O senado da República Democrática do Congo rejeitou esta sexta-feira a proposta de realização de um recenseamento nacional antes das eleições presidenciais de 2016, depois de quatro dias de protestos contra um projecto de alteração da lei eleitoral pelo partido governamental, que a oposição e a sociedade civil consideram ser uma manobra para alargar o mandato do presidente Joseph Kabila.
O projecto previa a realização de um censo eleitoral antes das próximas eleições presidenciais, previstas para 2016, mas que, segundo a oposição, poderia durar entre dois a três anos, permitindo assim que Kabila ficasse no poder durante esse período.
O presidente, que obteve um segundo mandato de cinco anos em 2011, está constitucionalmente impedido de tentar um terceiro mandato no próximo ano.
Organizações de defesa de direitos humanos disseram que pelo menos 42 pessoas morreram durante os protestos desta semana. O Governo admitiu a morte de 12 pessoas.
Entretanto, o ministro da Informação garantiu que o presidente Kabila não tem a intenção de fazer qualquer emenda constitucional para se manter no poder. Lamber Mende assegurou que a República Democrática do Congo não é o Burkina Faso, onde o presidente Blaise Campaoré tentou mudar a constituição para ficar no poder.
Hoje, o Senado modificou a proposta de lei e impôs que qualquer revisão da lei eleitoral respeite o prazo constitucional para as eleições.
“Nós escutamos a rua. É por isso que a votação de hoje é histórica”, disse o presidente do Senado, Leon Kenga Wa Dondo, após a aprovação da proposta.
“As alterações contidas neste artigo sobre dados demográficos não apontam para um recenseamento eleitoral porque qualquer acção não pode ir além dos limites da Constituição”, explicou o presidente do Senado.
Nas ruas de Kinshasa, os apoiantes da oposição reagiram com alegria à decisão do Senado. Dezenas de pessoas no centro gritaram vitória após a votação.
“Há um sentimento de alegria”, disse Mbuyi, um empresário de 45 anos de idade. “O Senado mostrou que é um órgão sábio e poupou o sangue do povo congolês que podia vir a ser derramado”, concluiu.
A comissão parlamentar vai agora procurar conciliar as posições das duas câmaras antes de uma votação final, que deve acontecer até segunda-feira, último dia da sessão parlamentar.
Os EUA, a França e o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, apelaram esta semana ao Governo de Kabila para mostrar contenção durante os protestos e pediram que as eleições fossem realizadas dentro do prazo imposto pela Constituição.
Entretanto, enquanto nas ruas de Kinshasa decorriam manifestações, o presidente Kabila recebia em privado o seu homologo de Angola, José Eduardo dos Santos.
Os dois presidentes afirmaram-se satisfeitos com as relações de cooperação entre os dois países. Segundo a agência de notícias Angop durante a visita foram assinados acordos de cooperação nos sectores dos transportes aéreo, ferroviário, rodoviário e marítimo bem como transfronteiriço.
Durante o encontro os dois chefes de estado discutiram também assuntos regionais e internacionais, com destaque para a situação na zona dos Grandes Lagos, com destaque para a situação na zona leste do Congo Democrático.
A visita, segundo ainda a Angop, a convite de Kabila, inscreveu-se no quadro de reforço das relações bilaterais de longa data entre os dois países, que partilham uma fronteira comum de 2.500 quilómetros.
Fonte: Voz da América