreviver se inscreve no MPLA.