O general João Lourenço, Presidente de Angola, igualmente Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, reafirmou hoje “luta sem tréguas” contra a corrupção selectiva e denunciou que há “forças” que financiam pessoas, organizações e partidos políticos visando derrubar o MPLA (no poder há 48 anos) e que está “verdadeiramente empenhado” na luta contra o ADN identitário do seu partido, a corrupção.
Por Orlando Castro (*)
João Lourenço, que discursava na abertura da Reunião Ordinária do Comité Central do MPLA (partido no poder deste 1975 e cujo único herói nacional permitido em Angola, o genocida dos massacres de 27 de Maio de 1977, Agostinho Neto, foi seu Presidente) assinalou as reformas e medidas em curso no país para o fortalecimento e diversificação da economia.
“Entre essas medidas realçamos o combate corajoso contra a corrupção e a impunidade, ameaça considerada há anos como o segundo maior desafio do país depois da guerra. Numa altura em que se comemorou, a 9 de Dezembro, o Dia Mundial da Luta Contra a Corrupção é oportuno reafirmar aqui perante o partido, que nos incumbiu de o fazer, a nossa determinação de levar este combate avante”, disse João Lourenço.
Será que não poderia ter citado, como exemplo, o negócio de aviação do seu irmão, general Sequeira João Lourenço, nomeado por si este ano para o cargo de chefe adjunto da Casa Militar da presidência de Angola, e que comprou três aeronaves à Sonangol e se associou a algumas figuras do regime político em Kinshasa?
Em relação ao processo em curso de simulacro de combate à corrupção, o general João Lourenço criticou “conhecidas forças retrógradas da nossa sociedade” (uma crítica ao MPLA que, reconheça-se, só lhe ficou bem…) que, “ao invés de aplaudir e encorajar as instituições engajadas nesta luta sem tréguas preferem dizer que não se está a fazer nada”. De facto João Lourenço, que enquanto general presidente de um partido (o MPLA) é Comandante-em-Chefe das Forças Armadas que a Constituição diz que devem ser… apartidárias, tem razão. A (suposta) luta contra a corrupção está a ser o espelho fiel do que MPLA quer que ela seja.
O Presidente angolano disse também que os factos do combate à corrupção no país estão à mostra: “Porque afinal os actos da justiça a partir de determinada fase do processo passam a ser do domínio público”.
Este comportamento “visa distorcer a realidade dos factos enquanto ao mesmo tempo essas pessoas, organizações ou partidos políticos fizeram uma clara aliança com aqueles que durante anos utilizaram em grande escala o erário e bens públicos em benefício próprio”, realçou João Lourenço.
Recorde-se, em abono da virgindade de João Lourenço, que ele próprio reconheceu que (enquanto alto dirigente do MPLA e ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos) viu roubar, ajudou a roubar e beneficiou do roubo mas que, é claro, não foi ladrão. Ladrão são sempre os outros.
“E que hoje na tentativa de regresso ao passado dourado financiam a luta para derrubar o MPLA, partido político verdadeiramente empenhado na luta contra a corrupção”, vincou o discípulo e protegido de José Eduardo dos Santos que, aliás, foi dos mais acérrimos defensores dos negócios de Isabel dos Santos (nomeadamente nas reuniões do Conselho de Ministros)…
Perante aos membros do Comité Central, em reunião que decorreu no Centro de Conferências de Belas, em Luanda, o líder dos “camaradas” recordou igualmente os 67 anos de fundação do partido, assinalados em 10 de Dezembro.
“Foram 67 anos de luta pela causa do povo angolano durante os quais enfrentamos vários desafios, mas alcançamos também importantes vitórias com realce para a independência nacional, a vitória sobre os agressores estrangeiros e o alcance da paz definitiva”, sublinhou o “querido líder” João Lourenço, passando ao lado – entre outros – dos massacres ordenados em 27 de Maio de 1977 pelo seu eterno ídolo, Agostinho Neto.
A paz, disse o general presidente da República não nominalmente eleito, trouxe consigo o ambiente propício que “tornou possível o início do processo de reconstrução das principais infra-estruturas destruídas pela guerra”, que “continua em paralelo com a construção de novas e modernas infra-estruturas importantes para o desenvolvimento económico e social do país. Desenvolvimento bem visível, por exemplo, na criação de mais de 20 milhões de pobres e na ausência de cinco milhões de crianças do sistema de ensino.
João Lourenço afirmou também que o país (ele queria dizer reino) está hoje empenhado em construir de facto uma verdadeira economia de mercado, que dá primazia ao sector empresarial privado na produção de bens e serviços para o consumo interno e para a exportação, criando ao mesmo tempo maior oferta de emprego para os cidadãos angolanos no geral, em particular para os jovens.
Esqueceu-se de falar dos seus êxitos na criação de 500 mil em pregos (não confundir com “empregos”), bem como no aluguer de enxadas pelos agricultores do Bailundo, ou na promessa de quando fizer 50 anos de governação o MPLA colocará Angola a caminho do desenvolvimento conseguido pelos portugueses em 1973, desde logo com a obrigatoriedade de as couves serem plantadas com a raiz para baixo.
“Estamos apostados na diversificação da economia, mas para atrair os investidores que podem desenvolver dos diferentes ramos da economia estamos a realizar um conjunto de reformas políticas e económicas e um conjunto de medidas que têm como objectivo a criação de um bom ambiente de negócios”, escreveu o autor do texto que João Lourenço leu.
João Lourenço, que cumpre o segundo ano do seu segundo (e último) mandato à luz da Constituição do país, destacou também a recente “visita histórica e com grande sucesso” que realizou aos Estados Unidos da América (EUA) e o encontro com o “grande chefe branco”, o Presidente norte-americano, Joe Biden, referindo que daí devem advir grandes vantagens para o país.
Recordou igualmente que Angola comemora em 2025 os 50 anos de independência (mais exactamente da substituição dos colonialistas portugueses pelos colonialistas do MPLA), considerando ser este um acontecimento da mais alta política e histórica para a vida de Angola (do MPLA) e dos angolanos (do MPLA) e que merece por isso o envolvimento de toda a sociedade angolana na organização dos festejos alusivos à data.
Provavelmente o MPLA vai mandar reforçar o abastecimento dos hipermercados alimentares onde se abastecem, de forma gratuita, os 20 milhões de pobres. Qualquer semelhança desses espaços com lixeiras não é coincidência. É a realidade diária.
Internamente, exortou os dirigentes do MPLA a enraizarem mais o partido na sociedade, nos bairros, vilas, aldeias, organizações não-governamentais, sindicatos e ordem profissionais, igrejas, mas sem conotação partidária “para melhor entenderem as preocupações do povo”
“O que o povo espera de nós é, sobretudo, a nossa presença e a força da nossa palavra, da nossa mensagem sem necessidade de oferta de bens materiais necessariamente”, rematou… ao lado o dono do reino.
(*) Com Lusa
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