O ministro da Administração do Território de Angola diz ser “de pouca honestidade” a “insistência” da eurodeputada portuguesa Ana Gomes junto do Parlamento Europeu em questões sobre direitos humanos em que foi “devidamente informada” na sua visita a Luanda.
A mando de Eduardo dos Santos, Bornito de Sousa reagia desta forma à resolução aprovada pelo Parlamento Europeu, na quinta-feira, sobre as “tentativas incessantes” das autoridades angolanas para limitar as liberdades e outros direitos em Angola.
Para o governante angolano, a resolução adoptada (550 votos a favor, 14 contra e 60 abstenções) pelo Parlamento Europeu é influenciada pelo relatório que a eurodeputada produziu, documento que considera ter “um conjunto de afirmações gratuitas não confirmadas”.
Segundo Bornito de Sousa, em declarações emitidas hoje pela rádio pública do MPLA, diz que sobre algumas dessas informações, Ana Gomes recebeu o devido esclarecimento, nomeadamente no encontro com o ministro da Justiça de Angola, durante a visita a Luanda, em Julho.
“E o seu relatório omite isso e faz um conjunto de declarações, muitas delas gratuitas”, frisou, exemplificando com a “insistência” da eurodeputada sobre os mais de mil mortos, resultados no caso da seita Kalupeteca no Monte Sumi, este ano, na província do Huambo.
“E efectivamente na altura também lhe foi dito, (que) mil mortos onde é que estão enterrados. Mil mortos, ninguém procura, alguém já procurou, a própria União Europeia, a Cruz Vermelha, a procurar pelos mil mortos. Onde é que estão?”, questionou o ministro.
Recorde-se que, a fazer fé no mais recente trabalho de branqueamento emitido pela televisão portuguesa TVI, nem sequer terá havido mortos entre os seguidores de Kalupeteca.
O ministro admite que o relatório aponta situações e críticas ao Governo de Angola, algumas que são de ter em conta e “em relação a elas o Governo tem estado já a trabalhar”.
O titular da pasta da Administração do Território de Angola disse, entretanto, que o Governo angolano conhece o carácter da eurodeputada Ana Gomes, que respeitam, mas em alguns casos tem criado dificuldades.
“Nós sabemos que a senhora deputada Ana Gomes insistiu durante muito tempo quando era primeiro-ministro, o seu secretário-geral também, o José Sócrates, com os supostos voos da CIA numa das bases dos Açores [Portugal], isso não ficou provado”, citou Bornito de Sousa, exemplificando uma das dificuldades.
“A senhora deputada Ana Gomes uma vez foi uma das observadoras em eleições da Etiópia, e por ter feito uma declaração antes mesmo da produção dos resultados eleitorais provocou um incidente gravíssimo que desestabilizou gravemente a situação naquele país”, acrescentou.
O ministro esqueceu-se, como é conveniente, do que Ana Gomes também disse sobre as eleições em Angola. Nem tudo lembra, não é senhor ministro?
Mas nós lembramos. Ana Gomes, que integrou a missão da União europeia, disse que eram “legítimas as dúvidas que foram levantadas por partidos políticos e organizações da sociedade civil sobre a votação em Luanda”, ou que “posso apenas dizer que a desorganização foi bem organizada”.
Mas Ana Gomes foi mais longe: “À última da hora, foram credenciados 500 observadores por organizações que se sabe serem muito próximas do MPLA e parece que alguém não quis que as eleições fossem observadas por pessoas independentes”.
Ou, “as eleições em Luanda decorreram sem a presença de cadernos eleitorais nas assembleias de voto e isso não pode ser apenas desorganização…”
Bornito de Sousa manifestou disponibilidade das autoridades angolanas para dar contribuição na resolução dos problemas que estão a ser colocados, “mas tudo dentro da legalidade e do quadro institucional”.
Sobre os 15 jovens detidos em Luanda desde Junho, acusados do crime contra a segurança de Estado, também referidos no relatório, o ministro pediu serenidade e tempo para os órgãos de justiça realizarem o seu trabalho, o mesmo dizendo sobre o caso do Monte Sumi.