O secretário provincial da coligação eleitoral CASA-CE em Benguela, Francisco Viena, não esteve com meias medidas e fez o que o MPLA faz há quase 41 anos – um rasgado elogio a Agostinho Neto.
Por Norberto Hossi
Francisco Viena defendeu que o Executivo trabalhe com afinco na base do legado do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto, de que a agricultura é a base e a indústria factor decisivo para o desenvolvimento da economia.
Jonas Savimbi também sempre advogou, entre outros pilares, a defesa da igualdade de todos os angolanos na Pátria do seu nascimento; a busca de soluções económicas, priorização do campo para beneficiar a cidade; a liberdade, a democracia, a justiça social, a solidariedade e a ética na condução da política. Mas Francisco Viena preferiu, percebe-se, elogiar Agostinho Neto.
Em declarações à Angop, em reacção à mensagem sobre o Estado da (sua) Nação, proferida segunda-feira pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, Francisco Viena, disse ser um legado bastante importante que o MPLA tem de recuperar, embora muito já tenha ficado por fazer ao longo dos últimos 40 anos.
Francisco Viena considerou que o país deveria tirar ilações desse legado para uma bem-sucedida recuperação do potencial produtivo e industrial do país e, com isso, a diversificação da economia alcançaria o desígnio nacional.
Saberá Francisco Viena que Jonas Savimbi foi o único dirigente nacionalista angolano que circunscreveu nos ideais do seu Movimento, aquando da sua fundação em 1966 (Muangai), a democracia assegurada pelo voto do Povo através de vários partidos políticos?
Evocando “o preço muito elevado” que o país pagou por apenas se olhar para a importação de bens de consumo e serviços, o dirigente da CASA-CE alertou para a importância da definição clara de políticas públicas para o desenvolvimento de Angola, por via dos sectores agrário e industrial.
Desta forma, segundo o secretário da CASA-CE em Benguela, o Executivo poderia reduzir sobremaneira a importação de bens e serviços de consumo a que se assiste ainda, dada a pouca expressão do sector agrário e diz ser fundamental definir a vocação de cada província em termos de sector produtivo como pescas e agricultura, onde devem ser canalizados investimentos.
“Até porque Benguela tinha produção de cana-de-açúcar em grande escala, no tempo colonial: até 1976, ainda se fabricava, mais precisamente na comuna do Dombe Grande”, disse Francisco Viena, certamente ignorando que em Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy, produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha, Portugal, para além das colónias da época: Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
O responsável da CASA-CE não tem dúvidas de que se o país tivesse apostado no sector agrário e industrial ao longo dos 40 anos de independência, hoje teria diminuído sobremaneira o nível de importação de produtos.
Francisco Viena poderia, igualmente, recordar que foi graças a Agostinho Neto e ao MPLA que Angola deixou de ser o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do Moxico, Lunda Sul, Lunda Norte e Bié.
Poderia ter recordado que no Leste de Angola, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga; que na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço; que na região de Moçâmedes havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Não admira, por isso, que a Angop escreva que “na senda das estratégias para a diversificação da economia apresentada pelo Chefe de Estado, o político (Francisco Viena) disse que a visão da sua coligação política assenta, no entanto, na racionalização de recursos financeiros para desenvolver imediatamente o sector agrário e industrial”.