Mesmo em crise, Angola salva o BPI

O resultado líquido do banco português BPI, no primeiro semestre do ano, ficou acima do esperado. Angola (o país onde, segundo Fernando Ulrich, não existe corrupção) justifica 75% do lucro. Os lucros foram de 105,9 milhões de euros nos primeiros seis meses, mais 39,1% do que no mesmo período do ano anterior.

As contas dos primeiros seis meses foram melhores do que o estimado pelo CaixaBI, que apontava para um resultado líquido de 97,5 milhões para o primeiro semestre do BPI. Para apenas o segundo trimestre, a previsão era de um lucro de 52 milhões.

A margem financeira (base do negócio bancário que corresponde à diferença entre os juros pagos em depósitos e os juros cobrados em créditos) cresceu 8,8% para se fixar em 360,3 milhões de euros. As comissões recuaram 1% para 153,9 milhões de euros. Os ganhos com operações financeiras subiram 10,3%. Tudo somado, o produto bancário da instituição comercial presidida por Fernando Ulrich avançou 2,6% para se fixar em 602,4 milhões de euros.

Em contraponto, os custos de estrutura cresceram 0,9%, excluindo os custos com reformas antecipadas, para os 336,6 milhões de euros. Os encargos com as reformas antecipadas foram praticamente compensados pelas alterações ao Acordo Colectivo de Trabalho, pelo que os custos incluindo estas duas rubricas subiram 1,8% para 339,5 milhões de euros.

Com um resultado operacional de 262,9 milhões de euros (resultado da diferença entre o produto e os custos), mais 3,7% que no igual período homólogo, foi a quebra das imparidades que permitiu gerar resultado. A rubrica de provisões e imparidades para crédito desceu 45,6% para os 47,3 milhões de euros.

O lucro de 105,9 milhões de euros no primeiro semestre tem a actividade internacional como o principal contributo (81,4 milhões de euros), sobretudo com o Banco de Fomento de Angola – 79,1 milhões. O valor obtido por deter 50,1% do capital do BFA correspondeu a 75% do lucro obtido no primeiro semestre. 24,5 milhões de euros do lucro do BPI entre Janeiro e Junho foram alcançados com a actividade doméstica.

Olhando apenas para a actividade doméstica, e num período em que a remuneração dos depósitos é reduzida, esta rubrica cedeu 0,5% para 19.038 milhões de euros. Contando com outros recursos de clientes, como seguros de capitalização e fora de balanço, os recursos totais de clientes do banco sob o comando de Fernando Ulrich cederam 2% para 28.012 milhões de euros.

O crédito a clientes em Portugal também recuou 0,9% para 22.695 milhões de euros, com a instituição financeira a sublinhar que a actividade doméstica “começa a apresentar sinais de inversão da tendência de queda na generalidade dos segmentos”. O crédito vencido há mais de 90 dias cedeu de 3,8% do total da carteira em Junho de 2015 para 3,6% em Junho de 2016.

Fernando Ulrich, pois claro!

O presidente do BPI, banco presente em Angola desde 1996, certamente que hoje continuará a dizer o que afirmou em 2008, isto é, que não há corrupção em Angola.

Em Junho desse ani, em entrevista ao Diário Económico, Fernando Ulrich considerou que as declarações polémicas de Bob Geldof “não tinham sentido nenhum”.

Questionado sobre a polémica então registada à volta das declarações de Bob Geldof, que num evento promovido pelo BES, em Lisboa, disse que “Angola é um país gerido por criminosos”, Ulrich disse que as declarações “não têm sentido nenhum”. E como é (mais ou menos) um homem de palavra, certamente que mantém tudo o que disse.

O BPI tem em Angola o Banco Fomento e Angola, sendo este o seu principal activo internacional. Fernando Ulrich diz que a experiência do BPI em Angola não mostra um país corrupto.

Aqui tem toda a razão. O país não é corrupto. Corruptos são, pensamos nós, os amigos e parceiros de Ulrich que (des)governam o país desde 1975. Aliás, Geldof falou de um país gerido por criminosos e não de um país criminoso.

“O BPI nunca pagou nada a ninguém para obter nada em troca como nem nunca ninguém nos pediu nada para fazer o que quer que fosse em troca”, disse o “senhor BPI”.

Aliás, os banqueiros portugueses são um paradigma de seriedade e honestidade. Basta ver o que disseram sobre a intervenção do Fundo Monetário Internacional em Portugal.

Fernando Ulrich (BPI):
29 Outubro de 2010 – “Entrada do FMI em Portugal representa perda de credibilidade”. 26 Janeiro de 2011 – “Portugal não precisa do FMI”. 31 Março de 2011 – “Por que é que Portugal não recorreu há mais tempo ao FMI”.

Santos Ferreira (MBCP):
12 Janeiro de 2011 – “Portugal deve evitar o FMI”. 2 Fevereiro de 2011 – “Portugal deve fazer tudo para evitar recorrer ao FMI”. 4 Abril de 2011 – “Ajuda externa é urgente e deve pedir-se já”.

Ricardo Salgado (BES):
25 Janeiro de 2011 – “Não recomendo o FMI para Portugal”, 29 Março de 2011 – “Portugal pode evitar o FMI”. 5 Abril de 2011 – “É urgente pedir apoio… já”.

Folha 8 com Jornal de Negócios

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