DA CIRURGIA ROBÓTICA À CÓLERA

O número de mortes por cólera em Luanda aumentou para 11, tendo sido notificados 93 casos desde o início do ano, segundo o boletim informativo do Ministério da Saúde (Minsa). Foram também notificados dois casos na província vizinha do Bengo, de acordo com o mesmo documento.

Os casos registados na província de Luanda, estão circunscritos a bairros do município do Cacuaco, sobretudo o Paraíso, que soma um total de 54 casos, oito confirmados, e cinco óbitos. Dos 95 casos, com idades entre os 2 e 65 anos, 54 referem-se a pessoas do sexo masculino e as restantes do sexo feminino.

Nas últimas 24 horas, foram notificados 37 casos de cólera, dos quais 35 no Cacuaco (17 no bairro do Paraíso) e dois no município do Dande, província do Bengo, tendo ocorrido duas mortes, das quais uma extra-hospitalar.

O Minsa declarou o surto de cólera quando foi confirmado o primeiro caso, a 7 de Janeiro, e activou – ao que diz – o Plano Nacional de Resposta contra a Cólera.

Segundo uma anterior nota do Ministério da Saúde, as pessoas apresentam sintomas de vómitos e diarreia aquosa, tendo o gabinete provincial da Saúde de Luanda accionado “imediatamente” medidas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde.

Essas medidas incluem desinfecção das áreas contaminadas, identificação e rastreamento de contactos e investigação epidemiológica e laboratorial aprofundada para confirmação dos casos suspeitos.

O presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola, Adriano Manuel, disse na quarta-feira que a falta de saneamento, aumento da pobreza e desinvestimento na saúde preventiva potenciam o surgimento da cólera no país, referindo que “não faltaram avisos”, características típicas de um país subdesenvolvido onde, por exemplo, milhares dos 20 milhões de pobres se “alimentam” nas lixeiras.

Segundo a OMS, após um período sem surtos entre 1995 e 2000, o país sofreu um enorme surto em 2011, resultando em 2.284 casos e 181 mortes. O surto mais recente ocorreu entre 2016 e 2017, afectando as províncias de Cabinda, Luanda e Zaire com um total de 252 casos e 11 mortes.

A Unicef diz que têm sido registados surtos de cólera em Angola em várias províncias do país desde 2017 e avisa que nove milhões de pessoas estão em risco, sobretudo durante a época das chuvas, que decorre entre Outubro e Abril.

Recorde-se que, em Fevereiro do ano passado, o Chefe de Estado angolano, general João Lourenço, apelou aos Estados-Membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) a estarem preparados para emergências de saúde pública e para o reforço dos sistemas sanitários.

O general João Lourenço, na altura na qualidade de Presidente em Exercício da SADC, fez o apelo na abertura da Cimeira Extraordinária desta organização regional, que decorreu em formato virtual e analisou o surto de cólera que assola países membros.

“A nossa preparação para emergências de saúde pública constitui uma exigência vital, no momento actual. Devemos estar prontos para enfrentar e superar os desafios que se colocam, tendo em conta que a prevenção é a chave do problema. Por isso, devemos nos empenhar em fortalecer os nossos sistemas de saúde, a vigilância epidemiológica, laboratorial e ambiental, mitigar os riscos e educar a nossa população”, sublinhou o também Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo.

O general João Lourenço reconheceu a urgência de uma resposta e a necessidade de uma acção coordenada e eficaz para enfrentar o problema. Os resultados continuam à vista.

“A crise de saúde pública que assola a nossa região representa uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável e ao bem-estar dos nossos povos. Neste momento crítico, devemos reconhecer a urgência da nossa resposta e a necessidade de uma acção coordenada e eficaz, pois a cólera não conhece fronteiras e exige uma abordagem regional para enfrentá-la”, frisou.

O Chefe de Estado angolano destacou igualmente a urgência no fortalecimento dos mecanismos de transferência tecnológica, para que se invista em fábricas para a produção local de medicamentos, produtos médicos e vacinas, visando a auto-suficiência, o desenvolvimento económico e tecnológico, a criação de empregos e a inovação do sector farmacêutico da região.

O Presidente considerou crucial o fortalecimento da vigilância epidemiológica em todos os pontos fronteiriços, para garantir a segurança sanitária e reduzir a transmissão da doença na circulação de pessoas, bens e serviços entre os países.

De acordo com a titular do sector da saúde em Angola, Sílvia Lutucuta, a região está desde 2022 a ser afectada por surtos de cólera, agravando-se com as dificuldades do saneamento básico e alterações climáticas.

“As chuvas torrenciais e os ciclones, de facto, têm colocado a nossa população em risco. Desde essa altura, já temos o registo de mais 660.000 casos de cólera com mais de quatro mil óbitos”, informou a ministra angolana da Saúde.

Registe-se, entretanto, que apesar destes casos que revelam a megalomania do regime do MPLA, Angola tornou-se um reino inovador no que diz respeito – segundo a propaganda oficial – aos cuidados de saúde, depois da realização da primeira cirurgia robótica a um paciente com cancro da próstata, segundo o fundador e director médico do Global Robotics Institute, Vipul Patel.

O especialista, que liderou a equipa da primeira cirurgia robótica em Angola, fez este pronunciamento no dia 6 de Agosto de 2024, em Luanda, no final da audiência concedida pelo Presidente da República, general João Lourenço.

“Este é um projecto com o qual nós temos estado a trabalhar há já muitos anos. Portanto, sempre foi o sonho de Sua Excelência Presidente da República de Angola ter a cirurgia robótica realizada em Angola, e graças a Deus aconteceu”, realçou.

O médico afirmou que a cirurgia robótica realizada no Complexo Hospitalar de Doenças Cárdio Pulmonares foi a primeira a acontecer na África Ocidental e um marco importante não apenas para Angola, mas para todo o continente africano.

Vipul R. Patel, que também é vice-presidente da Sociedade Robotics, aproveitou a audiência para felicitar o Presidente da República pelo feito alcançado no sector da Saúde e pela aposta na formação de jovens angolanos pela equipa americana.

“Vamos preparar os jovens médicos angolanos que terão oportunidade de aperfeiçoar os seus conhecimentos no que diz respeito a esta ciência, que é bastante importante”, sublinhou.

Urologista oncológico, Vipul Patel é uma referência mundial em cirurgia robótica, tendo já realizado mais de 18 mil.

Folha 8 com Lusa

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