Angela Dorothea Merkel sabe coisas sobre Portugal que os súbditos lusos desconhecem. É obra. E também julga saber tudo sobre a Grécia. Ou seja, sendo forte comos fracos, está a tentar fazer, agora pela via política e económica, o que Hitler tentou pela via militar. Ser dona da Europa. O próximo campo de concentração, tipo Auschwitz-Birkenau, será em Atenas.
Por Orlando Castro
D isse ela que apesar da sua dureza, o programa esclavagista do governo português goza de grande apoio político e social. Também disse o mesmo sobre os anteriores desgovernos gregos até que, pela voz dos que nasceram no berço da democracia, surgiu o governo de Alexis Tsipras a dizer que a democracia não é aquilo que a Alemanha quer.
Angela Dorothea Merkel foi informada que, afinal, os escravos portugueses são daquele tipo de gentalha que diz que “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti”. E se calhar até tem razão. Mas os gregos são, goste-se ou não, de outra têmpera.
A chanceler alemã, na sua qualidade de líder de alguns países que quer como protectorados, não se cansa de elogiar os “progressos alcançados na Europa para uma política sustentável”, extensíveis à Itália, Espanha e Irlanda.
Quando a barriga está vazia a coluna vertebral tende a diluir-se. Foi isso que aconteceu com aqueles parceiros para quem chega um prato de lentilhas ou de farelo. Para os outros parceiros é garantida lagosta e várias refeições por dia. Os portugueses comeram e calaram, até agora. Os gregos também se calaram mas, fartos de se alimentarem da fome, disseram basta.
Embora nunca tenha sido trabalhador (nem isso é relevante), o ainda primeiro-ministro de Portugal fala em nome deles e fortalece-se por saber que os escravos estão anestesiados pela barriga vazia, razão pela qual um qualquer prato de farelo é visto como uma dádiva de Deus.
Pois é. Tal como os sacos vazios não se aguentam de pé, também os portugueses, e pela mesma razão, estão de cócoras e de mão estendida. Passos Coelho ri-se e Merkel aplaude. E tudo corria pelo melhor até que os gregos decidiram virar a mesa de pernas para o ar.
Por alguma razão o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, apela à chanceler Angela Merkel, considerando numa entrevista ao jornal alemão Bild que ela “tem a chave” para resolver a crise actual.
“Os chefes de governo da União Europeia devem agir. E entre eles (Angela Merkel), enquanto representante do país mais importante, tem a chave, espero que a utilize”, declarou o ministro grego, adiantando que o seu governo está “aberto a novas propostas das instituições” após o fracasso das negociações em Bruxelas no sábado.
Para já os ministros das Finanças da zona euro, todos bajuladores das teses alemãs, recusaram prolongar uma semana o programa de ajuda em curso, que termina a 30 de Junho.
O governo grego vai, entretanto, organizar a 5 de Julho um referendo sobre a proposta dos credores (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia), que impõe reformas e cortes orçamentais em troca de um resgate, e recomenda que se vote “não”.
Mas se as instituições apresentassem novas propostas e elas fossem “bem melhores” que as de quinta-feira “poderíamos a qualquer momento alterar a nossa recomendação e propor aos eleitores que as aceitassem”, disse Varoufakis numa entrevista que o Bild vai divulgar na segunda-feira e da qual divulgou extractos hoje.
O governo de Alexis Tsipras, que chegou ao poder com uma mensagem anti-austeridade, recusa nomeadamente a reforma das pensões exigida pelas instituições. Pois é. Mas a nova democracia “made in Germany” não permite devaneios. Para Berlim a liberdade dos gregos termina onde começa a dos alemães, e a liberdade dos alemães… nunca termina.
Os gregos e em particular Varoufakis já “passaram a bola” muitas vezes a Merkel, líder da maior economia da Europa e que negociou directamente com Tsipras nas últimas semanas.
A chanceler sabe, aliás, que a sua máquina de “guerra” parece imbatível e, por isso, impõe a sua regra de ouro: quero, posso e mando. Hitler também tinha a mesma regra de ouro. Mas não foi suficiente.