TAPETE (MESMO DE LUXO) DO PODER, NUNCA!

A crise, seja ela qual for, exista ou não, é sempre uma solução para os problemas que afectam a Comunicação Social portuguesa e que, muitas vezes, resultam apenas de um simples factor – a incompetência. Mas há também corrupção, bajulação, servilismo e similares.

Por Orlando Castro

Porque já foi passado o atestado de óbito à competência, os donos das empresas, bem como os donos dos donos, apostam tudo na procura de problemas para a solução, de modo a que as suas linhas de enchimento trabalhem apenas para os poucos que têm milhões e não, como seria de esperar, para os milhões que têm pouco.

Assim sendo, a crise é um remédio que dá para tudo, que se utiliza quando dá jeito e que, infelizmente, serve quase sempre para manter no poleiro os «filhos», mesmo que estes para contar até 12 tenham de se descalçar.

A fazer fé nos políticos da nossa economia (não tanto nos economistas da nossa política), a Comunicação Social portuguesa está em crise, sobretudo graças a um retraimento (duvidoso) do investimento publicitário legal e transparente.

Solução? Contenção dos custos. É sempre assim. Não encontram (nem querem encontrar) a estrada da Beira e o mais simples é ficarem na beira da estrada. E como se faz a contenção? Reduzindo o número de trabalhadores mas mantendo, ou até aumentado, o número de parasitas, de invertebrados e de especialistas com o cérebro em ligação directa aos intestinos.

Quando será que alguém se preocupará em ultrapassar (se calhar até mesmo em evitar que ela chegue) a crise, aumentando a produtividade voluntária dos trabalhadores e não despedindo-os?

Quem manda não pensa nisso, desde logo porque é preciso manter o tacho. É claro que não. São pagos para executar e não para pensar. Como são pagos para multiplicar cifrões, custe o que custar, escolhem a solução mais imediata – diminuir custos/despedir a competência, substituindo-a pela bajulação.

Poderiam fazer melhor. Muito melhor. Ou seja, investir nas ideias e na capacidade, aumentando necessariamente a produtividade. Mas isso é complicado num país que só sabe fazer o possível e que anda a reboque dos que lideram graças ao facto de, muitas vezes, transformarem o impossível em possível.

É caso para, necessariamente, citar o Governo de José Sócrates, recordando que conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço fazer de grande parte da “imprensa o tapete do poder”, conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço transformar jornalistas em “criados de luxo do poder vigente”.

Tal como antes dele e depois dele, José Sócrates conseguiu numa só legislatura e sem grande esforço convencer os mais cépticos de que mais vale ser um propagandista da banha da cobra dos donos do reino (PS/PSD/PS/PSD), mas de barriga cheia, do que um ilustre Jornalista com ela vazia.

De facto, na minha opinião, em matéria de Comunicação Social há um antes e um depois de José Sócrates. Foi a partir desses tempos que cresceu vertiginosamente o número de “jornalistas” que aprenderam a pensar apenas com a cabeça… do chefe.

Os Jornalistas perceberam que ter um cartão do partido no Poder é mais do que meio caminho andado para ser chefe, director ou até administrador.

Apesar disso, continuo a estar ao lado dos que consideram que dizer o que pensamos ser a verdade é a melhor qualidade das pessoas de bem em geral, e dos Jornalistas em particular. Pessoas de bem onde, para meu penar, é cada vez mais difícil incluir os Jornalistas. Alguns, é óbvio.

E o que em tempos era um trunfo (a memória) hoje é algo supérfluo. E se calhar não há nada a fazer. Para quê ter memória se, sem ela, os autómatos fazem o que é exigido ao jornalismo(?) moderno?

Vem isto a (des)propósito das teses vigentes um pouco por todo o lado, nomeadamente nos areópagos da política portuguesa, que apontam para a necessidade de os jornalistas serem formatados consoante os interesses (económicos, políticos e similares) dos donos do Poder.

Se calhar, como me dizem ex-jornalistas que hoje são assessores, directores, administradores etc., o melhor era eu aceitar a derrota e na impossibilidade de os vencer, juntar-me a eles.

Seria com certeza uma boa opção. O mal está, digo eu, que só é derrotado quem deixa de lutar. E, pelo menos para já, tenho mesmo de afirmar que a luta continua.

E continua porque, ao contrário dos donos do poder, continuo a lutar para que a imprensa não seja o tapete do poder, tenha ele as cores ou a denominação social que tiver.

Em síntese, cito Hernâni Von Doellinger, um dos melhores Jornalistas portugueses: “O que é curioso é que o jornalismo acabou, pelo menos em Portugal, quando toda a gente começou a saber de jornalismo, a ser especialista, exactamente no momento em que todos são jornalistas, menos nós os encartados, os jornalistas antigamente ditos”.

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