Cerca de 1.150 delegados da UNITA reúnem-se a partir de amanhã, em Luanda, para o XII congresso ordinário do maior partido da oposição em Angola, que servirá para escolher o líder e candidato às eleições de 2017.
A sessão de abertura do congresso está agendada para a manhã de quinta-feira, em Viana, nos arredores de Luanda, e a eleição do presidente da UNITA, à qual concorrem os deputados Lukamba ‘Gato’, Kamalata Numa e Isaías Samakuva, decorrerá no sábado.
A preparação deste congresso, que arrancou a 1 de Julho, envolveu a realização de 18 conferências provinciais de militantes, 164 municipais, cinco assembleias de núcleos das estruturas centrais e uma conferência dos antigos combatentes, informou o partido.
Está a prevista a presença de 1.150 delegados ao congresso, que vão votar para a escolha do líder do partido, mas segundo informação da UNITA, até terça-feira, alguns representantes provenientes de Portugal não tinham ainda visto de entrada em Angola.
O candidato à liderança da UNITA Lukamba Paulo ‘Gato’, em declarações anteriores à Lusa, preconizou um partido que seja “mais combativo e ganhador”, para que seja possível liderar e operar a “mudança desejada” em Angola.
Lukamba Paulo ‘Gato’ reedita o duelo de há 12 anos, logo após a paz alcançada em Angola, com Isaías Samakuva – actual presidente da UNITA e recandidato – e quer preparar a “alternativa” para as eleições gerais em Angola, previstas para agosto de 2017.
Já Abílio Kamalata Numa acusou o MPLA, no poder desde 1975, de estar preocupado com a sua candidatura, por pretender, disse, a “subalternização” do maior partido da oposição angolana.
“O MPLA sempre quis lideranças que fossem subalternas, nós estamos a propor uma liderança que tenha competências para discutir os assuntos nacionais, sem se subjugar a nenhuma outra pressão”, apontou, defendendo uma postura de diálogo com aquele partido, mas respeitando a matriz das duas forças políticas, traduzido num “compromisso nacional” a estabelecer.
Isaías Samakuva, único presidente da UNITA desde a morte do fundador e líder histórico, Jonas Savimbi, em 2002, recandidata-se ao cargo garantindo que o partido está hoje em condições de governar Angola e responder às “necessidades de mudança” no país.
“Os angolanos devem-se unir, precisam de facto de ver mudanças significativas do país. E aqui nós queremos contar com todos, inclusive com aqueles angolanos que estejam no MPLA, mas que saibam que há a necessidade de uma mudança”, apontou anteriormente Isaías Samakuva.
Além da eleição do presidente do partido durante o dia de sábado – que será candidato do partido nas eleições gerais (legislativas e presidenciais) de Agosto de 2017 – e dos restantes órgãos dirigentes, este congresso vai ainda discutir o relatório da comissão política do período 2011-2015.
Os delegados vão ainda fazer a reavaliação da linha político-ideológica do partido, rever dos estatutos e aprovar um programa para o período 2015-2019.
Isaías Henriques Ngola Samakuva
Foi eleito presidente da UNITA eleito pela primeira vez em 2003, ano em derrotou Lukamba Paulo “Gato” e Dinho Chingunji. Em 2007 o derrotado foi Abel Epalanga Chivukuvuku e em 2011 José Pedro Cachiungo.
Filho de Henrique Ngola Samakuva e de Rosália Ani Ulundu, Isaías Henriques Ngola Samakuva nasceu a 8 de Julho de 1946 em Silva Porto-Gare (actual Kunje), na província do Bié, no planalto central de Angola.
Em 1970, foi professor na Missão Evangélica de Camundongo e depois fez um curso de Teologia no Seminário de Dondi, onde se tornou pastor evangélico.
A entrada formal na UNITA deu-se em 1974 e, um ano mais tarde, foi admitido como funcionário do Ministério do Trabalho, no então Governo de Transição de Angola.
Em 1976, devido à insegurança política, retirou-se para as matas, instalando-se numa das bases da UNITA na então Região Militar 25, transitando depois para a Região 45, onde ocupou o cargo de chefe de gabinete do posto de comando.
