O Presidente do MPLA, nas funções delegadas de Presidente da República angolano, general João Lourenço, afirmou hoje que “quem quer que seja que tenha orquestrado e conduzido” os tumultos registados esta semana em Angola “saiu derrotado”. Além disso, anunciou apoio às empresas vandalizadas e falou em sabotagem.
O Presidente angolano anunciou hoje que o Governo vai aprovar apoios às empresas afectadas esta semana, em várias províncias, pelos actos de vandalismo, que classificou “de sabotagem” contra a economia.
João Lourenço quebrou o silêncio numa mensagem à nação transmitida na Televisão Pública de Angola, após dias de críticas, prometendo respostas de apoio à economia face à destruição registada nos tumultos durante a paralisação dos taxistas.
“O Executivo angolano decidiu aprovar, já na segunda-feira próxima, medidas de apoio às empresas atingidas pela onda de vandalismo, com vista à mais rápida reposição de ‘stocks’ e manutenção dos postos de trabalho ameaçados”, anunciou o chefe de Estado.
João Lourenço condenou ainda os actos de vandalismo e pilhagem que provocaram mortos, feridos e destruição e expressou pesar às famílias enlutadas.
O chefe de Estado falou à nação hoje às 13:00, no final de uma semana marcada por tumultos e numa altura em que muitas vozes já criticavam o seu silêncio face aos incidentes.
“Quem quer que seja que tenha orquestrado e conduzido esta acção criminosa, saiu derrotado e ajudou-nos a todos, ao Executivo e à sociedade, a tomar medidas preventivas e melhores formas de reagir em caso de reincidência, com vista a minimizar os danos sobre as pessoas e o património”, afirmou o chefe de Estado na mensagem à Nação.
João Lourenço lamentou a violência dos últimos dias: “O que assistimos desde segunda-feira foram actos premeditados de destruição de património público e privado, assalto e pilhagem de estabelecimentos comerciais, ameaças e coacção a pacatos cidadãos”.
João Lourenço considerou que “cidadãos irresponsáveis manipulados por organizações antipatriotas nacionais e estrangeiras através das redes sociais” estiveram por detrás dos acontecimentos, cujas consequências incluem “o luto, a destruição de bens públicos e privados, a redução da oferta de bens essenciais e de serviços às populações e o desemprego dos angolanos que trabalhavam nesses estabelecimentos comerciais”.
“Condenamos veementemente tais actos criminosos, lamentamos a perda de vidas humanas e aproveitamos a oportunidade para expressar, no nosso nome e no do Executivo angolano, os nossos mais profundos sentimentos de pesar a todas as famílias enlutadas e votos de rápidas melhoras aos feridos como consequência dos tristes acontecimentos”, declarou.
A paralisação convocada pela Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANATA) teve início a 28 de Julho em protesto contra o aumento dos preços dos combustíveis e das tarifas dos transportes públicos. Em várias províncias, a greve degenerou em confrontos com as forças de segurança, pilhagens e vandalismo.
Segundo o balanço oficial mais recente, os distúrbios resultaram em 30 mortos, 277 feridos e 1.515 detenções, com maior incidência nas províncias de Luanda, Benguela, Huíla, Huambo, Malanje, Bengo e Lunda Norte. Foram também destruídos 118 estabelecimentos comerciais, 24 autocarros públicos, mais de 20 viaturas particulares, cinco viaturas das forças de defesa e segurança, uma motorizada e uma ambulância.
NOTA DE IMPRENSA DA UNITA
«O Grupo Parlamentar da UNITA segue com enorme preocupação as manifestações e as consequentes convulsões sociais que se registam um pouco pelo País, com destaque para as províncias de Luanda, Icolo e Bengo, Benguela, Huambo, Huíla, Lunda Norte e Malanje, pelo que, não estando o Grupo Parlamentar da UNITA indiferente à gravidade da situação caracterizada pela violência extrema, destruição de bens, execuções sumárias e detenções indiscriminadas, vai solicitar um debate com carácter de urgência na Assembleia Nacional sobre as causas e soluções estruturantes da grave crise política, económica e social que o país atravessa.
«O Grupo Parlamentar da UNITA considera inaceitável que a Polícia Nacional, treinada para assegurar e garantir a ordem pública e com capacidade para nos momentos de graves perturbações controlar as convulsões sociais, tenha, aparentemente, ordens para atirar a matar sem piedade. Se é importante deter os cidadãos envolvidos na pilhagem, não é aceitável que os efectivos policiais que matam indiscriminadamente, violando direitos constitucionais, não sejam detidos e responsabilizados, nos termos da Lei. O Grupo Parlamentar da UNITA defende intransigentemente que a vida é inviolável e tem o mesmo valor para todos os cidadãos.
«Num momento de grave crise, a sociedade espera dos Governantes e Deputados palavras de moderação, conciliação, sobretudo medidas de políticas públicas para a resolução dos conflitos há muito previstos por analistas de reconhecida reputação pública e entidades religiosas. O momento exige da Assembleia Nacional uma posição pública sobre o compromisso que os Deputados assumiram de representar fielmente o Povo angolano, antes da defesa de estratégias partidárias, de grupos ou indivíduos.
«A Assembleia Nacional não se pode calar diante da gravidade da situação e a tendência de alastrar para as demais províncias. O debate pela Assembleia Nacional é urgente, relevante, importante e necessário para que os representantes do Povo angolano na Casa das Leis transmitam uma mensagem de unidade do Estado, defesa da estabilidade política e posição firme de condenação do terror e medo que se procuram infundir na sociedade.
«Para o Grupo Parlamentar da UNITA a Assembleia Nacional não pode actuar à margem do clamor da sociedade e das expectativas nacionais, por isso, considera ser fundamental e inadiável reformar o Estado, institucionalizar as Autarquias Locais e aprovar leis justas, sem as quais não haverá participação efectiva do cidadão na gestão dos interesses locais das comunidades nem desenvolvimento social que se pretende inclusivo.
«O Grupo Parlamentar da UNITA, enquanto expressão política da Frente Patriótica Unida (FPU), reafirma a sua determinação de lutar pela consolidação do Estado Democrático de Direito, com justa redistribuição da riqueza nacional, liberdade, dignidade, prosperidade e felicidade. Os cinquenta anos de Independência Nacional não podem ser assinalados com fratricídio, dor e luto, corrupção, impunidade, fome e aumento das desigualdades sociais.»