O monte onde fiéis da seita “A luz do mundo” e a polícia e militares se envolveram em confrontos mortais, no Huambo, foi transformado numa área militar e, por isso, inacessível a quem queira investigar e recolher provas do massacre em que morrem centenas de cidadãos.
S egundo David Mendes, advogado e dirigente da associação cívica Mãos Livres, essa constatação foi feita por um grupo de quatro advogados – incluindo o próprio – que assegura a defesa de Julino Kalupeteka, o líder da seita, ao tentarem aceder ao local do crime, no monte Sume, onde aquela seita tinha o seu acampamento, com milhares de seguidores.
“Fomos à Caála, para chegar ao local onde ocorrerem os factos, só que a polícia impediu-nos de lá ir. Na versão do comando, aquele local é agora uma área militar porque se montou um quartel das forças armadas”, afirmou à Lusa David Mendes.
Kalupeteka, nome pelo qual também é conhecida a seita, está detido preventivamente há mais de um mês e meio, na sequência dos confrontos na Caála, província do Huambo, que levaram à morte, segundo a versão oficial, de nove polícias e 13 fiéis, a 16 de Abril. No entanto, de acordo com a investigação do Folha 8, morrem perto de mil civis.
“Nós queríamos fazer um levantamento ‘in loco’ do cenário do crime, mas fomos impedidos de lá entrar, no sábado, para fazer o nosso trabalho”, apontou David Mendes.
Em causa estão os confrontos entre os fiéis e a polícia, cujos agentes tentavam dar cumprimento a um mandado de captura de Kalupeteka e outros dirigentes daquela seita ilegal, e alguns dos seguidores que estavam concentrados no acampamento daquela igreja.
Outras versões, nomeadamente da oposição, apontam para “várias centenas” de mortos entre os seguidores da seita, cujo líder foi detido no dia seguinte, permanecendo desde então em prisão preventiva.
O governo teme qualquer investigação independente a este massacre pelo que tem vindo a recusar os pedidos de uma investigação internacional a estes acontecimentos.
Segundo o advogado da associação Mãos Livres, mais cerca de 70 fiéis da mesma seita estarão detidos na sequência da operação policial no monte Sume. “Estamos agora fazer um levantamento de todos os seguidores que estão presos para nos constituirmos em seus defensores no tribunal”, disse ainda David Mendes.
Face à mediatização deste caso, que motivou mesmo a condenação, por mais do que uma vez, do presidente José Eduardo dos Santos, o advogado da Mãos Livres afirma que dificilmente Kalupeteka terá um julgamento “justo”, pretendendo assumir, por esse motivo, uma “defesa condigna” de elementos que “publicamente já estão condenados”.
“Continuamos a protestar o facto de o Kalupeteka continuar incontactável numa cela individual [numa prisão do Huambo] e sem acesso a informação”, rematou David Mendes.
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