A Missão de Observação Eleitoral da CPLP (MOE-CPLP) às eleições em Moçambique, marcadas para 9 de Outubro, vai ser liderada pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Cravinho, revelou o secretário executivo da organização, Zacarias da Costa. A Frelimo está feliz com a escolha. Recorde-se que João Cravinho foi o dirigente socialista português que comparou Jonas Savimbi a Hitler.
Segundo Zacarias da Costa, a escolha do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa de Portugal para chefiar esta missão tem a ver com o facto de Portugal “até agora não ter liderado muitas missões de observação eleitoral” da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mas também porque João Gomes Cravinho “tem o perfil certo” para a missão em Moçambique.
“Por todas as razões, porque é uma pessoa conhecida e aceite por todos”, realçou.
A MOE-CPLP, composta por cerca de 20 pessoas, incluindo representantes dos parlamentos dos nove Estados-membros da organização, estará em Maputo entre os dias 5 e 12 de Outubro, sendo precedida por uma equipa avançada do secretariado executivo, que estará no terreno no dia 2 do mesmo mês, adiantou o secretário executivo.
As eleições presidenciais em Moçambique vão decorrer em simultâneo com as legislativas, dos governadores provinciais e dos membros das assembleias provinciais e estão marcadas para 9 de Outubro.
Concorrem às eleições presidenciais Daniel Chapo, da Frelimo (no poder desde a independência), Ossufo Momade, da Renamo (principal partido da oposição), Lutero Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira maior força parlamentar, e Venâncio Mondlane, candidato independente apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos).
O actual Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, não se recandidata porque atingiu o limite constitucional de dois mandados.
Além de Moçambique, são Estados-membros da CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
João Gomes Cravinho é um perito de longa tradição socialista e certamente merecedor de um doutoramento “honoris causa” pela Universidade Agostinho Neto. Por alguma razão comparou, em Novembro de 2005, em entrevista ao Expresso, Jonas Savimbi (que tinha morrido três anos antes) a Hitler.
Em tempos, a Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento português quis ouvir o então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação (João Gomes Cravinho) sobre a situação na Guiné-Bissau. Na altura, o caso do ex-chefe da Armada guineense, Bubo Na Tchuto, foi revelador do que Portugal (não) pensava, nem pensa, sobre a Guiné-Bissau.
Em Janeiro de 2010, quando oficialmente Bubo Na Tchuto era procurado pela justiça e se tinha refugiado na sede da ONU em Bissau, João Gomes Cravinho disse que o caso veio “expor completamente a fragilidade das instituições” guineenses.
Basta ler (se alguém tiver paciência para isso) o que Gomes Cravinho disse uma vez, nem que seja há um par de anos, para se saber que sempre que fala da Guiné-Bissau usa as mesmas ideias, os mesmos argumentos, a mesma teoria e, é claro, a mesma passividade.
O então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal só altera os nomes dos protagonistas. Na altura foi Bubo Na Tchuto, tal como já tinham sido, entre outros, Hélder Proença, Baciro Dabó, Tagmé Na Waié e João Bernardo “Nino” Vieira.
E por falar em Gomes Cravinho, recordam-se que ele afirmou no dia 4 de Dezembro de 2007 que a União Europeia devia libertar-se da “bagagem colonial” na relação com África, reconhecendo que o continente “é hoje um igual” com “progressos notáveis” nos últimos anos?
E por falar em Gomes Cravinho, é de crer que um dia destes irá dizer que “Nino” Vieira foi outro Hitler africano. Isto porque o então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, depois ministro dos Negócios Estrangeiros e ministro da Defesa, tem coragem suficiente para fazer destas afirmações sobre pessoas depois de eles terem morrido.
Sobre os vivos, por muito mais que eles se assemelhem a Hitler, Cravinho apenas sabe estar calado.
No dia 18 de Janeiro de 2010, João Gomes Cravinho afirmou que o Governo português acompanhava com a «atenção normal» a situação na província angolana de Cabinda, defendendo que o importante era a detenção de responsáveis de ataques criminosos.
