“A Face Oculta de Fidel Castro”

A Face Oculta de Fidel Castro

Livro de memórias de antigo guarda-costas, Juan Reinaldo Sánchez, revela esquemas do presidente cubano, que dirigia também guerra de Angola à distância, esperando ser dono das riquezas angolanas.

São revelações inéditas, em livro, de um antigo guarda-costas de Fidel Castro, que o acompanhou durante 17 anos. Juan Reinaldo Sánchez revela, nas suas memórias, que o líder cubano promoveu redes de tráfico de droga nos anos 1980 com ligações à Colômbia e Panamá como forma de financiamento da revolução. Mais ainda: dirigia a guerra de Angola à distância.

O livro tem como título «A Face Oculta de Fidel Castro», e revela que, em 1988, Juan Reinaldo Sánchez ouviu inadvertidamente, através do circuito interno de vigilância e gravação, o presidente cubano a autorizar a protecção temporária de um traficante sul-americano (“Lanchero”) no país a troco de 75 mil dólares.

“Foi como o céu me caísse em cima. Aturdido, incrédulo, petrificado, queria acreditar que ouvira mal ou que estava a sonhar, mas, infelizmente, era a realidade. Em poucos segundos, todo o meu universo, todos os meus ideais caíram por terra”, escreve o autor do livro, citado pela Lusa. A partir daí, a imagem que tinha de Fidel Castro desmoronou-se.

“Afinal quem dirigia o tráfico era Fidel. Para financiamento da revolução e para ele mesmo, para proveito pessoal para as suas contas no exterior. Apercebi-me de que o homem por quem sacrificava a minha vida desde sempre, o líder que venerava como a um deus e que, aos meus olhos, era mais importante do que a minha própria família, estava envolvido no tráfico de cocaína à maneira de um verdadeiro padrinho”, sublinha o antigo elemento da segurança privada de Fidel, que actualmente vive exilado em Miami, EUA.

Terá sido o acumular de suspeitas acerca de tráfico de droga promovido pelo próprio regime cubano, com ligações à Colômbia e ao Panamá, que levou Fidel Castro a acusar o general Ochoa, veterano da guerra civil angolana e suposto herói da batalha do Cuíto Cuanavale contra as forças sul-africanas. Ochoa e mais dois oficiais foram condenados à morte e executados. O antigo ministro do Interior José Abrantes também foi condenado, mas a 20 anos de cadeia, e acabou por morrer misteriosamente na prisão. Tudo pela necessidade de fazer parar notícias que teriam arruinado a reputação de Fidel Castro, segundo Juan Reinaldo Sánchez.

Essas mortes permitiram que toda a “ligação orgânica” susceptível de relacionar Fidel Castro ao “tenebroso esquema” de tráfico desaparecesse.

“É evidente que me chocou o facto de Ochoa, um herói da Revolução Cubana, se ter entregado ao tráfico de droga. Mas que podia ele fazer quando era o próprio chefe de Estado que se encontrava na origem de um tal esquema, do mesmo modo que presidia às outras operações de contrabando – tabaco, electrodomésticos, marfim, etc.? E tudo isso, claro, para bem da Revolução!”, escreve Juan Reinaldo Sánchez.

O esquema de negócios escuros estava assente, segundo Juan Reinaldo Sánchez, no Departamento Moeda Conversível (MC), apelidado pela população como Departamento “Marijuana e Cocaína”, criado em 1986 e que dependia do ministro Abrantes e para onde operava Ochoa.

“Para ele (Fidel Castro), mais do que uma forma de enriquecimento, o narcotráfico era uma arma de luta revolucionária. O seu raciocínio era simples: se os ianques eram estúpidos ao ponto de consumir droga que vem da Colômbia, não seria ele a preocupar-se com isso e, por outro lado, tal servia os seus objectivos revolucionários”, lê-se no livro.

Entre outros testemunhos, Juan Reinaldo Sánchez recorda que chegou a conduzir Fidel Castro a um hangar do aeroporto de Varadero onde o presidente inspeccionou o suposto carregamento de “pó branco” prestes a ser expelido para a Flórida, dissimulado em caixas de rum e tabaco.

Mas há outras revelações: “No Palácio ou no war room ouvi Fidel fazer a Raúl Castro observações do tipo: ‘o Ochoa está a dar sinais de incapacidade’, o ‘Ochoa não se apercebe da realidade’, ou ainda ‘Ochoa já não tem os pés na terra’”.

Após dois grandes desastres militares soviéticos em Angola, Ochoa é enviado para o terreno, onde participa na batalha do Cuito Cuanavale, contrariando muitas vezes as ordens directas do próprio chefe de Estado cubano. Em Janeiro de 1988, foi chamado a Havana e fuzilado, com as tais acusações de tráfico de droga. Ou seja, Ochoa acabou por ser um bode expiatório daquilo que poderia transformar-se num escândalo com proporções internacionais e que envolvia o próprio Fidel Castro nos esquemas de tráfico de droga como meio de financiamento da revolução.

Quanto à participação de Cuba na guerra em Angola: “O feito é extraordinário, pelo que merece ser sublinhado: durante toda a guerra, Fidel dirigiu as operações militares a partir de Havana, quase do outro lado do mundo. Era vê-lo entregue ao trabalho, o estratego no war room, rodeado de mapas do Estado-Maior e de maquetas de campos de batalha”.

Havana queria controlar os recursos naturais em Angola. “Fidel Castro queria mais de Angola. Fidel Castro dizia que ia levar de Angola apenas os mortos, mas não foi assim. Eu vi no gabinete de Fidel Castro uma caixa de tabaco repleta de diamantes. Não eram diamantes grandes, eram diamantes pequenos mas a caixa estava cheia”, relatou o autor do livro, acrescentando que “Fidel, através do seu ajudante José Naranjo e do secretário Chomy, mandou vender esses diamantes e depositar o dinheiro nas suas contas bancárias fora de Cuba”.

E prossegue: “Eu tenho informações e além do mais vi. Fidel tinha outra ideia com Angola. Essa ideia sobre o internacionalismo proletário; essa ideia de ajudar os irmãos africanos; essa ideia de ajuda entre os povos é propaganda. É um mito. Fidel Castro não queria apenas o petróleo, mas também outros recursos naturais de Angola. Queria ir buscar mais depois da guerra, mas o que aconteceu foi que o aliado incondicional – Agostinho Neto – morre e José Eduardo dos Santos não lhe deu essa possibilidade”, explicou Juan Reinaldo Sánchez.

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