As remessas, para Lisboa, dos portugueses que estão a trabalhar em Angola caíram em Dezembro 51,5% face a Dezembro do mês anterior, para 16,7 milhões de euros, indicam os dados hoje divulgados pelo Banco de Portugal no boletim estatístico.
S egundo os números, que se referem ao último mês do ano passado, os portugueses a trabalhar em Angola enviaram para Portugal 16,7 milhões de euros, quando em Dezembro de 2013 tinham enviado para o seu país cerca de 34,5 milhões de euros.
Os dados hoje avançados pelo Banco de Portugal confirmam as dificuldades que têm vindo a ser noticiadas relativamente ao envio de divisas em moeda estrangeira para fora de Angola, num contexto de forte quebra do preço do petróleo, das receitas fiscais e da escassez de divisas estrangeiras, nomeadamente dólares.
No caso inverso, ou seja, o montante das verbas que os angolanos a trabalhar em Portugal enviaram para o seu país, a variação é também significativa: em Dezembro, enviaram 2,27 milhões de euros, face aos 1,81 milhões enviados no mesmo mês de 2013, o que mostra uma variação positiva de 25,4%.
Numa análise mais ampla, registe-se que entre Janeiro e Novembro de 2014, as remessas enviadas de Angola para Portugal sofreram uma queda de 14,3%, equivalente a 38,6 milhões de euros, quando comparado com idêntico período de 2013.
Ao todo, foram enviados para Portugal 213,6 milhões de euros nos onze primeiros meses de 2014. A tendência de descida começou a desenhar-se logo em Março, após uma ligeira subida dos dois meses anteriores.
Recorde-se a este propósito que o presidente do Conselho de Administração do BIC, Fernando Teles, classificou no dia 4 deste mês, de “ridículo” o tratamento dado em Portugal à quebra registada em Janeiro nas remessas de Angola para Portugal.
“É ridícula a forma como as pessoas estão a tratar a situação do mês de Janeiro em Angola”, afirmou o presidente do banco. “Houve dificuldades, mas são ridículas as parangonas nos jornais a dizer que houve menos 39 milhões de euros a vir para Portugal”, acrescentou.
Fernando Teles considera que, no contexto de um país que vende “500 a 600 milhões por semana”, 39 milhões é uma verba insignificante. “Isso não é nada. É zero”, defendeu.
Para o presidente do BIC, a leitura económica da situação deve ter em conta que “todos os anos, em Janeiro, Fevereiro e Março não há divisas suficientes”, na sequência de práticas económicas angolanas, como o “consumo desenfreado [de Dezembro], da cultura dos cabazes, da distribuição de lucros”, com as quais a economia do país se ressente nestes meses.
Na opinião do gestor, as dificuldades verificadas nas remessas terão contado “com a agravante” da situação motivada pela descida do preço do petróleo e também com o “pânico” dos portugueses após as férias. “Vieram para Portugal com dinheiro na carteira e quando chegaram lá (a Angola) ouviram dizer que o câmbio estava a desvalorizar, pelo que foram todos a correr para as casas de câmbio”, explicou.
Fernando Teles criticou, no entanto, a exploração que esses estabelecimentos fizeram da situação, “isso não é política”, defendeu, e realçou que essa postura não se replicou na banca.
“Não há razões para pânico”, garantiu. “É preciso dialogar com os bancos e conversar com quem conhece a realidade do país, mas os primeiros meses do ano são sempre muito difíceis”, acrescentou.
Ainda no contexto do conhecimento sobre a realidade do país, Fernando Teles recomendou aos empresários portugueses que invistam na diversificação da economia angolana, onde, “em grande parte dos sectores de actividade, está tudo por fazer”.
Além da produção agro-pecuária, o presidente do BIC recomendou também a aposta no fornecimento de equipamentos industriais para o sector petrolífero, que, “bastante acarinhado” por Angola, dá garantias de longevidade e facilidades de licenciamento, mas está a ser abastecido sobretudo por empresas norte-americanas, que lhe fornecem “biliões e biliões de dólares”, concluiu.