O cônsul-geral de Angola no Rio de Janeiro, Rosário Gustavo Ferreira de Ceita, de 53 anos, faz questão de recordar repetidamente aos seus funcionários, conforme denúncias destes, que é “primo da Palucha [a primeira-dama, Ana Paula dos Santos] e que, por esse facto, goza de impunidade para agir como bem entende.
Por Rafael Marques de Morais (*)
Essa impunidade serve nomeadamente para sustentar a sua poligamia, já que se reflecte na atribuição de apartamentos e salários consulares às suas três mulheres e três filhos, que não são, evidentemente, funcionários do Estado angolano.
Reiteradas vezes, nas reuniões com os funcionários do consulado, Rosário de Ceita recorre à agressividade e aos palavrões, usando a sua relação familiar com a primeira-dama como garantia de impunidade para os seus actos excessivos. De acordo com fontes consulares, o representante da família presidencial tem especial predilecção pelos órgãos genitais masculinos, insistindo que “nenhum homem” os tenha “no lugar” e seja “capaz de me tirar daqui [do consulado]”.
Carmina Dorel Ebo, de 27 anos, é cidadã angolana há muito residente no Brasil. Considerada a “esposa oficial”, aufere 6 520 reais por mês. Desempenha a função de secretária do esposo. O cônsul tem, além dela, um secretário nomeado pelo Ministério das Relações Exteriores, Herculano Gonçalves, a quem é atribuído um salário mensal de US $4 200 e a quem cabe, inclusivamente, representar o cônsul em várias actividades oficiais. Foi com Carmina Dorel Ebo que o cônsul viajou para Luanda a fim de participar nas celebrações, a 28 de Agosto, do aniversário do parente, o presidente José Eduardo dos Santos.
Para além do salário, Angola suporta ainda a renda mensal do apartamento arrendado por Carmina Dorel no luxuoso bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, situado na Rua Bolivar, número 45. O valor mensal deste arrendamento é superior ao salário de Carmina Dorel. Acresce ainda, a estas despesas, o pagamento de várias outras despesas, nomeadamente de viagens de avião em classe executiva. Apesar de beneficiar de tantas regalias pela sua função de secretária, os demais funcionários consulares acusam-na de incapacidade para redigir sem erros ortográficos e sintácticos uma simples correspondência, facto ignorado pelo cônsul, que se limita a assinar por baixo.
Entretanto, o próprio cônsul Rosário de Ceita, em funções há dois anos, aufere um salário mensal de US $7 600 e tem residência oficial no igualmente luxuoso bairro de Ipanema, em Rio de Janeiro, vivendo num apartamento que custa ao Estado 30 mil reais por mês (US $10 mil). Ao todo, Rosário de Ceita tem quatro apartamentos à sua disposição no Brasil, pagos com fundos dos contribuintes angolanos.
Maka Angola contactou quer o cônsul quer o consulado, por via electrónica, mas não obteve sucesso quando procurou registar a versão do diplomata em questão. Tão logo Rosário de Ceita se digne responder, este portal publicará a sua declaração e conceder-lhe-á o devido espaço.
Por sua vez, a brasileira Denise Amparo, designada como a “primeira-dama”, dispõe de um apartamento, também situado em Copacabana, na mesma Rua Bolivar, adquirido pelo próprio cônsul e entretanto alugado ao consulado. Foi neste apartamento que Rosário de Ceita alojou o músico Dom Caetano (e ainda a sua esposa e a sua filha) durante quinze dias, como convidado para animar a comunidade angolana durante os Jogos Olímpicos. Só no Rio de Janeiro Dom Caetano e outros colegas seus, como a Banda Maravilha e Legalize, notaram que tinham sido convidados para actuar nas Favelas da Maré e do Ramos.
A angolana Sara Conceição, terceira concubina do cônsul Rosário de Ceita, também representa avultadas despesas para o consulado. Vive num apartamento alugado na Rua Duvivier, número 46, na mesma zona de Copacabana que as suas rivais Denise Amparo e Carmina Dorel. Estima-se que o valor mensal do aluguer seja seis vezes superior ao do seu salário consular, que consiste em 1000 reais por mês.
No consulado, Sara Conceição já passou pelo gabinete do “amado” Rosário de Ceita, onde se desentendeu com Carmina Dorel, tendo então sido transferida para o Espaço Cultural. Quando Ceita nomeou Carmina Dorel para dirigir o referido espaço, de forma a evitar conflitos, transferiu Sara Conceição para a administração.
Em relação aos filhos, que não trabalham no consulado, Rosário de Ceita confere-lhes salários diferentes, de acordo com a sua lógica paternal ou como simples expediente para parecer que têm categorias diferentes de “funcionários fantasmas”: Lukeni de Ceita aufere mensalmente 2 520 reais, e Tárcio de Ceita recebe 1 520 reais, enquanto a filha Denise de Ceita tem um salário de 1 220 reais.
A brasileira Deborah Amparo, filha de Denise Amparo e enteada do cônsul Rosário de Ceita, trabalha na recolha de dados biométricos e na recepção e encaminhamento de passaportes. Uma segunda brasileira também tem a mesma responsabilidade, garantindo desse modo que nenhum angolano, excepto o cônsul, tenha conhecimento das tramitações de vistos, conforme apurou Maka Angola junto do consulado.
Todas estas despesas ilícitas com a família do cônsul Rosário de Ceita contrastam com a carência de material básico gastável no consulado, a qual é justificada com a crise económica e a necessidade de contenção de gastos. Este portal sabe, de resto, que o consulado tem rendas de água, de luz, de condomínio e de corretores imobiliários em atraso.
Por outro lado, o consulado dispõe de cerca de 70 funcionários, entre os quais 15 diplomatas, 26 naturais do Brasil com carteira assinada e um sem número de “fantasmas”. Entre locais, colaboradores e estagiários, o governo gasta oficialmente, com o consulado do Rio de Janeiro, mais de US $55 mil mensais. Ao todo, estima-se que o consulado consome anualmente mais de três milhões de dólares.
Maka Angola sabe que existem no consulado duas administrações paralelas. A oficial, que responde ao Ministério das Relações Exteriores, e a particular, que é do desígnio exclusivo do primo da primeira-dama, com folha de salários e despesas não declaradas e cuja origem dos fundos se desconhece.
(*) Maka Angola
Título e segunda imagem: Folha 8