ÁFRICA, REVOLUÇÕES EM MARCHA

Sudão, Guiné Conakry, Burkina Faso, Mali, Níger, Gabão. E vão seis golpes de estado (sete se contarmos com os dois que aconteceram no Burkina Faso), todos idênticos: os militares a depor democracias fraudulentas.

Por Carlos Narciso (*)

Veremos o que fazem estes militares, se conseguem reorganizar as sociedades, se conseguem governar, se conseguem resistir às seduções ou às ameaças dos que ficam prejudicados com as alterações em curso.

Alguns dos novos líderes já tiveram oportunidade de transmitir carisma e força. Proferiram palavras que desagradaram às antigas potências coloniais que, mesmo depois de terem sido obrigadas a conceder independências às antigas colónias, permanecem lá explorando minérios, hidrocarbonetos e rotas comerciais.

Os novos discursos falam de uma nova independência. O papel da França, dos países ocidentais em geral, tem sido questionado, assim como a permanência de bases militares francesas nesses territórios.

No Burkina Faso, o capitão Traoré faz a revolução também com palavras: “o escravo que é incapaz de se revoltar contra o seu destino não merece que tenhamos pena dele.”

O novo líder do Burkina Faso parece saber o tamanho do desafio que decidiu assumir, quando diz que “os jovens da minha geração, devido à pobreza são obrigados a atravessar o mar para tentar chegar à Europa. Morrem no mar. Mas em breve deixarão de o fazer.”

Ele sabe bem que as empresas mineiras, as petrolíferas, têm uma influência considerável sobre as decisões de muitos governos do hemisfério norte, na Europa e na América. Portanto, sabe que não se pode distrair sob pena de não ver de que lado chega a porrada para o derrubar.

É por isso que estes novos governos, ideologicamente pan-africanistas, estão já a firmar acordos de defesa mútuos. Quem atacar um, ataca todos. Um aviso para Macron, que ameaça atacar se os interesses da França forem questionados. No Níger, as ameaças só serviram para enfurecer o povo.

África vive novos momentos de redenção. E não são apenas os neocolonialistas que receiam perder o pé. Também os regimes de outros países africanos minados pela corrupção, nepotismo e repressão, que ao longo de décadas apenas têm engordado senhores feudais. Ou seja, em África, quase todos.

Não será por acaso que, por exemplo, João Lourenço pediu atenção redobrada ao Serviço de Inteligência Externa (SIE).

“Acabámos de ser surpreendidos com alguma instabilidade, que, em princípio, reina aqui no país irmão muito próximo de nós, estou-me a referir à República do Gabão, portanto, por tudo isso, os serviços de inteligência externa têm que estar de olhos bem abertos a tudo o que se passa no mundo, sobretudo em termos de segurança, em termos de estabilidade dos países”, referiu o Presidente de Angola na tomada de posse da directora-geral adjunta do SIE, em 30 de Agosto.

Quem tem cu, tem medo.

(*) https://duaslinhas.pt

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