Angola celebra amanhã, 8 de Janeiro, o Dia da Cultura. Sim, um dado em que se glorifica a arte e a criatividade nacional, entre discursos pomposos e cerimónias que não raros mais servem para fotos do que para soluções. Entretanto, os desafios continuam tão familiares quanto às promessas não cumpridas. É quase poético, não?
Por Mwata Santos
Falta de incentivo, uma aposta na formação que mais parece uma peça improvisada num quintal do musseque, dificuldades crónicas no acesso às salas de teatro e uma ironia trágica: as poucas que existem estão ou mal equipados ou na iminência de fechar as portas. A promessa de novos espaços culturais é tão sincera quanto a promessa de um metro de superfície em Luanda – sempre ali, no horizonte, onde só os sonhos alcançam.
E o que dizer da burocratização nos espaços pagos pelo dinheiro público? Aqui, a cultura não é bem “do povo”, mas sim de quem tem os contactos certos e carrega a bandeira certa no peito. A partidarização das iniciativas culturais é um espectáculo à parte, com enredos já previsíveis e protagonistas já muito bem conhecidos, sempre os mesmos.
Mas, no fundo, tudo isso parece encontrar a sua raiz na quase inexistente classe de intelectuais que o país possui. Ah, os intelectuais! Figura mitológica que, se não estivesse tão ocupada em festas de gala e tertúlias auto-celebrativas, talvez se dignasse assistir a uma peça de teatro local ou, quem sabe, percorrer os mercados e as exposições onde a cultura obviamente ainda respira, embora ofegante.
Infelizmente, poucos ou nenhuns desses “iluminados” se dão ao trabalho de enxergar a indústria criativa como algo mais do que um adorno exótico. Ignoram que a cultura não é apenas alma, mas também pão, não apenas beleza, mas também economia.
E assim, seguimos. Celebrando a cultura com a mesma empolgação com que a negligenciamos. Uma pena, sem dúvida – mas ao menos temos discursos prontos para amanhã. Afinal, isso também é uma arte.
Sinceramente. Precisamos repensar Angola. É urgente!