O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, disse hoje que o Orçamento Geral do Estado “é algo de fachada, que não se cumpre”, acrescentando também que ninguém sabe “de onde surgem enormes somas de dinheiro a passear na Europa”.
Questionado pelos jornalistas no final de uma intervenção em Lisboa, no ‘International Club de Portugal’, o líder da UNITA ressalvou que ainda não tinha lido o documento que rege as despesas e receitas de Angola em 2015, mas sublinhou que, pela experiência, podia dizer que “o Orçamento Geral do Estado, em Angola, é algo de fachada, não se cumpre não se respeita, não se sabe de onde vêm enormes somas de dinheiro apanhadas em caixas de sapatos aqui na Europa, ou então para fazer muita festa em Angola”.
O OGE, sublinhou, “é algo só para formalidades”, disse, lamentando que o Governo não invista mais na diversificação da economia, apostando no sector da agricultura, e continuando dependente da evolução da produção petrolífera para equilibrar o orçamento.
“O facto de termos todo o Orçamento baseado no petróleo traz consequências enormes, pensamos sempre que os preços do petróleo estão altos e com a produção enorme que temos não há problemas, mas depois vemos, assim que descem, o Presidente da República, no Estado da Nação, a atirar todas as culpas do que não se faz para a diminuição da produção e para a baixa dos preços”, disse Isaías Samakuva.
Por isso, a UNITA “tem insistido para uma real diversificação da economia” e tem afirmado que “não podemos basear toda a nossa economia no petróleo, até seria melhor basearmos a nossa produção na agricultura, um sector vital e estratégico” para Angola, disse.
Antes, no discurso, já tinha deixado duas mensagens, uma para os investidores, e outra para os estrategas e governantes: na primeira, afirmou que “Angola é um país maravilhoso onde se pode ganhar muito dinheiro em muito pouco tempo, mas esta facilidade encobre uma séria doença cancerosa que preocupa os que olham para o seu futuro”.
Num discurso repleto de críticas ao actual Governo e ao Presidente da República, Isaías Samakuva considerou estar-se “num momento crítico na história de uma nação, um daqueles momentos que redefine o seu futuro”, e defendeu que “os angolanos querem mudança, mas o regime continua, e a intensidade deste desejo cresceu de tal forma que um dificilmente sobreviverá ao outro”.
Aproveitando a passagem por Portugal, o responsável político deixou bem vincadas as diferenças entre os dois regimes políticos: “alguém imagina um mandato de 40 anos sem que o Presidente se tenha sujeitado a um único debate na televisão? E o que diriam se os deputados só pudessem fiscalizar o Governo se isso fosse autorizado pelo próprio Presidente da República?”.
O responsável lembrou que “Angola é o único país da CPLP sem autarquias” e disse que “os direitos e liberdades fundamentais não são respeitados”, para concluir que “Angola precisa de outra independência”, porque “o actual governo chegou ao seu fim e já não consegue reunir as condições políticas de governabilidade e legitimidade para se manter em plenitude de funções”.