O presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, denunciou hoje novos actos de violência contra membros de partido e alertou para a intolerância política e aumento da criminalidade originada pela pobreza e inércia das autoridades.
Adalberto da Costa Júnior, líder do maior partido da oposição que, a muito custo, o MPLA ainda permite, que falava numa conferência de imprensa em Luanda, alertou para os actos de violência que tiveram como protagonistas membros do partido, em menos de dois meses, incluindo um ataque a uma caravana de deputados no Cuando Cubango, disparos em Malanje e, mais recentemente, no Huambo, uma escaramuça numa palestra onde deveria ter participado.
Segundo o líder da UNITA – que foi substituído na ocasião pela vice-presidente do partido devido a uma sobreposição de agenda – houve uma confronto entre elementos da segurança e pessoas que se preparavam para entrar no local, porque estas vinham armadas com facas.
Realçou que é “com surpresa” que UNITA assiste a este tipo de práticas, que “não têm sido comuns”.
“Não deixa de merecer preocupação, de alerta para todos nós”, afirmou Adalberto da Costa Júnior, admitindo que seria “o autor anunciado da palestra”, ou seja, ele próprio, o alvo do ataque.
“Isto é novo, o facto de ocorrerem em sequência e não surgir formalmente nenhum processo visível de busca de responsabilidade”, reforçou, considerando que os comunicados públicos da Polícia Nacional são um incentivo à impunidade.
No caso de Malanje, em que uma viatura onde seguia um deputado da UNITA foi atingida a tiro, a Polícia Nacional afastou num comunicado a tese de atentado, mas que se tratava de uma tentativa de assalto que visava um comerciante que se encontrava nas proximidades.
“Estamos a viver num tempo que é novo, não é normal num país que se assume como Estado democrático e de direito começarmos a ter ilhas protegidas onde não é possível fazer a pluralidade, onde outros partidos políticos, que não o partido do regime, não podem ter actividade”, criticou o dirigente, acrescentando: “Isto atenta contra a vida de toda a gente”.
Questionado sobre se entrou em contacto com o MPLA (partido no Poder há… 49 anos), Adalberto da Costa Júnior adiantou que “a UNITA, enquanto instituição entrou em contacto com as outras instituições”, sem obter respostas “no plano prático, porque eles são também responsáveis pelas instituições que “não estão a cumprir o seu papel”.
O presidente da UNITA, que hoje apresentou testemunhos dos deputados que foram alvo dos alegados atentados, quis também fazer uma “radiografia sobre o estado de segurança” em Angola, focando-se na criminalidade e insegurança.
Apontou o aumento dos roubos, violência contra mulheres e crianças e homicídios e criticou a crise da Justiça, mostrando também preocupação com a feitiçaria e outras crendices fomentadas por algumas seitas religiosas que resultam muitas vezes em assassínios que ficam impunes.
“A nossa pobreza infelizmente é galopante e não tem recebido programas de combate por parte de quem governa”, frisou o dirigente da UNITA, citando medidas tomadas “sem qualquer diálogo social” como a retirada dos subsídios aos combustíveis ou a proibição recente de venda ambulante de vários produtos.
“Isto incentiva a criminalidade porque onde não há empregos, onde não há políticas de protecção ao cidadão ou à juventude, a consequência é o desespero que se instalou”, sublinhou o político.
Embora admita que a UNITA não está contra as medidas, Adalberto da Costa Júnior defendeu que o momento de “extrema miséria e desemprego”, é o “pior” para que sejam aplicadas porque “quem governa não salvaguarda os interesses do seu próprio povo”.
“Não há diálogo institucional”, lamentou, salientando que o “orgulhosamente sós tem imperado”.
Para Adalberto da Costa Júnior, quem está na cadeira do poder “está a transportar para Angola um estado de intolerância” e antidemocrático. “Tirem as amarras ao país, percam o medo, vamos fazer o poder local”, apelou.
No passado dia 25 de Abril, os deputados da UNITA exibiram cartazes no Parlamento condenando a “intolerância política” e o ataque de que a sua caravana parlamentar foi alvo na província do Cuando Cubango, lamentando o silêncio do Presidente angolano ante o “homicídio frustrado”.
Cartazes com os rostos de militantes feridos, na sequência do ataque a caravana de deputados da UNITA, em 12 de Abril na província do Cuando Cubango, foram exibidos no arranque da reunião plenária, facto que gerou um clima de tensão no plenário.
“Paz sem intolerância política”, “paz sem assassinatos” e “basta de assassinatos em tempo de paz” eram alguns dizeres estampados nos cartazes que os deputados da UNITA exibiram em pé, no meio de palavras de ordem como “assassinos”, protestando contra o ataque.
Liberty Chiyaka, presidente do grupo parlamentar da UNITA, na sua declaração política, no arranque da plenária, considerou os actos do Cuando Cubango como “mais um atentado à liberdade, à democracia e à paz”, sobretudo num mês em que o país comemorou 22 anos de paz e reconciliação nacional.
“Um atentado premeditado à vida e à integridade física dos deputados à Assembleia Nacional sem nenhuma palavra de condenação do Sr. Presidente da República, da senhora presidente da Assembleia Nacional, do senhor ministro do Interior e do senhor Comandante-Geral da Polícia Nacional”, questionou o político.
Para o líder parlamentar da UNITA, o ataque à caravana de deputados e militantes do seu partido foi um “homicídio frustrado perpetrado por milícias do regime (MPLA) e inscreve-se numa agenda contra o reforço e aprofundamento do Estado democrático e de direito em Angola”.
“Tratou-se, nitidamente, de um ato de intolerância política que visa instaurar, por meio de actos como aquele de deliberada violência, um clima de instabilidade em Angola (…), uma alteração constitucional da qual se possa instituir um terceiro mandato para o actual Presidente da República”, apontou.
O MPLA (no poder há 49 anos) demarcou-se destas acções, pela voz do seu secretário-geral, Paulo Pombolo, que negou incitações à violência e à intolerância política.
O assunto foi retomado e gerou alguns minutos de tensão entre deputados, ocasião que a presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, ameaçou mesmo suspender a sessão para travar os ânimos dos deputados da UNITA que protestavam em uníssono.
Carolina Cerqueira negou qualquer silêncio da direcção do Parlamento referindo que o gabinete de Comunicação e Imprensa do órgão legislativo emitiu, na ocasião, uma nota de protesto aos acontecimentos do Cuando Cubango e que esta telefonará ao líder parlamentar da UNITA manifestando solidariedade.
Liberty Chiyaka em resposta, em ambiente de tensão no hemiciclo, confirmou ter recebido ligações da presidente do parlamento e demais deputados do MPLA, referindo, no entanto, que o país esperava por um “posicionamento público” de Carolina Cerqueira.
Em relação à actual realidade social e económica do país, Chiyaka considerou que Angola vive “uma grave crise social e económica”, especificando que “a fome aumentou, a pobreza aumentou, o desemprego aumentou, a insegurança aumentou, a corrupção aumentou”, concluiu.