Dois anos mais tarde, Samakuva foi transferido para a Região 11 para chefiar o gabinete do então líder da UNITA, Jonas Savimbi, seguindo depois para a região do Kuando Kubango, onde passou a coordenar a logística da UNITA na denominada Frente Sul.
Em 1979, foi delegado à 12.ª Conferência Anual da UNITA e eleito membro do Comité Central, tendo sido transferido para a África do Sul como representante do movimento.
Em 1984, foi nomeado vice-presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros da UNITA e, em 1986, eleito no VI Congresso para o secretariado permanente e para a direcção do gabinete de Savimbi.
Entre 1989 e 1993, foi representante da UNITA no Reino Unido e, mais tarde, delegado na Europa.
Depois do fracassado acordo de paz assinado em Lisboa (1991) e do Protocolo de Lusaca (1994) foi constituído em Luanda o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional e Samakuva regressou então a Angola para liderar a delegação do partido na Comissão Conjunta constituída para acompanhar a aplicação do Protocolo de Lusaca.
Em 2000, foi indigitado chefe da missão externa da UNITA e, na sequência da morte de Jonas Savimbi, em combate, a 22 de Fevereiro de 2002, regressou a Angola para discutir o cessar-fogo no âmbito do Protocolo de Lusaca.
Armindo Lukamba “Gato”
O General Paulo Armindo Lukamba “Gato” (nascido Armindo Lucas Paulo em 13 de Maio de 1954 no Huambo) comandou a UNITA desde a morte de António Dembo, em 3 de Março de 2002, até perder a liderança em 2003 com a eleição de Isaías Samakuva.
Lukamba “Gato” juntou-se à UNITA depois da Revolução dos Cravos em Portugal. Serviu durante oito anos em França, como representante local da UNITA.
De 1995 até à morte de Jonas Savimbi, em 22 de Fevereiro de 2002, foi Secretário-Geral da UNITA. Depois da morte de Savimbi, e da morte do Vice-Presidente, António Dembo, 10 dias mais tarde devido a diabetes e ferimentos em combate, “Gato” assumiu o controlo da UNITA e chefiou a organização nas negociações que puseram fim à guerra civil angolana em Abril de 2002.
Lukamba “Gato” liderou a UNITA como partido político até 2003, quando Isaías Samakuva venceu as eleições partidárias.
Abílio José Augusto Kamalata Numa
Tão logo que regressou das matas em 2002, após o conflito armado, este general recusou-se regressar às FAA, a semelhança dos seus outros colegas, optando por passar a reserva para se dedicar aos estudos.
Como detinha o 7º Ano Liceal do período colonial, inscreveu-se no curso superior de Gestão Financeira Pela Universidade Católica de Brasília que terminou em 2010. Também concluiu com distinção um mestrado em “em direcção estratégica e gestão de inovação ” pela Universidade autónoma de Barcelona, em Espanha.
Para alem de deputado pela bancada parlamentar da UNITA, o general Kamalata Numa é considerado como um dos mais importantes oficias generais da historia da UNITA. Em 1991, após os acordos de Paz de Bicesse, foi indicado por Jonas Savimbi para Incorporar o Projecto de fundação das FAA, onde foi Co-fundador com o posto de General de três Estrelas, tendo frequentado o Curso de Comando e Estado-Maior.
Abandonou o exercito no seguimento do retorno à guerra em Angola. A sua última missão da guerrilha, foi de comandar nos últimos dias a coluna presidencial.
É o único dirigente da UNITA que veio das matas e a quem os membros do regime, nos seus discursos não humilham dizendo que foi apanhado com “fome preste a morrer” e que a sua vida deve-se ao Presidente José Eduardo dos Santos que optou por poupar ao invés de mandar executar. Como fez com outros.
Em 2002, o general Numa apresentou-se às autoridades meses depois, por ter escapado para se instalar perto da fronteira com a Zâmbia.
Regressado a Luanda, dedicou-se à vida política chegando a ser secretário-geral do seu partido. Goza de popularidade e estima da juventude, que o vêem como uma das vozes da UNITA mais temida pelo regime angolano.
Folha 8 com Lusa