Os preços em Angola registaram uma subida de 18,19% em Novembro face ao período homólogo do ano passado, subindo 2,1% face aos valores de Outubro, anunciou hoje o Instituto Nacional de Estatística de Angola.
Segundo a nota do INE hoje divulgada, “a variação homóloga situa-se em 18,19%, registando um acréscimo de 2,95 pontos percentuais em relação à observada em igual período do ano anterior”, o que “comparando a variação homóloga actual com a registada no mês anterior verifica-se uma aceleração de 1,61 pontos percentuais”.
De acordo com o relatório, a classe da alimentação e bebidas não alcoólicas “foi a que mais contribuiu para o aumento do nível geral de preços, com 1,53 pontos percentuais durante o mês de Novembro”.
Relativamente a Outubro, o Índice de Preços no Consumidor Nacional “registou uma variação de 2,21%”, registando-se uma subida maior em Luanda, com mais 3,01%, num mês em que a província do Moxico teve a menor variação nos preços, com apenas 1,28%.
Segundo as análises e ensinamentos do economista Heitor Carvalho a variação de preços é apenas um sinal do estado do equilíbrio entre oferta e procura. As suas principais causas são as variações da moeda destinada a transacções (cujo factor mais óbvio é a variação da quantidade de moeda) ou da quantidade de produtos oferecidos num dado mercado (seja qual for a causa).
Em Angola, diz Heitor Carvalho, a principal causa da inflação é, contudo, a variação do rendimento petrolífero. Quando o rendimento petrolífero cresce, a oferta de divisas no mercado cambial aumenta, baixando a quantidade de Kwanzas necessária para comprar uma unidade de moeda externa. Os preços em Kwanzas baixam, fazendo crescer o volume das importações, o que aumenta a quantidade de produtos disponíveis, baixando os preços.
No entanto, simultaneamente, aumenta a procura de divisas no mercado cambial, o que actua em contraponto, até se alcançar um novo equilíbrio ou haver nova variação dos rendimentos petrolíferos, o que normalmente acontece primeiro. Quando os rendimentos petrolíferos baixam, o processo é quase exactamente o recíproco: aumento das taxas de câmbio, subida do preço em Kwanzas, redução das importações, escassez, menor procura de divisas no mercado cambial, até se restabelecer algum equilíbrio após fortes constrangimentos ao consumo, à produção (matérias-primas e serviços às empresas) e ao investimento.
Ao tentar controlar a inflação através da oferta monetária, o Banco Nacional de Angola é muito pouco eficaz para a estabilização estrutural dos preços. A inflação, como toda a economia, sobe e desce ao sabor dos preços do petróleo!
Enquanto a produção nacional decrescer face à procura e continuar dependente de um produto de exportação em fase de declínio da produção e com preços muito voláteis, uma política estritamente monetária pouco poderá fazer para travar a marcha inflacionária da economia.
O INE não consegue fazer reflectir a subida efectiva dos preços nos números da inflação. A total dissociação entre os números da inflação do INE e a realidade já vem de longe. Em Outubro de 2019, quando o USD valorizou 30% em simultâneo com a introdução do IVA, a maioria dos preços subiu mais de 50%, mas o INE reportou uma taxa de inflação de 1,6%, a subida mensal mais baixa entre Junho de 2019 e Março de 2022. Em 2022, o INE considerou que os preços da alimentação e bebidas não alcoólicas subiram 13,24%, quando, na verdade, desceram visível e significativamente.
Sabe-se que a inflação é sentida de forma diferente por cada pessoa e que variações de 1% ou 2% não têm forma de ser percebidas sem cálculo. Porém, quando estamos perante valores completamente diferentes dos sentidos por todos e efectivamente verificados em quase todas as transacções, torna-se impossível permanecer indiferente.
Registe-se, entretanto, que a consultora Capital Economics considera que a economia de Angola vai crescer 1,5% este ano e entrar em recessão no próximo ano, contraindo-se 0,5% devido aos efeitos da baixa produção petrolífera e depreciação do kwanza.
Os analistas da consultora afirmam que “a economia de Angola vai abrandar devido à combinação da baixa produção petrolífera e aos efeitos da recente queda do kwanza em 2024 e 2025”.
Os analistas da Capital Economics escrevem que “o Produto Interno Bruto deverá expandir-se apenas 1,5% este ano, seguido de uma contracção de 0,5% em 2024” e admitem que “as previsões estão bem abaixo do consenso dos analistas, que esperam crescimentos de 2,1% e 2,8% para este e o próximo ano”.
A nota, divulgada na sequência da revisão em baixa da previsão de crescimento do Governo, que aponta agora para uma expansão económica de 0,9%, lembra que a economia angolana cresceu 2,7% no último trimestre do ano passado e 0,4% no primeiro trimestre deste ano, e acrescenta que “é duvidoso que as coisas melhorem nos próximos trimestres”.
A redução no sector do petróleo e os atrasos nos investimentos nesta indústria “significam que a produção vai cair ainda mais, o que, juntamente com os preços mais baixos do petróleo face a 2022, causaram uma redução na balança corrente”, dizem os analistas, prevendo ainda que a inflação suba significativamente este ano.
A desvalorização do kwanza, que perdeu 40% do valor face ao dólar, a imposição de medidas de austeridade, incluindo o corte nos subsídios aos combustíveis, “vão empurrar a inflação para mais de 25% nos próximos meses”, estimam os analistas, que prevêem também que o banco central responda com uma subida de 300 pontos-base na taxa de juro directora, para 20%.
Relativamente aos pagamentos de dívida, que se tornam mais caros com a desvalorização da moeda, já que a maior parte da dívida é em moeda externa, a Capital Economics antevê uma subida do rácio da dívida face ao PIB, mas considera que “Angola vai conseguir evitar um ‘default’”, alertando, ainda assim, que “evitar um ‘default’ soberano será mais difícil se houver um súbito aperto das condições de financiamento externo ou uma queda nos preços petrolíferos”.
O enorme aumento da inflação (à revelia do MPLA e por obra e graça dos arruaceiros da Oposição), no segundo semestre deste ano, afectou a vida dos angolanos, sobretudo daqueles que para se “remediarem” têm no mercado informal a forma de garantir o seu sustento, mas os vendedores queixam-se do negócio. Enquanto isso, ao que consta, nas grandes superfícies alimentares criadas pelo MPLA para alimentar os 20 milhões de pobres (conhecidas por lixeiras) a inflação é… zero!
Também a desvalorização do kwanza, estratégica segundo os peritos dos peritos do MPLA, influenciou o aumento dos preços nos armazéns, a principal fonte de abastecimento dos pequenos comerciantes, que nos mercados, nas ruas, revendem os produtos e com os lucros satisfazem as suas necessidades básicas.
Para colmatar a situação, em estudo está também a aplicação de medidas macro e micro económicas específicas para fomentar a proliferação das ditas grandes superfícies alimentares, conhecidas por lixeiras.
Com a época festiva (a que só os clãs dirigentes do reino terão um merecido e digno direito) às portas, espera-se que se venha a acentuar o aumento dos preços, apesar de as autoridades (as tais que estão no Poder há 48 anos) garantirem que estão a ser implementadas medidas para se evitar a especulação. Estão já a ser preparados “outdoors”, que serão colocados à entrada das lixeiras, a dizer “Proibido especular”.