CARTA ABERTA A TODOS OS ANGOLANOS

Eduardo Camavinga pode ensinar algo a Lionel Messi, Enzo Fernandez e à vice-presidente da Argentina, Victoria Eugenia Villarruel. Angola, um país multirracial, multiétnico e multicultural, e a nossa diversidade é um dos nossos maiores patrimónios. Quanto aos angolanos que ainda apoiam Lionel Messi mesmo depois de ter sido apanhado a entoar cânticos racistas contra jogadores negros da selecção francesa de futebol e contra o continente africano é porque não se respeitam. Ao ministro do desporto Rui Falcão peço que condene as declarações racistas da vice-presidente da Argentina. Não devemos idolatrar aqueles que nos desprezam.

Por Malundo Kudiqueba

Querido povo angolano, hoje escrevo esta carta movido por um sentimento de perplexidade e tristeza. Somos uma nação que sempre se orgulhou da sua diversidade, resiliência e capacidade de superar adversidades. No nosso quotidiano, buscamos inspiração em figuras que, de uma maneira ou de outra, representam ideais de excelência, perseverança e integridade.

Lionel Messi, o renomado jogador de futebol, tem sido um desses ídolos para muitos angolanos. O que está aqui em causa não é o talento do jogador mas a atitude do ser humano. Sempre disse e continuarei a reafirmar que Cristiano Ronaldo é melhor pessoa que Lionel Messi. Por outro lado, apelo ao ministro do desporto, Rui Falcão, para condenar publicamente as declarações racistas da vice-presidente da Argentina. O facto de Camavinga representar a selecção francesa de futebol não deve inibir ou condicionar o ministro de demonstrar ou expressar a sua solidariedade. Vou deixar aqui um conselho amigo ao ministro Rui Falcão: O seu silêncio poderá ter várias interpretações.

Vamos contextualizar os incidentes. Recentemente fomos surpreendidos por notícias perturbadoras: Lionel Messi e os seus colegas da selecção da Argentina foram apanhados a entoar cânticos racistas contra o continente Africano e contra os jogadores negros da selecção de França. Essa revelação força-nos a confrontar uma dura realidade e a questionar a natureza dos “nossos” ídolos. Como podemos admirar alguém que, de maneira tão flagrante, contradiz os valores de respeito e igualdade que tanto prezamos? Duvido que os angolanos consigam responder a esta pergunta.

Esta é a quarta vez que entoam cânticos racistas contra jogadores negros da selecção da França e contra o continente africano. Tal reincidência demonstra um padrão perturbador de comportamento que não pode ser ignorado ou minimizado. Como angolanos, e como parte integrante do continente africano, não podemos aceitar esse desrespeito contínuo.

O povo angolano deve respeitar-se e não apoiar pessoas que nos desprezam. Precisamos de ser firmes na nossa condenação e agir com coerência, escolhendo não venerar aqueles que, pelas suas acções, demonstram desrespeito pelos nossos valores e pelo nosso povo. A nossa dignidade e auto-estima não podem ser comprometidas em nome da admiração pelo talento desportivo ou por qualquer outro mérito superficial.

Enquanto alguns angolanos continuarão a apoiar e idolatrar Lionel Messi, eu serei solidário com Eduardo Camavinga e a todos os jogadores da selecção francesa vítimas de racismo. É nosso dever moral apoiar aqueles que são alvo de discriminação e lutar contra qualquer forma de racismo, onde quer que ocorra.

É importante que aproveitemos este momento para reflectir. O que significa ser herói afinal de contas? Precisamos de olhar além do brilho do talento e considerar o carácter de quem escolhemos admirar e seguir.

Infelizmente, a situação se agrava-se ainda mais quando figuras de autoridade, como a vice-presidente da Argentina, vem defender, apoiar e incentivar a atitude e o comportamento racista dos jogadores da sua selecção. Esta postura é inaceitável e profundamente preocupante. Quando líderes promovem ou justificam comportamentos discriminatórios, enviam uma mensagem perigosa que legitima o ódio e a intolerância. É imperativo que condenemos veementemente tais acções e exijamos responsabilidade daqueles que ocupam posições de poder.

É alarmante saber que esta não é a primeira vez que a selecção da Argentina se envolve em comportamentos racistas. Esta é a quarta vez que entoam cânticos racistas contra jogadores negros da selecção da França e contra o continente africano. Tal reincidência demonstra um padrão perturbador de comportamento que não pode ser ignorado ou minimizado. Como angolanos, e como parte integrante do continente africano, não podemos aceitar esse desrespeito contínuo.

Esta carta é um apelo para que reconsideremos as nossas escolhas de quem chamamos de heróis e que reforcemos o nosso compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Devemos lembrar que o verdadeiro valor de uma pessoa está na forma como ela trata os outros.

Que continuemos a buscar inspiração, mas com um olhar crítico e um coração voltado para a justiça e a igualdade.

Com esperança e determinação,
Malundo Kudiqueba

Nota: Todo o colectivo do Grupo Folha 8 subscreve esta Carta Aberta

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