Desde Dezembro de 2015, a febre-amarela matou mais de 400 pessoas em Angola e na vizinha RDC. Segundo a OMS, o vírus causador da febre-amarela dirige-se para a África Central e Oriental. Há críticas à falta de prevenção.
Por João Carlos (*)
Em Angola já não se registam novos casos de febre-amarela desde 23 de Junho deste ano, revela a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dos 369 óbitos suspeitos de terem sido causados pela doença, 119 foram laboratorialmente confirmados.
Enfrentar o surto da doença tem sido um grande desafio para as autoridades sanitárias do país. É ainda um teste à capacidade para lidar com endemias, cujo combate implica um enorme esforço financeiro para os cofres do Estado angolano.
O surgimento da febre-amarela também obrigou a classe médica a um grande esforço para controlar os efeitos da doença, reconhece Carlos Pinto de Sousa, bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, que falou à DW África durante o VII Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa que terminou ontem, na cidade do Porto, em Portugal.
“Houve uma mobilização muito grande a nível nacional e com o esforço, naturalmente, do Ministério da Saúde e dos governos provinciais foi possível debelarmos a epidemia, o que é muito bom. Portanto, a classe esteve ao nível e as estruturas naturalmente e outros profissionais também envolveram-se de uma forma muito grande neste trabalho,” avalia.
E que lição Angola retira deste surto?
“Nós temos que continuar a apostar sobretudo na prevenção e a classe médica, naturalmente, terá formação contínua nesta área muito importante, apostando nomeadamente na especialização em saúde pública e áreas afins,” responde Pinto de Sousa.
Até Agosto último, foram vacinadas em Angola 2,4 milhões de pessoas. As medidas governamentais visam reforçar a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde.
No entanto, de acordo com o mais recente balanço divulgado pela OMS, cerca de seis mil pessoas podem estar infectadas com febre-amarela em Angola e na República Democrática do Congo: um número de casos seis vezes maior do que o já confirmado. O perigo, a nível nacional e regional, não está posto de lado, segundo os médicos angolanos ouvidos pela DW África.
A aproximação da época das chuvas suscita preocupação de alastramento da doença, espalhada pelo mosquito transmissor Aedes Aegypti a zonas do país onde a vacinação não chegou. O alerta vem de Armindo José Queza, médico angolano de saúde pública, que trabalha na região do Grande Porto, onde acompanha a situação no seu país: “O acumular do lixo, a falta de saneamento, com a época das chuvas, propiciam o surgimento ou o ressurgimento de algumas epidemias que já estavam ou controladas ou mesmo eliminadas e quase erradicadas. É o que aconteceu com o ressurgimento da febre-amarela em Angola,” considera.
A resposta das autoridades angolanas foi a possível, mas perderam-se vidas humanas – lembra. “Quando já surgem os casos, é muito complicado resolver. Isto foi uma lição para todos nós,” diz o médico.
A questão é saber o que deve ser feito para se evitar uma nova epidemia, nomeadamente a criação de estruturas para a conservação de vacinas.
“Temos é que proporcionar qualidade de vida e saúde ambiental. Porque havendo saúde ambiental adequada vamos prevenir várias doenças. Nesse caso vamos gastar menos recursos com a assistência medicamentosa e apostamos mais na prevenção,” diz Armindo José Queza.
Para este médico angolano há várias lições a tirar do surto da febre-amarela em Angola. Por exemplo, importa reconhecer que a responsabilidade da saúde pública é transversal a toda a sociedade, e não cabe apenas ao Ministério da Saúde.
A epidemia, que começou a 5 de Dezembro em Luanda, alastrou para a vizinha República Democrática do Congo – com 2.051 casos suspeitos e 95 vítimas mortais até 27 de Julho -, decorrendo no terreno, com o apoio da OMS, várias campanhas de vacinação contra a febre-amarela.
(*) DW – Deutsche Welle