“A 8 de Setembro de 2014, efectivos da empresa privada de segurança K&P Mineira foram secretamente filmados a torturar dois garimpeiros, assestando-lhes com a face da catana nas nádegas e nas plantas dos pés.
Por Rafael Marques de Morais
Como se vê nas imagens (vídeo no final do artigo), os garimpeiros são torturados num posto de observação da referida empresa, na comuna do Luremo, dentro da concessão diamantífera da Luminas. Um dos torturadores trata, várias vezes, a sua vítima, um cidadão da República Democrática do Congo, como “cão de merda”, “vai morrer, cão de merda”. O garimpeiro implora “pardon [perdão]”.
Desde 2004, o jornalista Rafael Marques de Morais tem produzido vários relatórios sobre a violação sistemática dos direitos humanos nas Lundas. A tortura da catana é um método padrão, que tem sido utilizado na perseguição aos garimpeiros pela Alfa-5, Teleservice, Bicuar, a K&P e por efectivos das Forças Armadas Angolanas. Não obstante as denúncias, a verdade é que os abusos e a impunidade fazem lei, por ordem ou omissão dos detentores do poder.
Para que se compreenda melhor o poder da K&P e a falsidade do discurso oficial sobre o combate ao garimpo, no seu relatório “Operação Kissonde: Os Diamantes da Humilhação e da Miséria”, o referido jornalista escreve:
“A K&P Mineira exerce um duplo papel ao prestar serviços à Sociedade Mineira Luminas e, ao mesmo tempo, à Sodiam/LKI e Ascorp. No primeiro caso, tem a missão de expulsar os garimpeiros da área de concessão da Luminas, fazendo-o com total arbitrariedade e violência. No segundo caso, protege e acompanha a Sodiam/LKI e a Ascorp no agenciamento e patrocínio dos garimpeiros, bem como nas transacções com estes.
”Passados oito anos, tudo permanece na mesma. A Lazar Kaplan International (LKI) retirou-se de Angola, devido ao termo da sua parceria com a Sodiam, a empresa do Estado angolano criada para a comercialização de diamantes.
A K&P Mineira tem como sócios altas patentes da Polícia Nacional, nomeadamente: o comissário Elias Dumbo Livulo, comandante provincial da Polícia Nacional no Huambo; o comissário-chefe Eugénio Pedro Alexandre, director nacional da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC); o comissário Alfredo Eduardo Manuel Mingas “Panda”, embaixador em São Tomé; o comissário José Alfredo “Ekuikui”, ex-comandante-geral da Polícia Nacional.
Em 2013, Arkady Gaydamak, traficante de armas russo-israelita, declarou em tribunal, em Londres, ter sido o fundador da K&P, com o auxílio de antigos operativos da Mossad, os serviços secretos israelitas.
“Eu criei, com a assistência do então comandante-geral da Polícia Nacional, o general Qwekee [comissário Ekuikui], uma empresa de segurança denominada K&P, que era apoiada e treinada por oficiais de inteligência israelita da minha empresa SCG. A segurança da Ascorp continua a ser garantida pela K&P”, afirmou Gaydamak no tribunal londrino.
Por sua vez, a sociedade mineira Luminas é um consórcio entre o magnata russo-israelita Lev Leviev (51 por cento), a Endiama (38 por cento) e o deputado do MPLA general António dos Santos França “Ndalu” (11 por cento).”
Fonte: in: Maka Angola