A deputada do MPLA Lurdes Caposso Fernandes disse que Angola não pode ser um país de falácias. Mas olhe que é! Verdade, verdadinha! E o seu partido é o principal responsável por esta pouca vergonha institucionalizada. A Angola do MPLE é uma falácia completa!
Por Carlos Pinho (*)
Veja só algumas notícias mais recentes cujos títulos em páginas da internet angolanas eu recolhi. São cabeçalhos das últimas semanas:
– Finanças pede a ex-presidente do TC que devolva carro e casa;
– MPLA recomenda divisão da província de Luanda;
– PR aprova crédito adicional de 36,1 milhões USD para AN suportar despesas de funcionamento;
– Corredor do Lobito coloca Angola na rota do seu minério e confirma vazio na produção nacional;
– Corrupção afasta investidores da refinaria do Soyo;
– Falta de medicamentos e negligência aceleram morte em hospitais de Angola;
– Falta de financiamento dos hospitais públicos;
– Embaixadores em fim de missão recorrem ao partido;
– Ministra suspeita de nomear familiares na AGT;
– PR aprova 12 milhões USD para actualização do sistema de ar condicionado da nova sede da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis.
Ultimamente penso sobre o que poderia escrever sobre Angola. Tendo-me aposentado e retirado da vida académica, pensava eu que teria mais tempo e disponibilidade mental para tecer considerações sobre a terra onde nasci. Gostaria de vê-la a desenvolver-se e ser um exemplo para África e quiçá para o Mundo. Triste ilusão! O país vai de mal a pior. Morre-se de fome! Morre-se por falta de assistência médica. Morre-se por inacção governativa. Por isso quando leio sobre o que se passa em Angola, sobre a absoluta incompetência governativa do actual presidente só me apetece fazer como a avestruz, enterrar a cabeça na areia e ficar quietinho. Muito quietinho!
O país está na mão de uns quantos que o consideram propriedade pessoal e ignoram olimpicamente a grande maioria da população. Distribuem os cargos de governação e poder entre eles. O PR tem por principal passatempo, quando não está a passar férias no estrangeiro em estâncias caríssimas ou anda armado em diplomata de trazer por casa em simulacros de areópagos mundiais, exonerar e nomear parceiros de forrobodó. E ele e o seu governo prometem coisas grandiosas. Auto-estradas, investimentos em estratégias turísticas, industrializações fantasiosas, grandes reformas e investimentos em agricultura, acelerações digitais, enfim, uma avalanche de fabulosas realizações.
“Uma auto-estrada em Angola, com cerca de 1.400 quilómetros, a ligar o sul ao norte do país”. Para quê? O trânsito é assim tão elevado? E esta aventura irá custar, assim numa primeira estimativa, qualquer coisa como 2,5 mil milhões de dólares. Haja dinheiro!
“Investimentos públicos e privados de mais de 2,489 bilhões de kwanzas para executar o Plano Nacional do Turismo”. Deve ser para os turistas verem o povo a morrer à fome. Virão certamente vagas ou quiçá charters de sádicos das europas e das américas para ver a apagada e vil tristeza do povo angolano.
“Angola espera conseguir captar nos próximos anos cerca de 33 mil milhões de dólares em investimento directo estrangeiro para o sector agrícola revelou Ivan dos Santos, Secretário de Estado da Economia”. Sim? Já chegaram aos níveis de produção dos últimos anos do regime colonial português? Então para que raio querem tanto dinheiro? Ah! Já sei, é para o gamanço do costume. Acredito muito mais naquilo que o FIDA (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola) já fez em Angola, virado para as necessidades e formação da população, do que nestas parangonas cretinas. Corrijo, só acredito no FIDA!
Dizem os “especialistas” que Angola está a dar passos para uma – Agricultura 3.0. Pois, o problema é que o país ainda está na – Fome 1.0 -, na – Miséria 1.0 -, no – Analfabetismo 1.0-, na – Saúde 1.0 -, na – Justiça 1.0 – e – Etc. e tal 1.0 -, e todos esses especialistas e consultores que propõem estratégias extraordinárias estão com olho grande a avaliar quanto vão mamar. Será certamente a – Mama 3.0 – está visto. Diga-se em abono da verdade que pelo menos ouve um docente da UAN que pôs os pontos nos is. Angola está na – Agricultura 1.0 – e é desta que tem de se falar. Cá para mim alguém vai-lhe dar um puxão de orelhas!
Será que alguém me pode informar se a ex-presidente do TC devolveu o carro e casa? Isto faz-me lembrar uma história semelhante que ocorreu numa universidade do sul de Angola onde uma docente se recusava a devolver o carro oficial, estando ela a fazer uma pós-graduação em Portugal, ou seja, não estava em funções oficiais e por isso não precisava de viatura de serviço. O reitor de então chateou-se e bateu com a porta. Outro que teve coragem, mas infelizmente em Angola há pouca gente deste calibre.
Em suma, Angola é país de faz de conta, ou seja, numa falácia de país!
Depois queixem-se de que haja gente que tem saudades do tempo colonial, embora verdade seja dita que este número se vem reduzindo rapidamente graças ao maravilhoso Serviço Nacional de Saúde de Angola. Por isso é que ele é maravilhoso, vai tornando “verdadeiro” o discurso do MPLA. Os vindouros deixarão de ter a possibilidade do contraditório. Poderemos então dizer com toda a clareza que tal será mais uma vitória do MPLA.