Para Mia Couto, além de “manchar” os sul-africanos, a xenofobia na África do Sul, especificamente contra moçambicanos, demostra um sentimento de ingratidão, um ato “bárbaro” contra os cidadãos de um país que ajudou a África do Sul na luta contra o regime do apartheid e na consolidação da sua economia, tendo-se tornado uma das maiores economias do continente africano.
“N ós não a esquecemos. Talvez mais do que qualquer outra nação vizinha, Moçambique pagou caro esse apoio que demos à libertação da África do Sul. A frágil economia moçambicana foi golpeada. O nosso território foi invadido e bombardeado. Morreram moçambicanos em defesa dos seus irmãos do outro lado da fronteira”, refere a carta, lembrando que Jacob Zuma viveu refugiado por um longo período em Maputo, durante a luta do Congresso Nacional Africano (ANC) contra o regime do apartheid, que terminou em 1994.
O escritor moçambicano apela ao Governo sul-africano a redobrar esforços para controlar a situação, mobilizando o exército, caso necessário, como forma de evitar que mais pessoas morram vítimas dos ataques xenófobos e que a situação se alastre para outras regiões.
“Ponha imediatamente cobro a esta situação que é um fogo que se pode alastrar a toda a região, com sentimentos de vingança a serem criados para além das suas fronteiras. São precisas medidas duras, imediatas e totais que podem incluir a mobilização de forças do exército”, escreve Mia Couto, reiterando que é a própria África do Sul que está a ser atacada.
Desde que começou a onde de violência xenófoba contra estrangeiros africanos na África do Sul, várias manifestações de populares em retaliação ao fenómeno foram registadas em Moçambique.
Na sexta-feira, um grupo de moçambicanos, maioritariamente trabalhadores da construção civil, cortou a principal estrada entre Moçambique e a África do Sul durante cerca de 30 minutos, em retaliação contra a xenofobia.
Na quinta-feira, centenas de moçambicanos impediram, sem violência, a entrada de cidadãos sul-africanos nas minas de carvão da Vale em Tete, centro de Moçambique, também em retaliação à onda de xenofobia na África do sul.
Hoje, nas primeiras horas da manhã, mais de 100 pessoas manifestaram-se na capital moçambicana contra a onda de violência xenófoba na África do Sul, numa marcha que teve como destino a Embaixada sul-africana em Maputo.
Africa do sul tem que pensar muito na mizade a xenofobia