Desde a constatação do fiasco do Memorando de Namibe, mais do que nunca, a questão de Cabinda simboliza e sintetiza aos olhos do mundo as evidentes contradições e tensões que caracterizam o difícil parto da transição política em Angola.
Por Gildo Pandi (*)
Perante a estratégia de pretender pulverizar por dentro a FLEC, o governo angolano demonstra hoje a sua falta de vontade política ou melhor ainda a sua incapacidade de reconhecer o seu fracasso na resolução do caso Cabinda.
A direcção da FLEC-FAC condena veementemente as velhas manobras do Governo de Luanda em querer eliminar fisicamente os dirigentes políticos e militares da FLEC onde quer que estejam.
Após o lançamento da operação “Vassoura”, foram confirmados as execuções sumárias, com métodos estalinistas dos comandantes: Gabriel Augusto Nhemba (“Pirilampo”), Maurício Lubola (“Sabala”), João Alberto Gomes (“Noite e Dia”), David Zau, Sebastião Mazenga, João Clemente Mavungo, João Massanga (“Homem de Guerra”), João Baptista Ngimbi (“Sem Família”) por terem simplesmente protestados contra a ocupação ilegal de Cabinda por Angola, em um sinal de apoio à Frente de Libertação do Enclave de Cabinda.
O mais recente destas tristes execuções por parte dum governo carente de argumentes valiosos para justificar a sua presença em Cabinda há décadas ocorreu com o rapto e assassinato do comandante “Sem Família” na vizinha República do Congo. Os serviços de inteligência da FLEC-FAC estão a seguir a par e passo as tramóias do Governo Angolano através do SIM (Serviços de Inteligência Militar) de capturar os dirigentes da FLEC no Congo RDC e Congo Brazzaville e na eliminação física dos dirigentes da ala mais «feroz» da FLEC na Europa.
A FLEC-FAC condena a política vergonhosa levada a cabo pelo Governo Angolano em resposta aos acontecimentos actuais. Ao invés de entrar em diálogo para encontrar as soluções que satisfaçam as queixas e reclamações legítimas do povo cabindense, as nossas fontes relatam que as autoridades angolanas optaram por assassinar e deter (caso não conseguirem corromper) todo o indivíduo que se identifica como membro da FLEC ou defensor do caso Cabinda.
É óbvio que o Governo Angolano viola claramente as suas próprias leis e regulamentos internacionais em matéria de direitos humanos mais fundamentais. Exortamos o Governo Angolano a privilegiar imediatamente as vias para ultrapassar com dignidade o caso Cabinda. A ocupação e repressão por parte do Governo Angolano em Cabinda são as causas que levam o povo de Cabinda a indignar-se.
Os cabindenses sofrem ao ver a contínua agressão do Governo Angolano sobre a cultura de Cabinda, a sua identidade e a sua própria dignidade. Eles sentem um forte ressentimento em relação à demonização angolana sobre a razão da sua luta. O povo de Cabinda alarma-se perante as ondas de colonos angolanos que quando chegam em Cabinda ficam com os melhores postos de trabalho, o futuro dos cabindas, transformando e reduzindo as famílias autóctones na pobreza.
O povo testemunha as actividades de desenvolvimento de tipo colonial em Cabinda, enquanto se envia os recursos naturais de Cabinda com uma melodia que soa a biliões de dólares nas garras de um governo faminto. Essas políticas poderiam, portanto, levar à conclusão de que o Governo Angolano quer Cabinda, mas não o povo de Cabinda.
Notamos que os camaradas em Luanda ainda necessitam de aprender a história e a geografia de Angola antes da descolonização, e devem estar preparado para levantar mais cedo ou mais tarde a questão Cabinda, especialmente quando se toca da emergência política de Angola e não de Angola “toda poderoso”.
Instamos a comunidade internacional a exercer pressão sobre o Governo de Angola para se encontrar uma solução pacífica e duradoira para a questão de Cabinda através dum diálogo franco e sincero.
(*) Membro da Direcção de FLEC-FAC