A imagem (dis)torcida

As palavras do empresário britânico David Wyne-Morgan segundo as quais alguns países ocidentais conhecem “pouco e mal” Angola representam um desafio para Angola e os angolanos.

Por Orlando Castro

E m visita ao país, durante a qual foi recebido em audiência por sua majestade o rei, José Eduardo dos Santos, o empresário disse ter encontrado uma realidade diferente e que precisa de ser dada a conhecer ao mundo.

É de espantar o facto de que, embora vivamos ao toque de um “clic” para que determinada informação ou notícia atravesse oceanos, em muitas partes do mundo prevaleça uma imagem deturpada de Angola. De facto, o país real está inacessível. A vaga de imigrantes que continuam a encarar Angola como uma terra boa para viver limita-se, infelizmente para a verdade, à face A do país.

A imagem descrita pelo empresário do Reino Unido constitui um elemento que deve ser encarado com muita seriedade nesta fase em que a abertura do país irreal ao mundo para acelerar o processo de diversificação é de suma importância para a manutenção do regime.

Angola não implementou importantes reformas no sentido de assegurar a abertura ao investimento privado, pelo que – diz o regime – o sector diplomático angolano precisa de lutar mais para que a propaganda oficial lá fora não conheça os níveis de distorção de que falam os políticos europeus e norte-americanos.

Quando, por mérito próprio, os angolanos souberam retirar o país da zona cinzenta em que resvalava, a caminho de um conflito militar interminável e do fracasso como Estado, não faltou quem procurasse fazer o contrário. Ainda estamos hoje a pagar as consequências desses actos. Ou não tivéssemos no poder o mesmo partido desde 1975 e o mesmo rei desde 1979.

Do ponto de vista do regime, urge dar a conhecer ao mundo a realidade exacta do nosso país, porque, como referiu David Wyne-Morgan, a imagem que certos países ainda querem fazer prevalecer é a mesma que prevalecia no tempo do partido único que, infelizmente, continua pujante. Para eles, o esforço de democratização e recuperação da economia que não tem sido feito pelo Governo é bom para a avidez dos grandes grupos económicos mundiais que querem, com a ajuda das nossas elites corruptas, mandar no nosso país.

Felizmente, a vinda ao país de personalidades do mundo da política e economia, tem servido para transmitir a verdadeira percepção que devem ter da realidade do país gerido pelo clã presidencial. Mas algumas capitais europeias constituem-se ainda como verdadeiras centrais de intoxicação contra a verdade. Os seus órgãos de comunicação actuam com uma agenda anti-angolana, pretendendo dizer que tudo mudou e que a situação geral do país é um oásis. Ignoram completamente os numerosos instrumentos internacionais que provam e comprovam que o regime não promove o respeito pela igualdade soberana.

Foi o que se viu com o processo dos Revús, um caso de manifesta vergonha judicial, só normal em qualquer sistema de justiça praticado na Coreia do Norte ou na Guiné Equatorial.

Portugal, ainda bem, é o país que serve de base para essas campanhas de verdade e informação contra o regime de Eduardo dos Santos e a favor dos angolanos. Apesar de partilharmos a mesma língua e muitos aspectos da cultura de cada um, sente-se que os portugueses de uma forma geral tratam os angolanos com o respeito com que nós os recebemos. A responsabilidade dessa luta pela verdade deve ser atribuída a alguns meios de comunicação de Portugal e a meia dúzia de dirigentes políticos honrados que não se deixam comprar pelas ofertas dos luvualus do nosso regime.

Ao contrário da propaganda oficial do regime, Angola não passa regularmente pelo crivo da Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas, razão pela qual passa a propaganda de que é uma democracia e um Estado de Direito.

Neste exercício, para demonstrar o indemonstrável (o compromisso com a questão dos Direitos Humanos), as delegações de marketing e propaganda do regime são permanentemente de nível ministerial e acompanhadas de técnicos especializados na matéria.

As recomendações feitas pela comissão da ONU têm sido chutadas para canto pelo Estado angolano que, como qualquer entidade monárquica e ditatorial, é livre de aplicar aquilo que melhor está em consonância com os seus objectivos feudais e cleptocráticos.

Tal como defende os sipaios de sua majestade o rei, para o regime é fundamental que as autoridades estejam atentas para contrariar as campanhas lançadas contra Angola, por muito verdadeiras que sejam.

Por isso temos de continuar a trabalhar para tornarmos Angola naquilo que não é – uma democracia e um Estado de Direito.

Na verdade, não se trata de uma situação nova, embora ao longo dos últimos tempos, sobretudo por via da nova realidade trazida pela paz, se tenha tido a ingenuidade de pensar que os esclavagistas donos do país desde 1975 tivessem a hombridade de servir o Povo em vez de se servirem dele.

Precisamos de continuar a levar para os quatro cantos do mundo a mensagem de que o Estado angolano vive sem tiros (será isso paz?), mas que está muito longe da estabilidade, da inclusão, de equidade social.

Não se trata de uma tarefa impossível, na medida em que as ferramentas e as modalidades estão todas ao nosso alcance, algumas contando mesmo com o apoio dos amigos de Angola que, necessariamente, não são amigos do regime.

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