Mais um ano está prestes a terminar. No balanço deste ano temos as certezas que já tínhamos e mantemos as dúvidas que sempre nos acompanharam. Continuamos a achar que os nossos actuais governantes não são uma solução para o problema mas são, isso sim, um problema para a solução.
Por Orlando Castro
V amos por partes. As (nossas) certezas… com certeza.
Essas são, creio, quase unânimes entre os que não definem Angola porque, cada vez mais, apenas a sentem. Tantas vezes com dor, muitas outras com uma lágrima no canto do olho, e sempre na esperança de que o futuro há muito deveria ter nascido… assim soubéssemos (sobretudo os que estão no poder) ter a noção de que quem não vive para servir não serve para viver.
Ou seja. Temos (quase) tudo para ser um grande país e até uma grande nação. Deus, seja Ele quem for, deu a este espaço africano (tão mal dividido à régua e esquadro pelos colonizadores europeus) tudo o que era preciso para ser o maior entre os maiores. Também lhe deu, reconheça-se, um mosaico de povos capazes de valorizar mais o que os une do que o que os divide.
Temos (tanto quanto isso é possível) a certeza de que o que Angola não teve, nem tem, é bons amigos. Verdadeiros amigos. Americanos e soviéticos (entre os dois venha o Diabo e escolha) apenas se prestaram a ajudar-nos porque a troco de um chouriço recebiam um porco. A troco de armas recebiam barris de petróleo. A troco de minas recebiam diamantes.
Hoje será, talvez, diferente. Mas todos os cuidados continuam a ser poucos.
Os nossos amigos não são os que aparecem na Imprensa a oferecer próteses para os deficientes de guerra. E não são porque, importa recordá-lo, esses são os mesmo que forneceram as minas que provocaram toda essa catástrofe.
As nossas dúvidas. Algumas… apenas.
José Eduardo dos Santos, um presidente nunca nominalmente eleito, continua a confundir a obra-prima do Mestre com a prima do mestre de obras. Diz o Presidente que “honrar e declarar o nosso amor por Angola assume um carácter solene e especial”. É verdade. Mas isso não basta.
As crianças, por exemplo, que mendigam e morrem à fome nas ruas de Luanda também amam Angola. Amam-na e declararam esse amor. No entanto, Eduardo dos Santos, que tem pelo menos três refeições por dia, continua a nada fazer para lhes dar um prato de fuba.
“À força do povo angolano e à riqueza dos recursos naturais do nosso país, podemos juntar agora a serenidade que se instaura quando constatamos que nada mais pode pôr em causa o esforço colectivo para a construção do bem comum”, afirmou Eduardo dos Santos.
Baixinho, creio eu, Eduardo dos Santos deverá ter acrescentado: olhai para o que eu digo e não para o que eu faço. E o povo que aplaude, certamente pensa: quem nos dera ter de comer.
Sem desculpas, o Governo teve tudo, continua a ter tudo, ainda tem tudo, para mostrar do que é capaz. Não vai chegar lá. Mal acabou com Jonas Savimbi virou-se para os que teimam em quer uma democracia e um Estado de Direito. E como se isso não bastasse, vira-se agora para todos os que apenas querem comida e liberdade.
Os poucos que têm milhões não vão abdicar de nada em favor dos milhões que têm pouco… se é que têm alguma coisa. E assim não vamos lá. Assim não há Kalashnikoves que resolvam o problema.