Pelo menos 20 jovens angolanos não regressaram ao país após a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, anunciou hoje a Igreja Católica angolana, observando que ainda se encontram em situação regular em Portugal até Setembro.
O bispo Belmiro Chissengueti, que coordenou a caravana angolana à JMJ Lisboa 2023, afirma que “em relação aos que não regressaram, à volta de 20, vale recordar que até ao mês de Setembro eles têm visto regular e com visto regular cada um é livre de voltar mais cedo ou mais tarde”.
Segundo o responsável, apenas no fim da vigência do visto dos cidadãos é que se poderá dizer que os angolanos, que permanecem em Portugal, “não vieram ou fugiram”.
“Uma vez que estão ainda em tempo útil dos seus vistos, apenas não regressaram com a delegação e pode ser que façam em tempo útil antes da caducidade dos seus vistos”, admitiu Belmiro Chissengueti.
Pelo menos 1.518 angolanos, residentes em Angola e na diáspora, estavam inscritos para participar na JMJ Lisboa 2023, que decorreu de 1 a 6 de Agosto, e a partir de Luanda embarcaram 518 peregrinos para o encontro com o Papa Francisco.
O bispo Belmiro Chissengueti, que falava em conferência de imprensa de balanço da II Assembleia Plenária Anual dos bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), confirmou que cerca de 20 jovens não regressaram a Angola.
De acordo com o prelado católico, a situação de permanência de um ou outro angolano em Portugal “não pode causar qualquer estranheza”, na perspectiva de “ter encontrado melhor ambiente de trabalho, melhor qualidade de vida”.
“Pois, a emigração é parte integrante da condição humana, a procura de melhores condições de vida faz parte da inconformidade da vida humana em relação ao sofrimento e na busca sempre de melhores condições de vida, que não as encontrando no lugar onde está procura onde pode realizá-las melhor”, salientou.
Belmiro Chissengueti considerou que estes não seriam os primeiros angolanos a ficarem em Portugal até, porque, argumentou, têm “nota de que não são só os pobres que emigram, estão lá [em Portugal] famílias inteiras à busca de melhores condições de vida, o que é normal”.
“Nós apelamos é, sobretudo, que se fizesse uma emigração correcta, aquela que por meio das oportunidades de trabalho oferecidas, fazer um bom contrato, ter um visto em condições para depois não se sujeitar aos caprichos dos empregadores”, rematou o também porta-voz da CEAST.
A II Assembleia Plenária Anual dos bispos da CEAST decorreu entre 23 e 28 de agosto na sua sede, em Luanda.
Os bispos católicos angolanos aprovaram, neste conclave, a mensagem pastoral do terceiro ano do Triénio da Criança (2023-2024) intitulada “A Integração da Criança na Igreja e na Sociedade” e a nota pastoral sobre a realidade social de Angola e São Tomé.
Aprovaram também a revisão pontual dos estatutos da CEAST, os estatutos da Rádio Ecclesia – Emissora Católica de Angola, e o respectivo conselho de gestão que será composto pelos bispos António Francisco Jaca (presidente), António Lunguieki Pedro (vice-presidente) e Maurício Camuto (1.º vogal). Constam ainda do novo conselho de gestão da rádio católica angolana o padre Augusto Epalanga (2.º vogal) e Edna de Carvalho (3.º vogal).
Recorde-se que a coordenação da delegação angolana para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) admitiu no dia 17 de Julho o “risco de fuga” de jovens que embarcam para Lisboa, apelando para “não partirem nesta aventura” porque “o sonho europeu já não é o mesmo”.
Terá sido em resposta a esse apelo que os 20 milhões de angolanos pobres, bem como os cinco milhões de crianças que estão fora do sistema de ensino, preferiram esperar – in loco – o paraíso prometido por João Lourenço.
Na altura, em declarações à Lusa, o director nacional da Pastoral Juvenil da CEAST, Armando Pio Alberto, disse: “O que estamos a fazer é transmitir a real situação do país onde vamos, o sonho europeu já não é o mesmo dos anos 90, dos anos 2000”.
O sacerdote católico afirmou que “quem vê cara, não vê coração” e que a organização “não consegue identificar essas vontades manifestas (de fuga) por que muitas são secretas”.
A Europa “passou por muitas mutações e, então, estamos a falar isso para os jovens que, sobretudo, nos dias de hoje a guerra na Ucrânia também encareceu a vida na Europa, o desemprego é uma realidade”, frisou.
“E não se pode viver na Europa sem ter um emprego, condições mínimas salariais, por isso é bom não se aventurarem, porque depois o sofrimento será maior, esta é a mensagem que nós passamos para que as pessoas criem consciência da realidade”, salientou.
Pelo menos 1.518 angolanos, residentes em Angola e na diáspora, estavam inscritos para participar na JMJ Lisboa 2023 e a partir de Luanda devem ter embarcado 518 peregrinos.
Recorde-se que no passado dia 12de Julho, o bispo católico angolano Maurício Camuto criticou que um grupo “que pensa ser iluminado” (ou seja, os donos do reino, a elite governativa do MPLA) e quer levar Angola avante “como se tivesse uma varinha mágica”, não consiga resolver os problemas do país, defendendo maior participação cidadã.
Embora estas verdades não alimentem fisicamente os nossos 20 milhões de pobres, são um alento espiritual para todos aqueles que continuam a tentar aprender a viver sem comer.
Em conferência de Imprensa, o bispo da diocese de Caxito, Maurício Camuto, afirmou, sem meias palavras: “Há essa necessidade de implementar a participação de todos os cidadãos, que não haja só um grupo que pensa ser iluminado para levar o país avante, estamos a ver onde é que chegámos por causa disso”.
Aludindo às autoridades que dirigem o país (há 48 anos nas mãos do MPLA), o bispo católico disse que este “pequeno grupo [de governantes] pensa ter todas as soluções, como se tivesse uma varinha mágica para resolver tudo”.
“E estamos a ver que não conseguem resolver”, realçou o também secretário-geral da CEAST, tendo defendido mais espaço para os cidadãos participarem na vida do país. Participarem na vida já que a morte, à fome ou por acção da Polícia Nacional do MPLA, está garantida.
“Que todos possam participar e dar o seu contributo político, social, programático para que ajudemos o país a sair da situação em que se encontra”, salientou o bispo que, assim, se colocou na linha de fogo das armas desses “iluminados” que, para além de terem o cérebro ligado aos intestinos, entendem que a razão da força (do MPLA) nunca será derrotada pela força da razão do Povo.
Folha 8 com Lusa
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