Sketches in Angola

Sketches in Angola - Folha 8

Kumbú do “Trânsito” também em trânsito

R egular o trânsito numa cidade esburacada e caótica como Luanda nem ao Diabo viria a ideia. Mas é preciso fazê-lo e para isso é que há a tecnologia de ponta. Nessa linha de planeamento surgiu há tempos atrás a ideia de instalar ali na Maianga, e noutros sítios da cidade, semáforos para regular o trânsito.

Levantaram-se então vozes discordantes nos bastidores da Viação e Trânsito, cujo labor, convenhamos, é um trabalho titânico, merecedor de respeito. Levantaram-se vozes discordantes, dizíamos, precisamente porque sobre esse ponto polémico dos semáforos para regular o trânsito numa cidade em que a energia eléctrica já de si é um desastre, seria provocar novos desastres.

Mas os especialistas pagos pelo GPL asseguraram que esses novos semáforos mesmo sem energia funcionariam, segundo um sistema accionado por energia solar. Era um projecto de vanguarda tecnológica que, segundo eles, valia a pena que fosse financiado para ajudar a resolver os problemas de trânsito em Luanda.

O projecto, finalmente, teria sido aceite. Portanto, o kumbú saiu dos cofres do Estado. Normal. Mas onde é que está a energia solar dos semáforos, e os contratos dos especialistas!?….e o kumbú da energia solar!!? A habitual brincadeira de enriquecimento ilícito!

Derrapagens da bajulação

Q ue o jornalista Salas Neto, correndo sérios riscos de ser apoquentado por “ordens superiores”, tenha vindo a terreiro Facebookiano (já lá vai algum tempo, é verdade) se insurgir contra os estapafúrdios contornos que estão a tomar as recorrentes manifestações da bajulação ao presidente José Eduardo dos Santos (JES), dá uma ideia do que podem pensar aqueles que estão amarrados ao regime, com rédea curta, ou comprida, pouco importa, em todo o caso numa de se piares fino demais vais prá rua, vais, vais!

Nós, os do Folha 8, não vamos prá rua, já lá estamos, de modo que revelar o que nos parece errado, doloso e mesmo, por vezes, criminoso, por parte de gente ligada de alguma forma ao regime JES/MPLA, não nos apoquenta.

Assim, para ilustrar aquilo que o nosso confrade revelou, vamos dar dois exemplozinhos. O primeiro é de origem, digamos, privada, fomos buscá-lo ao amigo Augusto Santos que revelou o seguinte: numa festa à qual ele participava por ser dia do Herói Nacional, 17 de Setembro, o DJ de serviço pediu uma salva de palmas para o Engenheiro António Agostinho Neto.

Fez-se uma espécie de “silêncio milimétrico”, o DJ percebeu que tinha borrado a falatura, pediu desculpas e mais tarde explicou à sua maneira o que se tinha passado, “A força do hábito!!”, disse ele…

O segundo exemplo é de gema puríssima da Corte Real de JES e com sabor celestial.. Estêvão Alberto, adido de imprensa da Embaixada de Angola em Portugal, após proferir um discurso alusivo ao 72º aniversário de JES, sem medo nenhum de ser desmentido colocou a figura de José Eduardo dos Santos no mesmo pé de igualdade e ao mesmo nível que o Filho do Deus cristão feito homem, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Paixão e morte da nossa velha Luanda

S erá que ninguém vê o que se está a passar? Descemos o “eixo-viário”, olhamos em volta e não vemos bem o Mussulo, temos de espreitar entre as torres. Vemos é as torres, com uma coisinha lá ao fundo, o Mussulo escondido.

Estamos cercados de torres, gordas, feias, redondas e cúbicas, a estragar a beleza da antiga Luanda, a matar a paisagem, impondo-se ao olhar.

Depois, chegamos à antiga cervejaria Biker e estremecemos. Está a morrer e ninguém vê. Ao lado está uma torre grande, depois, uma rua que leva ao BPC e lá ao fundo o Teatro Elinga, futuro parque de estacionamento de automóveis, promoção superavit caucionada pela ministra da Cultura (a dela)!… Luanda, cidade tão linda, está desfigurada, operada por cirurgiões da estética financeira, capazes de transformar o belo em kumbú.

O Hotel Panorama foi vítima disso e do cálculo habitual: «Dois andares é pouco, podemos fazer mais, dez, vinte, sonhar mesmo em fazer 120, como o Burj Fakira no Dubai. “Zimbora! Angola a crescer e o mundo a pasmar”. Dá vontade de vomitar!

Texto de Arlindo Santana

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