O economista Filomeno Vieira Lopes diz que o Fundo Soberano devia ser capaz de ajudar a atenuar a actual crise, motivada pela baixa do preço do petróleo a nível mundial. Mas o fundo não está talhado para isso – um “erro grave”.
Por Nelson Sul D’ Angola (*)
O Fundo Soberano de Angola irá, ou não, ajudar a enfrentar a actual crise motivada pela queda do preço do petróleo no mercado internacional? É provável que não, mas devia fazê-lo, diz o economista Filomeno Vieira Lopes.
Segundo o quadro sénior da petrolífera angolana Sonangol e dirigente do partido extra-parlamentar Bloco Democrático, o fundo foi, sobretudo, concebido para fazer investimentos e não para enfrentar as flutuações nos preços das matérias-primas.
“O Fundo Soberano de Angola não foi constituído para desempenhar o papel de fundo de estabilização, algo que foi um erro grave da política económica, que não acautelou o futuro”, afirma Vieira Lopes. “Mas o fundo é constantemente alimentado e pode até canalizar algumas receitas para acautelar certas situações, que podem ser muito dolorosas para o povo.”
A crise do petróleo obrigou o Governo angolano a reduzir as despesas públicas e a cancelar projectos educacionais e habitacionais.
Investimentos do fundo
Desde a sua criação, em Março de 2011, o Fundo Soberano de Angola tem investido em diversos países da África subsaariana e na Europa, nos sectores das infra-estruturas, energia e hotelaria.
Recentemente, José Filomeno dos Santos (foto), presidente do fundo e filho do Presidente angolano, anunciou que aquela instituição iria alocar 1,1 mil milhões de dólares (cerca de 880 milhões de euros) para investimentos em energia, transportes e outras infra-estruturas. 500 milhões de dólares (401 milhões de euros) seriam disponibilizados para um outro fundo, destinado a investimentos na hotelaria e em projectos ambientais.
O anúncio do presidente do fundo surge num momento em que o país enfrenta problemas financeiros sérios. Será possível suspender alguns dos investimentos projectados para acudir à crise actual?
Mais uma vez, Filomeno Vieira Lopes diz que é pouco provável que isso aconteça. “Se forem investimentos muito importantes, fica um pouco difícil recuar”, refere o economista. Ainda assim, “aparentemente, nem todo o Fundo está a ser utilizado, pelas contas que nos são transmitidas.”
Sucessor de José Eduardo dos Santos?
Outro dos motivos para o cepticismo de Vieira Lopes prende-se com a própria génese do fundo. Na perspectiva do dirigente do Bloco Democrático, a instituição foi desenhada para que o filho do Presidente angolano disponha de um instrumento para poder ganhar influência em África e no mundo, tendo já em vista a substituição, no futuro, de José Eduardo dos Santos.
“Esta é uma das hipóteses muito fortes que se coloca”, diz Filomeno Vieira Lopes. “Estas coisas não se fazem por meras imposições. Fazem-se com atitudes práticas.”
(*) In DW África