Amanhã, terça-feira, é a vez de o activista Luaty Beirão entrar em cena, obrigado pelas autoridades do regime, a dar corpo ao que, supostamente, será mais uma sessão do julgamento em que é, tal como os outros jovens, acusado de tudo quanto se lembrarem os autores da peça que decorre no Tribunal Provincial de Luanda.
O cerne da farsa, escrita pelos criativos do Ministério Público do regime, conta que os jovens activistas planeavam acções de rebelião e atentado contra o Presidente da República. Embora se trate de uma peça que recupera partes de outras já vistas, esta apresenta alguns novos figurantes. Quem não muda são os vampiros.
Hoje foi a vez de os espectadores ouvirem o réu, Inocêncio de Brito, que serviu de deleite aos donos da justiça, dando assim cumprimento a um orgasmo canino dos que têm por missão dar prazer, mesmo que mórbido, ao dono do país.
De acordo com o guião, a acusação repetiu o refrão usado com os actores (presos) anteriores, querendo saber de Inocêncio de Brito – é assim que está escrito nas instruções superiores – quem é o líder destes “jovens frustrados” (os direitos de autor desta definição pertencem a José Eduardo dos Santos), quem os patrocina, quem os apoia, que Deus seguem etc..
O juiz Januário Domingos José, imbuído do seu habitual e congénito servilismo perante o “querido líder”, quis também saber o que o réu pensava sobre o vídeo que apresentou aos outros réus em que aparecem Luaty Beirão e Domingos da Cruz.
Registe-se que esta questão denota já uma estrondosa evolução mental por parte do juiz. A não ser que o tenha feito de forma involuntária. É que Januário Domingos José deu como adquirido que os réus até… pensam. Ora, como se sabe, até agora pensar era um privilégio só ao alcance de quem é do MPLA, de quem sabe que o MPLA é Angola e que Angola é o MPLA.
Inocêncio de Brito, ciente de que – mesmo à revelia do regime – pensa pela sua cabeça, explicou que não podia pronunciar-se porque o vídeo estava editado e pediu que o deixassem ver na íntegra.
O juiz não gostou da explicação. A postura intelectual dos réus incomoda-o. Terá sido nesta altura que, admite-se, se tenha arrependido de dar oportunidade aos acusados de se exprimirem. Antigamente era tudo muito mais simples. Matava-se primeiro e interrogava-se depois.
Aliás, o acampamento de guerra montado pelas autoridades em redor do Tribunal mostra, se dúvidas houvesse, que o regime só conhece a lei da força. Quando lhe falam da força da lei… puxa imediatamente das pistolas.
O presidente do PDP-ANA, Sindiangane Mbimbi, comentou – segundo revela a Voz da América – que o julgamento “vai custar caro a esses rebeldes chamados governantes”, que o povo já não quer.
O julgamento dos 17 activistas entra assim na sua terceira semana, depois de ter sido agendado para durar cinco dias. De facto não se percebe a razão de manter em cena durante tanto tempo esta farsa. Se a sentença foi lavrada antes do julgamento começar, mais valia lê-la logo.