Vou começar este artigo fazendo minhas as palavras da cientista belga Evelyne Josse, que foram plasmadas num comentário publicado no seu post do Facebook.
Por António Setas
“F iquei muito emocionada negativamente com o que se passou em Paris, muito perturbada. E também com o que se passou na Nigéria. E pelo que se passou na Síria. E noutros sítios. E tenho medo no que diz respeito ao nosso mundo «social». Pergunto a mim mesmo como tudo isso pode evoluir, descambar e acabar… Tenho medo pela nossa Natureza que já não aguenta mais tanta agressão. Duas mil pessoas foram massacradas na Nigéria. Os islamitas fizeram estourar uma menina de 10 anos com uma cintura de bombas, cuja explosão causou a morte de cerca de 20 pessoas. Mas então, quem é que grita, “Eu sou nigeriano”? Ninguém!, embora os que matam nigerianos sejam islamitas da mesma têmpera dos que agem aqui”.
Tudo bem, não tenho nada a acrescentar. Mas, parece-me, seria bom fazer observar que os islamitas que se agitam em França, embora possam ser da mesma têmpera dos da Nigéria, como sugeriu Evelyne Josse, não são da mesma colheita nem da mesma terra. Nasceram ou vivem desde a sua mais tenra idade em França.
São europeus. Prometeram-lhes sonhos e o que eles receberam não tinha nada a ver com o que lhes tinha sido prometido. Quando muito foram-lhes concedidas parecidas com embalagens de prenda, mas sem prenda lá dentro.
Desiludidos, juntaram-se em grupos anacrónicos de sonhadores e fazedores de novos sonhos, sim, mas baseando-se num sentimento de revolta oriundo da sua frustração e nutrido por um ódio incubado e crescente. Não, eles nunca renunciaram a esses prometidos sonhos e reivindicam agora oportunidades para realizar pelo menos alguns deles.
E por vezes um só, o derradeiro sonho, o das virgens do Paraíso religioso, ávidas de amor!
Esses grupos de revoltados, islamitas ou não, são europeus e não param de se agitar numa espécie de desespero indefinido. Sem ter a que se agarrar na sociedade que lhes deu guarida e os acolheu aparentemente de braços abertos, eles matam, movidos por um ódio que será dirigido, em primeiro lugar e entre outros alvos, aos que recusaram remeter-lhes os sonhos que tinham prometido e de que se diziam ser os promotores.
Neste ponto, temos de ponderar e dizer que os que destruem sonhos só podem ficar à espera de um crescendo de indignação, de raiva e, finalmente, de ódio por parte dos que perderam as suas ilusões no que toca à realização de sonhos que lhes são recusados. Ora o que acontece é que em França as principais vítimas desse tipo de frustração são exactamente os muçulmanos, porque o que eles receberam em troca de um longo e árduo trabalho, foi um imenso vazio.
Esses grupos de revoltados, islamitas ou não são europeus. Agitam-se, repetimos, numa espécie de desespero indefinido. Para eles Allah é a luz suprema nesse rota traçada nas suas vidas.