A ausência de laboratórios de ideias (“think tanks”) em Angola é uma lacuna crítica que impede o país de alcançar um desenvolvimento sustentável e estratégico. Sem instituições dedicadas ao pensamento independente e à pesquisa aprofundada, Angola torna-se refém de decisões políticas de curto prazo, limitando a inovação e a capacidade de resolver problemas complexos.
Por Malundo Kudiqueba Paca
Um país que não investe em conhecimento está condenado a depender de soluções externas e a enfrentar desafios sem ferramentas adequadas. A falta de “think tanks” é mais do que uma falha estrutural; é um entrave ao progresso e à verdadeira independência. Em Angola, essa lacuna contribui para um vazio intelectual e para a perpetuação de políticas de curto prazo que prejudicam o desenvolvimento do país.
“Think Tanks” – pilar do progresso e inovação
Os “think tanks” são centros de produção de ideias, especializados em analisar e propor soluções para temas vitais, como educação, saúde, economia e meio ambiente. Sem essas instituições, um país perde o impulso necessário para desenvolver políticas inovadoras e sustentáveis. Em Angola, esta ausência significa que, muitas vezes, as decisões são tomadas sem o apoio de estudos sólidos e sem considerar as melhores práticas internacionais.
Em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, onde o papel dos “think tanks” é amplamente valorizado, estas organizações são respeitadas pela sua capacidade de gerar conhecimento, influenciar políticas e fortalecer a democracia. A criação de “think tanks” em Angola não é um luxo, mas uma necessidade urgente para assegurar que o país caminhe de forma sólida rumo ao futuro. Sem um investimento em análise e pesquisa, Angola continua dependente de soluções externas e vulnerável a decisões políticas pouco fundamentadas.
Independência intelectual: Um requisito para o sucesso
Os “think tanks” só têm impacto se forem independentes e livres de pressões políticas. Em Angola, onde as liberdades de expressão e crítica encontram restrições, é crucial criar um ambiente que permita a estes grupos operar sem medo de represálias. A independência intelectual é um alicerce essencial para a inovação e para a criação de soluções eficazes.
É urgente que Angola promova um espaço seguro para a pesquisa e a análise crítica, permitindo que especialistas abordem questões fundamentais sem censura. Sem essa liberdade, a possibilidade de progresso real fica seriamente comprometida. Para um desenvolvimento sustentável e eficaz, é preciso que os “think tanks” possam desafiar as políticas existentes, avaliar os impactos e propor alternativas que realmente beneficiem a população.
O papel dos “think tanks” na criação de políticas de longo prazo
A falta de “think tanks” reflecte-se também na ausência de estratégias de longo prazo. Um país sem visão de futuro está condenado a responder perpetuamente a crises imediatas, sem capacidade de se preparar para os desafios de amanhã. Os “think tanks” permitem pensar para além dos ciclos políticos, promovendo políticas que transcendem mandatos e que asseguram um desenvolvimento duradouro.
Em Angola, os problemas sociais e económicos, como o desemprego, a falta de diversificação económica e a pobreza, requerem soluções pensadas a longo prazo e com base em dados concretos. Ao investir em “think tanks”, Angola estaria a fortalecer a sua capacidade de planear e implementar políticas sustentáveis, beneficiando não só a geração actual, mas também as futuras.
Promover o pensamento crítico para reduzir a dependência externa
Num contexto global onde as interdependências são inevitáveis, um país que não investe na produção de conhecimento local corre o risco de depender eternamente de ajuda e soluções externas. A ausência de “think tanks” em Angola significa que as políticas públicas muitas vezes não reflectem as necessidades reais da população, ficando aquém das melhores práticas.
Os “think tanks”, ao gerarem conhecimento especializado, podem contribuir para que Angola encontre soluções locais para os seus problemas, diminuindo a necessidade de depender de consultores internacionais ou de políticas impostas. A soberania intelectual é a base da verdadeira independência, e Angola só a conseguirá ao fomentar instituições dedicadas ao pensamento estratégico e à inovação.
O caminho para um futuro sustentável
Por que razão Angola ainda não investe em “think tanks”? A resposta pode estar na desconfiança política e no receio de críticas. Contudo, um país que teme o pensamento crítico impede o seu próprio crescimento e condena-se ao atraso. É preciso vontade política e apoio da sociedade civil para que estes centros de análise possam florescer, atraindo jovens formados, economistas, académicos e especialistas prontos a contribuir para um Angola melhor.
Os “think tanks” representam um passo essencial para Angola, possibilitando um futuro mais estável e justo, onde as políticas públicas são embasadas em pesquisa rigorosa e onde as necessidades da população são verdadeiramente consideradas. A criação de “think tanks” não é apenas um investimento no presente; é uma aposta no futuro do país, na prosperidade e no bem-estar das próximas gerações.
A hora de investir em conhecimento é agora
Angola precisa de uma rede de “think tanks” para garantir um desenvolvimento sustentável e para preparar-se para os desafios do século XXI. Investir em conhecimento e pensamento crítico é investir em independência e progresso. A falta dessas instituições não é apenas uma lacuna intelectual; é uma barreira ao crescimento do país. Angola não pode esperar mais para apostar na criação de “think tanks”, pois só através deles será possível construir um futuro onde o progresso, a justiça e a inovação caminhem lado a lado.
O desenvolvimento sustentável de Angola depende da capacidade de pensar além do imediato, de desafiar o status quo e de construir uma nação mais informada e preparada para o futuro.