“Parece uma pescadinha de rabo na boca: o dirigente da associação Transparência e Integridade, Paulo Morais, disse que “não é difícil perceber quem são os destinatários dos empréstimos concedidos pelo BES Angola”, escreve o jornal português Público.
Por Orlando Castro
E acrescenta que “a comissão parlamentar de inquérito ao BES pediu-lhe, então, que fornecesse os dados que possuía. A resposta chegou na segunda-feira, com uma lista de nomes, sim, mas baseada em artigos de um jornal angolano, o Folha 8, e nas próprias palavras de Paulo Morais, em três programas da CMTV e num artigo de opinião que publicou no Correio da Manhã”.
Pressupõe este jornal, como outros, que a lista de nomes baseada, nomeadamente, “em artigos de um jornal angolano, o Folha 8” não têm credibilidade.
“Junto, como solicitado, documentação relativa aos beneficiários de empréstimos por parte do Banco Espírito Santo – Angola (BESA)”, diz a folha de rosto endereçada a Fernando Negrão, o presidente da comissão de inquérito. Um pouco abaixo da assinatura de Paulo Morais surge a descrição dos “anexos”: “Anexo 1 (lista de documentos), anexo 2 (lista de beneficiários), anexo 3 (USB drive)”.
Na página seguinte, pormenoriza o Público, surgem, numerados, os “documentos”: “Jornal Folha 8 17/5/2014”, por exemplo, ou “Programa CMTV Fogo Contra Fogo 5/3/2015”. São oito, no total. Quatro edições do Folha 8, um jornal dirigido por William Tonet, jornalista, advogado e militante da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE). Três programas da CMTV, Fogo Contra Fogo, em que Paulo Morais debate a actualidade com Marinho e Pinto. E uma crónica de Paulo Morais no Correio da Manhã.”
Mais: “São estes os únicos “documentos” que Paulo Morais entregou à comissão. O citado “anexo 3 (USB drive)” contém, de novo, os mesmos documentos, em versão integral. Mesmo que isso tenha poupado aos deputados o trabalho de pesquisarem em arquivos e hemerotecas o que estaria dito e escrito nos media citados, não parece haver, em São Bento, grandes motivos para agradecimentos.”
Continuemos com o Público: “É que a lista de nomes fornecida, de 15 pessoas (uma das quais faleceu em Janeiro de 2013), é apenas suportada pelas próprias denúncias de Morais e Tonet, amplamente conhecidas (até porque estavam divulgadas nos meios de comunicação social agora apresentados como suporte). Não é fornecido um único documento que sirva de fonte primária ou que permita perceber como o jornal Folha 8, e o vice-presidente da Transparência e Integridade, chegaram àqueles nomes e não a outros.”
Certamente quando o jornalista do Público, José António Cerejo, revelou recentemente a divida de Pedro Passos Coelho à Segurança Social portuguesa apresentou algum “documento que sirva de fonte primária ou que permita perceber como o jornal Público chegou” à conclusão de que, de facto e de jure, havia essa dívida. Certo? Não. Errado.
O Folha 8, tal como – presumimos – o Público, não tem que revelar as suas fontes, sejam eles primárias ou não.
No número 7 do Código Ético e Deontológico dos Jornalistas do Folha 8 pode ler-se: “O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os compromissos com elas assumidos. A não revelação das fontes é, aliás, uma das razões pelas quais vale a pena ser preso.”
Diz o Público, que “a Comissão decidiu, por unanimidade, pedir esses documentos e a lista de devedores, com o objectivo de os fazer chegar ao Ministério Público, que investiga a ruína do BES. O que recebeu não são provas, são outras versões (em papel e em vídeo) das mesmas denúncias que tinham sido feitas pela rádio.”
Já agora, deixamos à consideração dos deputados portugueses e dos nossos (de alguns, pelo menos) colegas portugueses uma basilar definição do que, cá em casa, consideramos ser fundamental: Se um jornalista não procura saber o que se passa, é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala, é um criminoso.
Mesmo não revelando as nossas fontes, primárias ou não, recusamo-nos a ser imbecis e, ou, criminosos. Nós fazemos o nosso trabalho. Já agora, que os deputados portugueses (e alguns jornalistas) façam o seu.