Um autocarro da empresa Gira Transportes, vocacionada para o transporte colectivo de passageiros, interprovincial, embateu, violentamente, contra um camião imobilizado, que se encontrava no sentido oposto da via, na madrugada desta sexta-feira, 29 de Março, por volta das 2h30’, na estrada Luanda-Porto Amboim.
Do acidente, até agora resultou a morte de dois passageiros, um no local e outro já na unidade hospitalar do Sumbe.
“Talvez o senhor que morreu no hospital, ainda estivesse vivo se fosse socorrido a tempo, mas infelizmente, no Porto Amboim não existe ambulância nem dos bombeiros e o que apareceu cerca de uma hora depois foi uma “kaleluia” (motorizada de três rodas). Francamente! Depois de um embate com tanta força, nós não temos, num município importante, um meio de socorro e, as pessoas, morrem mesmo assim”, afirmou Osvaldo Coimbra.
A empresa, até às 11H00, não se tinha pronunciado nem esteve em contacto com os passageiros, no sentido de os acalentar, prestar assistência e informá-los como concluirão a viagem.
“É uma verdadeira irresponsabilidade desta empresa. Nós seremos indemnizados ou não? Quem vai arcar com as consequências daqueles que ficarão com lesões permanentes? Tudo isso nós não sabemos nem nos dão qualquer tipo de informação. Até agora é tudo, praticamente, da nossa conta”, afirma um dos feridos.
O F8/TV8 tomou conhecimento que outros autocarros da mesma empresa (Gira Transportes), “pelo menos dois” passaram no local e nem sequer se dignaram socorrer os passageiros, tão pouco informar a direcção da empresa.
“Um dos motoristas da mesma empresa que mandamos parar rejeitou socorrer os feridos, mesmo o próprio colega, alegando não ter autorização para o fazer. Imploramos que era uma fase crítica mas nem assim o homem foi solidário. Apenas nos disse que estava a tentar ligar para a empresa, mas nenhum dos contactos da administração atendia e foi embora. Este foi o nosso drama”, explicou Osvaldo Coimbra.
Neste momento, com fome, sede e sem os pertences, alguns perderam tudo no embate, “pois enquanto uns tentavam socorrer os mais graves, outros começaram a roubar telefones e carteiras. É assim que muitos não têm nada. Nem 50,00 Kwz, para comprar uma água de saquinho”.
No hospital do Sumbe o drama continua, não estivéssemos em Angola, com dificuldades mil a serem imputadas aos feridos graves e sobreviventes, por falta de meios primários e fármacos, para um atendimento, não já de excelência, mas mínimo.
“O pessoal do hospital, incluindo os médicos estão a pedir-nos para ir comprar alguns medicamentos e material para poderem acudir, com mais eficácia, os doentes do acidente. O problema é que, também, não temos dinheiro, muitos inclusive, perderam o pouco que tinham”, lamenta Osvaldo Coimbra.
Para este sobrevivente, a situação “agrava-se para uns porque a Polícia e a empresa não estão a ajudar, pelo contrário, estão a complicar, como se não importássemos, como seres humanos”.
Mas, para este sobrevivente, o mais grave é o facto de “no meio da aflição para socorro dos feridos, em que tínhamos de pedir e apanhar boleia, uma passageira ao ser transportada avisou a um dos agentes policiais, que no autocarro, na sua pasta, havia dois milhões de Kwanzas para negócio e que eles deveriam ter em atenção. Infelizmente, momentos depois, a brigada que foi ao local, informa, que a pasta foi encontrada mas sem qualquer dinheiro. É estranho, pois nem na Polícia, em, estado de gravidade o cidadão pode confiar, porque nesta corporação existem muitos agentes desonestos”.
Mas o caricato não fica por aqui, mas quando uma funcionária da empresa Gira Transportes sem qualquer respeito pelo drama dos passageiros, os aborda por volta das 10h40, a perguntar se lhes poderia dar chá com pão e margarina. “Infelizmente, desde que sugeriu o tal matabicho, não mais regressou”, contam.
Se numa província plantada no litoral, como o Kwanza Sul, governada desde 1975, por membros do comité central do MPLA, hoje, por Job Capapinha, não foram criadas condições sanitárias mínimas, como vaticinar competência para a gestão de novas unidades territoriais?
A falência e má gestão crónica da administração pública, principalmente, nos sectores da Saúde e Educação, pese toda a publicidade da ministra Sílvia Lutukuta e Titular do Poder Executivo, João Lourenço. de aumento da oferta com a construção de novas unidades sanitárias, a verdade é de elas não atenderem à preocupação dos utentes, constituindo um verdadeiro atentado aos direitos fundamentais dos cidadãos.
“Eu tenho duas coisas a dizer: primeiro nunca mais viajo nesta companhia e exijo que a Gira Transportes, me pague o meu dinheiro do bilhete para eu prosseguir viagem e, depois, denunciar os maus serviços dos nossos hospitais, que muitas vezes ao invés de curarem as pessoas as deixam morrer, não tanto por culpa dos enfermeiros e médicos, mas falta de meios técnicos a funcionar e medicamentos. Se a família não tiver dinheiro para ir comprar na farmácia fora do hospital pode ter a certeza que o seu familiar vai mesmo morrer. Então esses hospitais só são para o povo, porque eles vão se tratar no exterior”, afirma Osvaldo Coimbra.
Na realidade, temos defendido, que em muitos países subdesenvolvidos e, principalmente, africanos, Angola não fugindo à regra, os ministros da Educação e da Saúde, que se tratem, clinicamente, e tenham os filhos a estudar no exterior, devem, por denegação de assistência médica e educação, ser levados às barras do tribunal e condenados por crimes contra a humanidade.
Este acidente do Porto Amboim é demonstrativo do descaso e da publicidade enganosa do Executivo de melhoria do sistema nacional de Saúde.