Combater a fome no mundo é um desafio constante, mas a evolução positiva registada em algumas zonas do globo alimenta o optimismo de Carlos Veloso, Coordenador Regional de Emergências para África Ocidental do Programa Alimentar Mundial (PAM).
A os 61 anos, 29 dos quais a trabalhar para agências da ONU, o português falou à agência Lusa sobre o “jogo constante de desafio” que é tentar diminuir a fome no mundo e declarou-se convencido de que “há-de chegar” a altura em que a calamidade será ultrapassada.
“O que não se deve é parar”, sublinhou, lembrando que quando começou a trabalhar no PAM, em 1985/86, esta agência da ONU tinha uma “presença fortíssima na América Latina e na Ásia”.
Hoje, na América Latina, o PAM só está presente a pedido e pago pelos governos dos países em causa para gerir o apoio às cantinas escolares, enquanto na Ásia “praticamente todos os países são exportadores de comida”, adiantou.
“Em algumas zonas do globo tem havido uma evolução positiva, o nosso papel agora é replicar essa evolução positiva a outras partes do mundo, adaptando-a à realidade social” e tendo em consideração que “o clima está a mudar” e que “a economia mundial está a mudar”, disse Carlos Veloso.
O optimismo é necessário numa altura em que “o PAM e a comunidade humanitária” enfrentam cinco emergências de nível três, “o mais alto” nível de emergência, que significa que todos os recursos devem ser encaminhados para elas: Síria, Iraque, Sudão do Sul, República Centro Africana e os três países mais afectados pelo vírus Ébola (Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa).
“A maior parte das agências desenharam o seu sistema” para uma “resposta simultânea a três” emergências daquele nível, assinalou o responsável do PAM, evocando a sobrecarga para os recursos humanos e financeiros dos organismos de ajuda internacional.
E a situação ainda pode piorar: “Estamos na época dos tufões nas Filipinas e na dos ciclones na África Austral, quanto a vulcões e tremores de terra não há previsões”, disse.
Sendo a “única agência das Nações Unidas que é financiada voluntariamente a 100 por cento”, ou seja, não exige uma contribuição obrigatória, o PAM tem um orçamento financiado em 97 por cento pelos países, o restante é doado por empresas ou particulares. Os fundos que recebe são em média “só 60 por cento” do que precisaria.
A “maior agência humanitária a lutar contra a fome em todo o mundo”, através da “assistência alimentar em emergências” e do trabalho pela melhoria do acesso aos alimentos e nutrição, o PAM ajudou em 2013 “mais de 80 milhões de pessoas em 75 países”.
Por “detrás da comida há toda a logística” e o PAM é “praticamente a agência de logística das Nações Unidas”, servindo as demais organizações, referiu Carlos Veloso.
“Temos depósitos em todo o mundo (…) em questão de horas podemos por o que for necessário no sítio do problema. Somos capazes de montar um posto de comando imediatamente com telefones, com rádios, com tudo”, adiantou.
Uma das cerca de 11.500 pessoas que trabalham para o PAM, Carlos Veloso lembrou que “comer é um direito”, lamentando embora que para muitos no mundo seja ainda “um privilégio”.
A ONU estima em 805 milhões (um em cada nove) o número de pessoas em todo o mundo que têm uma alimentação insuficiente para serem saudáveis e terem uma vida activa, apontando a fome e a subnutrição como o maior risco para a saúde a nível mundial.