Técnicos de saúde do Programa das Doenças Tropicais Negligenciadas angolano iniciam hoje no município de Nharea, na província do Bié, uma investigação à infecção por oncocercose, que já deixou sem visão 300 pessoas na localidade.
O coordenador do programa, Pedro Van-Dúnem, disse que a equipa, que realiza uma pesquisa para identificar doenças tropicais negligenciadas, já passou pelo município de Icolo e Bengo, em Luanda, província do Huambo e no Bié e já rastreou os municípios do Kuito e do Chinguar.
As equipas vão hoje desdobrar-se pelos municípios de Andulo e de Nharea, este último a 175 quilómetros do Kuito, capital do Bié, e onde mais de 300 pessoas, maioritariamente homens, ficaram cegas, afectadas, presume-se, por oncocercose, também conhecida como “cegueira dos rios”.
Pedro Van-Dúnem sublinhou que a situação na Nharea “é antiga”, e do conhecimento do programa através de relatórios com informação clínica, fornecidas pelo supervisor do programa no Bié.
“Entretanto, a informação clínica precisa sempre de uma confirmação laboratorial e nós neste exercício do mapeamento, a província do Bié vai ter a oportunidade de confirmar laboratorialmente a existência ou não de facto de casos de cegueira por causa de oncocercose”, referiu o responsável.
De acordo com Pedro Van-Dúnem, existem áreas pesquisadas onde não foram detectadas larvas, as pessoas interrogadas não conhecem casos da doença e os resultados dos testes realizados foram negativos, indicando que não há a presença de oncocercose.
“Porque nem tudo o que é cegueira é oncocercose. É uma situação em que pedimos paciência às pessoas”, frisou.
Depois do Bié, região no centro de Angola, a equipa segue para a província do Cuando Cubango, no sudeste do país.
A pesquisa decorre desde Julho, vai durante 55 dias e passar por 147 localidades para o mapeamento de doenças como a oncocercose, elefantíase ou pé de elefante, a dranculíase ou verme-da-guiné e a hematúria ou bilharziose intestinal.
O que é a oncocercose?
As formas adultas parasitam o ser humano, alojando-se em nódulos no tecido conjuntivo, por baixo da pele ou no tecido adiposo formando o oncocercoma. No local reproduzem-se sexuadamente durante um período que pode chegar aos 15 anos, gerando inúmeras larvas minúsculas ou microfilárias, quase invisíveis a olho nu.
Estas disseminam-se aparecendo por todo o corpo: por baixo da pele, dentro dos olhos, na linfa, urina, saliva e líquido céfalo-raquidiano. Algumas surgem no sangue. Algumas maturam-se dentro do corpo em novas localizações produzindo novos nódulos, mas a maioria acaba por morrer devido à acção do sistema imunológico.
Há 18 milhões de infectados no mundo e 99% localizam-se em África. Existe nos países tropicais de África, na península da Arábia, e em menor dimensão na América de clima tropical-
O principal vector é a espécie de moscas Simulium damnosum, que se reproduzem principalmente em rios. Por esse motivo a doença é também conhecida como cegueira dos rios. Só afecta o ser humano. Nas áreas endémicas de África antes dos programas de contenção, a infecção repetida levava a que mais de 50% dos homens ficassem cegos antes dos 50 anos, e as crianças eram educadas a considerar esse resultado como o seu futuro normal de todo o mundo.