Não está nada mal. Até parece que, para os donos do reino lusitano, falar de Cabinda ou de Zoundwéogo é exactamente a mesma coisa. Lisboa esqueceu-se, continua a esquecer-se, que os cabindas, tal como os angolanos, não têm culpa que as autoridades portugueses (grande parte delas do Partido Socialista) tenham, em 1975, varrido a porcaria para debaixo do tapete.
Quando interrogado sobre se o Governo português considerava preocupantes as notícias de detenções de figuras alegadamente ligadas ao movimento independentista na província de Cabinda, João Gomes Cravinho afirmou que «preocupante é quando há instabilidade e violência, como aconteceu com o ataque ao autocarro da equipa do Togo» a 8 de Janeiro de 2010.
Sim, é isso aí. Portanto, o MPLA pode prender quem muito bem quiser (e quer, continua a querer, todos aqueles que pensam de maneira diferente) que terá, como é óbvio, o apoio e a solidariedade das autoridades portuguesas.
Tal como fez em relação a Jonas Savimbi depois de este ter morrido, Gomes Cravinho não tardará (provavelmente só está à espera que eles morram) a chamar Hitler, entre outros, a Raul Tati, Francisco Luemba, Belchior Lanso Tati, Jorge Casimiro Congo (este já morreu), Agostinho Chicaia, Martinho Nombo, Marcos Mavungo ou Raul Danda (a este já pode, infelizmente, chamar).
João Gomes Cravinho explicou na altura que, «em relação ao mais» Lisboa acompanha o que se passa «pelas vias normais», isto é, pela comunicação social e pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa.
Ou seja, Portugal está-se nas tintas. E quando Cravinho diz que Lisboa acompanha o que se passa pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa estava a esquecer-se que a embaixada lusa se limitava, como se limita hoje, a ampliar a versão oficial do regime angolano.
Como se já não bastasse a bajulação de Lisboa ao regime angolano, ainda temos de assistir à constante passagem de atestados de menoridade e estupidez aos portugueses e aos angolanos por parte de alguém que, depois do desastroso papel como secretário de Estado, chegou a ministro da Defesa e agora aos Negócios Estrangeiros.
Em Novembro de 2005, o governo português recusou-se a comentar a reacção da UNITA, que classificou de “insulto intolerável” as declarações do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros português sobre o líder histórico do partido, Jonas Savimbi.
Em declarações à Agência Lusa, o então porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, António Carneiro Jacinto, afirmou que o governo português “não comenta” a reacção da UNITA às declarações de João Gomes Cravinho, numa entrevista publicada pelo Jornal Expresso.
O secretário de Estado descreveu Jonas Savimbi como “um monstro” e um “Hitler africano”.
N altura, o Comité Permanente da UNITA classificou estas declarações como um “insulto intolerável” e uma “grotesca ingerência” nas relações com Angola.
“A opinião do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação do governo de Portugal sobre Jonas Malheiro Savimbi é um insulto intolerável”, referia um comunicado da direcção da UNITA.
Na sequência das declarações do secretário de Estado, a direcção da UNITA decidiu enviar ao primeiro-ministro português, José Sócrates, uma carta manifestando o seu “veemente protesto” pelo que entende ser uma “grotesca e infantil ingerência do seu principal porta-voz em matéria de relacionamento com Angola”.
“Quanto a João Cravinho, convirá dizer, para refrescar a sua seca memória, que quem tem hitlerismos consigo e cometeu monstruosidades indescritíveis foi uma parte dos colonizadores, de que ele é indefectivelmente uma continuação biológica”, diz o comunicado.
A UNITA assegurou, no entanto, acreditar que “os dirigentes portugueses responsáveis, sem miopia política nem servilismos mercantilistas, saberão respeitar e trabalhar com os angolanos para criar o quadro psicológico necessário ao bom desenvolvimento das relações entre os dois povos”.
Por outro lado, destaco a “clarividência do povo português, que, ao contrário de certos membros do seu governo, sempre soube posicionar-se ao lado de todos os angolanos”.
Para a UNITA, as relações entre portugueses e angolanos “assumirão por muito tempo ainda uma enorme carga emocional”, defendendo que “competirá aos dirigentes de ambos os povos ganhar permanentemente altura para conferir sempre mais maturidade e idoneidade a essas relações”.