Os partidos da oposição em Angola, “peças” que o regime considera meramente decorativas, defendem que o reino só será um país democrático e de direito sem o MPLA e José Eduardo dos Santos no poder.
Por Orlando Castro
P or sua vez o MPLA considera que essa afirmação configura, não à luz da Constituição mas da lei que está mais acima, a da arbitrariedade do regime, um crime contra a monarquia unipessoal reinante.
A deputada pela bancada parlamentar da UNITA, Mihaela Webba, diz que o actual regime no poder em Angola desde 1975 entra em pânico só de ouvir falar de manifestações. É verdade. Mas também é a única forma que, por enquanto, tem para testar a veia sanguinária das suas forças de segurança.
“O regime quando ouve falar de manifestação utiliza todo aparato policial do Estado para reprimi-la, se tivéssemos a nossa policia assim todos os dias talvez Angola já não tivesse crimes”, diz Webba, que defende a queda do actual regime no poder, mas de uma forma democrática.
“Todos nós queremos um objectivo: tornar Angola um Estado democrático e para tal se concretize este regime tem de cair, todos lutamos para isso”, conclui a deputada da UNITA que, com estas afirmações, corre o sério risco de adormecer na boca de um jacaré do Bengo.
A mesma linha de pensamento tem a CASA-CE e, em entrevista à VOA, Abel Chivukuvuku considerou só haver uma saída.
“O presidente quase que considera o país como sua propriedade privada, que ele pode dispor com os seus familiares e amigos. Por isso é que os angolanos têm que entender que para que os recursos de Angola sejam de todos angolanos, José Eduardo dos Santos tem que sair do poder, mas de forma positiva, pacífica e ordeira, porque a pobreza e a falta de realização dos cidadãos num país rico com muitas desigualdades são factores de instabilidade”, acusou Chivukuvuku.
Por seu lado, Joaquim Nafoia, dirigente do PRS, emitindo uma opinião pessoal, diz acreditar que “a única forma de se criar ruptura e forçar mudanças a este regime é essa de manifestações que os jovens estão a seguir, eu pessoalmente revejo-me nisso”
Do lado do poder, João Pinto, o sipaio do costume, deitou faladura para considerar um equívoco da oposição pensar assim. Aliás, de acordo com o recado de que foi incumbido de ler, o também deputado do MPLA deveria dizer que só o facto de a Oposição julgar que tem direito a pensar é um equívoco e, é claro, um crime.
“Querem acusar o MPLA de quê? Esses pronunciamentos são próprios de quem quer o poder e querem achincalhar quem detém o poder e se calhar quando lá chegarem vão fazer pior. O o próprio Chivukuvuku abandonou a UNITA e criou a sua coligação, são tão democratas que não conseguem aturar a diferença, os mesmos que disseram que as eleições foram fraudulentas tomaram posse, estão no Parlamento, já estamos habituados, o povo angolano sabe quem é quem”, grunhiu João Pinto.
Quanto aos jovens manifestantes o deputado aumentou os decibéis desse grunhido para dizer que “não se pode confundir uma manifestação anárquica de alguém que pretende se manifestar e diz pretende derrubar o Presidente da Republica é crime, assim como não se deve coagir um órgão eleito democraticamente como o Governo eleito a demitir-se”.
E, num último e sonoro grunhido, João Pinto diz que a manifestação “é um crime e a nossa lei de manifestação não prevê isso”. Lei? Pois, a tal lei que está acima da própria Constituição.