Os bispos católicos angolanos manifestaram-se hoje preocupados (quem diriam não é senhores prelados?) com o agravamento da pobreza em Angola (o reino que o MPLA gere há 50 anos “só” tem 20 milhões de pobres), considerando que os tumultos registados em Julho passado “revelaram buracos sociais, familiares e institucionais muito profundos” que devem despertar o país para “urgente transformação”.
Por Orlando Castro
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), José Manuel Imbamba, afirma que “não podemos fechar os olhos à realidade do nosso país, marcada ao mesmo tempo por avanços significativos e recuos assustadores. No meio de tantas coisas boas e dignas de aplausos que temos vindo a fazer, assistimos, todavia, com preocupação, à persistência e ao agravamento da pobreza das famílias angolanas, um flagelo que atinge a dignidade de muitos dos nossos concidadãos”.
Para o arcebispo angolano, a pobreza em Angola, “infelizmente, não é apenas material”, mas “é também, e sobretudo, social, política, cívica, cultural e espiritual, minando a confiança nas instituições e no futuro”. Por culpa de quem? João Lourenço garante que o “MPLA fez mais em 50 anos do que os portugueses em 500”…
Em declarações na abertura da II Assembleia Plenária da CEAST, que decorre de hoje até segunda-feira, dia 22, no Santuário da Muxima, Diocese de Viana, José Manuel Imbamba referiu que a sociedade angolana, maioritariamente jovem, é marcada por um “acentuado estado de ansiedade, medo, incerteza e frustração”.
Assinalou também que a situação deriva da falta de emprego, de iguais oportunidades e das assimetrias abismais que ser registam em Angola. Isto porque, recordamos nós ao presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, o MPLA fez com que Angola, um país rico, em vez de produzir riqueza tenha produzido milionários.
“A instabilidade social e a falta de perspectivas para os jovens têm gerado um sentimento de desesperança e irreverência”, salientou o religioso, para quem os tumultos registados em Angola, em finais de Julho passado, “revelaram buracos sociais, familiares e institucionais muito profundos”.
“Esses tumultos devem despertar-nos e empenhar urgentemente na transformação interior, para que o diálogo entre os governantes e governados seja mais frequente, justo e frutuoso, evitando o uso exagerado e desproporcional da força”, apelou.
José Manuel Imbamba (condecorado por João Lourenço com a medalha Paz e Desenvolvimento) recordou que o país celebra em Novembro próximo os 50 anos de independência, um momento que considerou propício para uma mudança urgente e necessária de atitudes e de mentalidade.
“Não basta mudar e renovar as estruturas, é preciso mudar, sobretudo, o coração e a mente das pessoas (…). Daí, o exame de consciência nacional que se impõe enquanto famílias, governantes, legisladores, magistrados, políticos, jornalistas, funcionários, intelectuais, religiosos e cidadãos”, notou.
Segundo o presidente da CEAST, Angola, com toda a exuberância do mosaico cultura que os seus filhos e filhas ostentam, “merece este compromisso co-responsável” que implica a incorporação contínua, corajosa e dedicada de atitudes transformadoras, motivadoras e enriquecedoras.
No seu olhar sobre a realidade sociopolítica e económica do país, o também arcebispo de Saurimo apelou à instauração, em Angola, de uma nova cultura social e política, baseada na ética, na solidariedade efectiva e na responsabilidade partilhada.
Observou, contudo, que, para isso, são necessárias “reformas profundas no aparelho do Estado, que deve estar exclusivamente ao serviço da cidadania e da prossecução do bem comum para a felicidade e dignificação de todos”.
“É nosso dever apelar e educar para a cultura da paz, da justiça, da reconciliação e da tolerância. As soluções não virão de fora, mas de um compromisso sério de todos nós, enquanto angolanos”, concluiu.
O Congresso Nacional da Reconciliação pelo Jubileu dos 50 anos de Independência de Angola, agendado para Outubro próximo, e o processo de criação de novas dioceses constam da agenda de trabalhos desta assembleia dos bispos angolanos.