MARA QUIOSA, A FUTURA PRESIDENTE DE ANGOLA

Mara Quiosa é a favorita de João Lourenço para lhe suceder, mas sucessão não significa mudança. Não haverá substituição real, apenas um teatro político onde o poder continuará nas mesmas mãos. A chamada “bicefalia” será apenas uma farsa institucional, onde Mara Quiosa ocupará simbolicamente o cargo de Presidente de Angola, enquanto João Lourenço, como líder do MPLA, continuará a governar nos bastidores.

Por Malundo Kudiqueba

O povo pode votar, mas não escolhe. O trono não será deixado, apenas redesenhado para manter as aparências. O povo pode até votar, mas jamais decidirá. O jogo está viciado, a democracia é um teatro e a transição não passa de uma encenação. O verdadeiro presidente de Angola continuará a ser João Lourenço, e a mudança será apenas um embuste para enganar os ingénuos.

Mara Quiosa não possui ambições políticas próprias, o que a torna uma líder que pode ser facilmente influenciada e guiada, sem colocar em risco os interesses do actual presidente. Com isso, João Lourenço garante que a sua agenda política será mantida, independentemente das mudanças públicas e externas.

Mara Quiosa é a figura política ideal para João Lourenço devido às suas qualidades de ser maleável, moldável, controlável e flexível. Essas características tornam-na uma escolha estratégica para liderar o país sem ameaçar o equilíbrio de poder que Lourenço já estabeleceu. Mara Quiosa será facilmente marginalizada, tornando-se uma peça decorativa que serve mais para representar o poder do que para efectivamente exercê-lo.

A flexibilidade e a capacidade de controlar Mara Quiosa são cruciais para que João Lourenço continue a comandar o partido e o país com absoluta autoridade, mesmo após sua saída formal da presidência. A escolha de alguém sem uma agenda própria permite que João Lourenço preserve a centralização do poder nas suas mãos, sem a necessidade de se confrontar com figuras políticas com ideias divergentes. Mara Quiosa será essencialmente uma “presidente de fachada”, com um papel cerimonial, responsável por inaugurações e discursos, enquanto João Lourenço continuará a tomar as decisões-chave por trás das cortinas.

A aposta de João Lourenço em Mara Quiosa será uma estratégia de manutenção de poder disfarçada de renovação. A sua presidência simbólica ajudaria a evitar disputas internas e críticas externas, ao mesmo tempo que permitiria a continuidade do sistema político sob a sua orientação, sem grandes alterações.

Se João Lourenço fosse um cidadão comum, provavelmente estaria a criticar o trabalho do presidente com a mesma intensidade com que muitos cidadãos angolanos o fazem. Como qualquer outro angolano, ele seria afectado directamente pelas questões sociais, económicas e políticas que moldam a vida no país: a pobreza crescente, a corrupção desenfreada, a falta de empregos e a desigualdade social. Se estivesse fora do círculo de poder, ele provavelmente teria a mesma frustração em ver o governo a falhar em resolver essas questões, com a sensação de que o país está a ser governado por uma elite que ignora as necessidades da população em favor dos próprios interesses.

No entanto, enquanto presidente, João Lourenço parece não apenas desconsiderar essas críticas, mas acreditar sinceramente que está a fazer um excelente trabalho. A sua visão do que é “bom trabalho” parece estar profundamente ligada à protecção dos mesmos interesses que têm contribuído para a perpetuação das desigualdades e da corrupção no país. Em vez de promover uma verdadeira reforma política, económica e social, ele tem feito escolhas que beneficiam aqueles que estão no poder ou que têm ligações estreitas com ele, protegendo pessoas que continuam a enriquecer à custa do povo, sem enfrentar consequências.

A sua gestão, em vez de se focar em combater a corrupção e em criar uma Angola mais justa para todos, tem sido marcada por uma falha em enfrentar o sistema que sustenta a corrupção. As medidas contra corrupção, quando existem, parecem ser selectivas e, muitas vezes, limitadas a figuras menores, enquanto os verdadeiros responsáveis, os que detêm grandes fortunas e poder, continuam impunes. Assim, enquanto João Lourenço acredita estar a “fazer um excelente trabalho”, ele está, na verdade, a perpetuar um sistema que favorece poucos à custa de muitos, um sistema onde a justiça é para poucos e o povo continua a pagar o preço das suas escolhas políticas.

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