O Presidente do Brasil, Lula da Silvam inicia hoje uma visita oficial de dois dias a Angola com uma comitiva reforçada, e que inclui um fórum económico e encontros com o homólogo angolano e a comunidade brasileira. Também irá homenagear o maior assassino e genocida angolano, António Agostinho Neto, passando ao lado dos 20 milhões de angolanos pobres.
O programa oficial da visita de Luiz Inácio Lula da Silva inicia-se com a deposição de uma coroa de flores no sarcófago do assassino e primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, que mandou assassinar milhares (80 mil) de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977, seguindo daí para o Palácio Presidencial, onde terá um encontro com o chefe de Estado angolano, general João Lourenço.
Após a reunião dos dois chefes de Estado, serão assinados acordos em várias áreas de cooperação, nomeadamente nos sectores da agricultura, saúde, educação, sobre pequenas e médias empresas, processamento de dados na administração pública, transportes.
Da parte da tarde está prevista uma sessão solene na Assembleia Nacional e neste primeiro dia decorre um Fórum Económico entre Angola e Brasil, com a participação de 500 empresários e cujo encerramento contará com a presença dos dois presidentes.
No sábado, Lula da Silva vai inaugurar um novo espaço no Instituto Guimarães Rosa (Centro de Cultura Angola-Brasil) e encontrar-se com a comunidade brasileira residente em Angola, fechando o programa oficial da visita no Palácio Presidencial.
A comunidade brasileira em Angola ronda as 27 mil pessoas e é, de acordo com o embaixador brasileiro em Luanda, Rafael Vidal, “de longe” a maior em África.
A comitiva de Lula da Silva integra seis ministros – incluindo os da Saúde, Direitos Humanos, Igualdade Racial e Relações Exteriores -, a maior comitiva de sempre em visitas de Lula da Silva ao exterior, e 170 empresários brasileiros.
Lula da Silva deixa Luanda no domingo de manhã, partindo para São Tomé e Príncipe para participar na XIV Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Os ideólogos do regime do MPLA e os políticos brasileiros entendem, em grande parte por culpa nossa, que somos todos matumbos. E se por cá se fomenta o medo, a ignorância, o pensamento único, o mesmo não se pode dizer em relação ao Brasil. Custa, por isso, a entender que os dirigentes brasileiros estejam (ou digam estar) tão mal informados em relação a Angola.
Custa a crer, mas é verdade que os políticos brasileiros fazem tudo para procurar legitimar o que se passa de mais errado com as nossas autoridades, do MPLA, organização que está no Poder desde a independência.
Alguém ouviu alguma vez Luiz Inácio Lula da Silva dizer que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças? Alguém o ouviu dizer que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?
Alguém ouviu alguma vez Luiz Inácio Lula da Silva dizer que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade? Alguém o ouviu dizer que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?
Alguém ouviu alguma vez Luiz Inácio Lula da Silva dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos? Alguém o ouviu dizer que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?
Alguém alguma vez ouviu Luiz Inácio Lula da Silva dizer que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?
Alguém ouviu alguma vez Luiz Inácio Lula da Silva dizer que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres?
Ninguém ouviu. Dir-se-á, e até é verdade, que esse conivente silêncio é condição “sine qua non” para cair nas graças dos donos do dono do nosso país, até porque todos sabemos que nenhum negócio se faz sem a devida autorização do general João Lourenço.
O Brasil consegue assim não o respeito mas a anuência do regime para as suas negociatas. Esquece-se, contudo, de algo que mais cedo ou mais tarde lhes vai sair caro: o regime não é eterno e os angolanos têm memória.
E, de facto – não de jure -, as razões de Estado são uma espécie de albergue onde cabe tudo o que interessa, neste caso, ao Brasil, nem que isso seja um atropelo às regras de um Estado de Direito. Ou seja, permite que se lavre a sentença antes da averiguação dos factos. Primeiro mata-se e depois articula-se juridicamente os argumentos que sustentem esses assassinatos.
Num Estado de Direito uma das regras fundamentais é dar à política o que é política e aos tribunais o que é dos tribunais. Em Angola nada disso é assim. A promiscuidade é tal que, cada vez mais, os tribunais fazem a política ordenada pelo MPLA e a política (MPLA) investiga e dá sentenças. Em Angola a promiscuidade é ela própria membro activo do Poder do MPLA…
Folha 8 com Lusa
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