“O luxuoso estilo de vida exibido pela elite do país cria uma grande expectativa entre os angolanos sobre o que o dinheiro do petróleo devia proporcionar”.
A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou hoje, na linha do que o F8 tem denunciado desde há muito, que o Governo de José Eduardo dos Santos tem de gerir cuidadosamente os cortes na despesa pública que está a planear, senão corre o risco de ter repercussões sociais devido às expectativas da população.
“Não há dúvidas de que o Governo precisa de rever a despesa pública face ao preço actual do petróleo – que está agora abaixo dos 35 dólares por barril quando o Orçamento Gera do Estado prevê 81 dólares -, mas também precisa de gerir cuidadosamente os cortes na despesa sob pena de se arriscar a ter repercussões sociais”, lê-se no documento que analisa a estratégia do Executivo do MPLA para a Administração Pública.
No relatório que se destina essencialmente aos investidores, os economistas da revista britânica The Economist mostram ainda dúvidas, também elas consistentes, sobre a estratégia do Governo para a função pública, afirmando que “congelar os salários é uma estratégia potencialmente arriscada, porque tem um impacto directo na população. Dado o clima de austeridade devido ao colapso dos preços do petróleo, e ao já alto desemprego elevado, a estratégia pode fomentar a agitação social”.
Lembrando que, de acordo com números oficiais, os salários públicos representam 30% da despesa considerada no OGE para 2015, a EIU afirma que os gastos com a função pública em Angola “são altos, principalmente por causa das empresas públicas mal geridas, por isso tentar reduzir a despesa com salários é uma boa ideia”.
O problema, defendem, é mais profundo. Ou seja, “desde o final das três décadas de guerra civil, em 2002, Angola tem estado inundada de dinheiro, devido ao petróleo e ao investimento externo, e alguns sectores da sociedade têm lucrado imenso”, escreve a EIU, notando que, “no entanto, numerosas camadas da população ainda vivem na pobreza, e até aqueles considerados de classe média devido às qualificações profissionais lutam para conseguir pagar as contas”.
Acresce a isto que “o luxuoso estilo de vida exibido pela elite do país – muitos dos quais (ou quase todos) têm fortes ligações pessoais à família do histórico Presidente, José Eduardo dos Santos -, cria uma grande expectativa entre os angolanos sobre o que o dinheiro do petróleo devia proporcionar”, conclui o relatório.